18 de outubro de 2024

Seca histórica isola comunidades ribeirinhas de Santarém, no PA, e modifica paisagens; VÍDEO

Lagos, canais e igarapés – braços dos rios Amazonas e Tapajós – desapareceram. Antes e depois do Lago Marimarituba, região de várzea do rio Amazonas, em Santarém
Luana Costa / Arquivo pessoal
Registros de enchente e vazante dos últimos 120 anos indicam que a região do baixo Amazonas enfrenta a maior seca de todos os tempos, com o nível do rio Tapajós chegando a – 0,02cm na terça-feira 915). Nesta quarta, em Santarém, oeste do Pará, o volume de água teve ligeira subida, com a régua da Agência Nacional das Águas (ANA) instalada no porto da Companhia Docas do Pará marcando 0,05cm, 61cm abaixo da marca dessa mesma data em 2023, quando o rio chegou a 66cm.
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A seca histórica tem modificado paisagens às margens dos rios Amazonas e Tapajós e Tapajós, que banham o município de Santarém, e também têm provocado o isolamento de comunidades, principalmente na região de várzea, onde lagos e igarapés – braços do rio Amazonas -, desapareceram.
Antes e depois da seca na comunidade Marimarituba em Santarém-PA
Para conseguir água potável, moradores de Marimarituba precisam caminhar aproximadamente 2km até o ponto onde as canoas estão atracando e de lá atravessar o que restou do lago com muita dificuldade devido ao baixo volume de água até a comunidade do Patacho, que fica na outra margem do rio Amazonas. (veja o vídeo do antes e depois da seca)
Na região do Arapixuna, o canal que recebe água do rio Amazonas, está com volume crítico. Em alguns pontos, onde antes existia um canal navegável, agora os moradores estão transitando em motocicletas em busca de água e alimentos. (veja o vídeo abaixo)
Motoqueiros trafegam em área onde era um canal
Em frente à cidade, no Canal do Jari, cujo lago é um braço do rio Tapajós, a atividade turística está prejudicada. O jardim de vitórias-régias, um dos principais atrativos turísticos do local em razão da beleza paisagística, desapareceu. As plantas morreram, não foi possível sequer coletar as sementes. A escassez de água aliada às altas temperaturas modificaram a paisagem do lugar.
Vitórias-régias no Canal do Jari: de cenário paradisíaco à paisagem desértica
Reprodução / Redes sociais
Seca prolongada
A preocupação nas comunidades ribeirinhas aumenta na mesma proporção em que os canais, igarapés e lagos vão secando, já que a previsão dos meteorologistas é de os rios Tapajós e Amazonas continuem baixando até o começo de novembro.
“As condições extremas de seca que estamos observando na bacia do Tapajós são, em parte, consequência do aumento das temperaturas globais e da alteração nos padrões de precipitação. Não há previsão de chuva pelo próximos dias”, explicou a meteorologista Lucieta Martorano. Segundo ela, há uma combinação de fatores climáticos que vêm intensificando a escassez de chuvas na Amazônia, afetando o regime dos rios.
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A seca tem causado impactos econômicos e sociais para as populações ribeirinhas, como a interrupção do transporte escolar fluvial e até da atividade pesqueira. As aulas para alunos da região do Tapará foram suspensas neste mês de outubro, porque as embarcações não conseguem mais chegar aos pontos onde embarcavam os alunos, e eles não conseguem percorrer longos percursos sob temperaturas de 35 a 40 graus.
“Hoje, pra gente pegar um peixe, está muito difícil, porque os lagos secaram”, comentou o aposentado Carlos Pereira, morador da região do Tapará, várzea do rio Amazonas.
E o receio de que a situação piore ainda mais é presente entre os ribeirinhos. “Nós temos que saber conviver com isso aí também. A seca mesmo ainda está pra frente, que é novembro. Repare bem como é que tá. Chuva, parece que está muito longe. Então, a gente tem que saber o que vai fazer”, disse o pescador Messias Rego, do Tapará.
Ajuda humanitária
Em Santarém, a Coordenadoria Municipal da Defesa Civil já cadastrou mais de 10 mil famílias ribeirinhas que estão em situação de vulnerabilidade devido à seca histórica.
Organizações como o Projeto Saúde e Alegria e a Fundação Lucas Huber, um braço da Paz Church International, estão mobilizando campanhas de arrecadação de alimentos, água, roupas e outros itens para doação às famílias afetadas pela seca na Bacia do Tapajós.
Na terça-feira (15), a Defesa Civil e Corpo de Bombeiros Militares do Estado do Pará, iniciaram a entrega de cestas com alimentos e água potável para 5.500 famílias que residem na região ribeirinha de Santarém.
Governador Helder Barbalho acompanhou entrega de cestas de alimentos e água mineral para ribeirinhos no Arapemã, em santarém
Agência Pará / Divulgação
A entrega foi realizada no barracão comunitário da comunidade Arapemã durante visita do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), que foi ver de perto a situação da seca naquela região.
“Estamos aqui nesta comunidade do Arapemã para poder atender as famílias cadastradas com as cestas de alimento, com água potável, com um gesto para que estas pessoas possam ter tranquilidade neste momento de garantir alimento na mesa, garantir com que as famílias possam se alimentar”, ressaltou o governador.
Das 5.500 cestas, 3 mil foram destinadas a igual número de famílias atingidas pela seca na região. Outras 2.500 são para famílias impactadas pelos efeitos climáticos das queimadas.
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