No sábado (31), nível do rio atingiu -1,4 metro, dez centímetros a menos que a medição do dia anterior, conforme a estação de monitoramento da Agência Nacional de Águas. “Nunca vi uma seca assim”, diz pescador de 42 anos que vive na região. Seca AM 2024 em Tabatinga
Reprodução/Rede Amazônica
Agricultores, pescadores e a população que depende do transporte fluvial em Tabatinga, no interior do Amazonas, estão enfrentando uma crise. Na sexta-feira (30), a o alto Rio Solimões alcançou um o nível mais baixo já registrado na história. No sábado (31), o nível caiu ainda mais, chegando a -1,4 metro, dez centímetros abaixo da medição do dia anterior, conforme dados da estação de monitoramento da Agência Nacional de Águas.
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A régua de medição é monitorada diariamente pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB) desde o fim da década de 70. O número está atualmente negativo, ou seja, abaixo da régua de medição. Os dados apontam que esta é a maior seca, pelo menos, dos últimos 40 anos na região.
Conforme a Defesa Civil, a estiagem antecipada já afeta 309.776 pessoas em todo o Amazonas, que também enfrenta os impactos das queimadas. No último dia 28, o governo estadual ampliou um decreto situação de emergência para todos os 62 municípios do estado (antes, apenas 20 estavam em emergência).
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Com a falta de chuvas e o nível cada vez mais baixo de rios, lagos e igarapés, a agricultora Maria Lenise, que vive em Tabatinga, teme pelo futuro de suas plantações. Ela precisa vender o que ainda resta antes que tudo se perca.
“A vida na minha comunidade está difícil. Não chove há três meses e nossas plantações estão morrendo. Esta seca está acabando com a gente”, lamentou.
Agricultora Maria Lenise teme pelo pior em suas plantações devido seca do Rio Solimões.
Roney Elias/Rede Amazônica
De acordo com o SGB, com a previsão de chuvas abaixo do esperado para as próximas duas semanas, o cenário no Alto Solimões pode se agravar ainda mais.
O pescador Benedito Catique, que atua na região há 42 anos, afirma nunca ter visto uma seca tão severa como a deste ano.
“Nunca vi uma seca assim no nosso Amazonas. Está realmente seco. O rio está quase seco, os lagos estão secando, e temos que caminhar mais de 40 minutos para conseguir pescar”, relatou.
Pescador Benedito Catique afirmou que nunca tinha visto uma seca tão impactante como a deste ano no Rio Solimões.
Roney Elias/Rede Amazônica
O vice-presidente da associação de taxistas fluviais de Tabatinga, Aladino Ceita, anunciou um aumento no preço da passagem fluvial. Antes da seca, a travessia custava R$ 40, mas agora subiu para R$ 70, devido ao aumento da distância percorrida pelos barqueiros.
“Precisamos aumentar o preço porque estamos contornando uma ilha. Antes, gastávamos três latas de gasolina; agora, são sete latas e meia. Quando o nível do rio subir, voltaremos ao preço anterior”, explicou.
Para atender as famílias afetadas, o governo estadual informou que instalou 25 purificadores de água, dos quais 10 foram destinados à calha do Alto Solimões, e também enviou 100 caixas d’água para melhorar o acesso à água potável na região.
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Seca histórica no Rio Solimões
No Amazonas, o Rio Solimões é dividido em três trechos, chamados “calhas”:
Alto Solimões: A “porta de entrada” do rio no Brasil, onde foi registrada a menor cota já observada.
Médio Solimões: A região intermediária que o rio atravessa.
Baixo Solimões: A parte final do percurso do rio antes de chegar a Manaus.
A seca na parte alta do rio sugere que, nos próximos dias, as águas possam baixar gradativamente nas outras regiões.
Nas últimas 24 horas, o nível do rio caiu mais 10 centímetros. Na sexta-feira, a cota registrada foi de -0,94 metro, e neste sábado atingiu -1,4 metro na cidade de Tabatinga, na calha do Alto Solimões.
Imagens mostram impactos da seca no Rio Solimões no AM
A estiagem é tão severa e fora do comum que o Serviço Geológico Brasileiro precisará ir ao local na próxima semana para instalar uma nova régua capaz de medir até -2 metros, algo inédito.
As duas piores marcas já registradas no Alto Solimões ocorreram ao final do processo de vazante dos rios:
2010: 11 de outubro, nível de -0,86 metro.
2023: 23 de outubro, nível de -0,76 metro.
Rio Solimões, em Tabatinga, interior do Amazonas, atinge menor cota já registrada na história
Divulgação
A escassez de água está gerando sérias complicações para grande parte da população local e pode até isolar completamente alguns municípios, como Benjamin Constant e Atalaia do Norte.
Embora as duas cidades estejam conectadas por terra, elas dependem do Rio Solimões para receber remédios, alimentos e outros suprimentos. Segundo Ricelly Dacio, secretário-executivo de Defesa Civil de Benjamin Constant, esse caminho está prestes a secar completamente.
Seca revela ruínas históricas da coroa portuguesa
A severa seca no Rio Solimões revelou um tesouro arqueológico do Amazonas: as ruínas do Forte São Francisco Xavier de Tabatinga. Situado na margem esquerda do rio, abaixo do terminal hidroviário da cidade, o forte, construído no século XVIII, foi crucial para a consolidação do domínio português na região durante a disputa territorial com a Espanha.
O forte, que desempenhou um papel estratégico na defesa contra as expedições espanholas, estava escondido no fundo do rio, mas agora, com o baixo nível das águas, as ruínas voltaram a aparecer.
Ruínas do Forte São Francisco Xavier de Tabatinga são reveladas com a seca do Rio Solimões
Roney Elias, Rede Amazônica
O Rio Solimões é uma das principais bacias do Amazonas e banha 24 cidades do estado. Mais especificamente, o Alto Solimões abrange nove municípios que totalizam cerca de 260 mil moradores.
O Solimões nasce, na verdade, fora do Brasil, mais precisamente no Peru. Em território peruano recebe o nome de Rio Marañón, que é proveniente de uma geleira situada na Cordilheira dos Andes a mais de 1.600 metros de altitude. Por isso, o nível do rio depende diretamente das chuvas na região dos Andes e é afetado diretamente pelo derretimento atípico gerado pelas mudanças climáticas
Junto do rio Amazonas, forma a maior bacia hidrográfica do mundo. A bacia formada por todo o Amazonas, que compreende o rio Solimões, compreende uma área de mais de 7 milhões de km².
*Com informações de Rôney Elias, da Rede Amazônica