20 de novembro de 2024

Secretaria Nacional do Consumidor dá 4 meses para empresas de tecnologia se adaptem a novas regras para anúncios no Brasil

Em diversos países, o uso de redes sociais em ações criminosas aumentou a discussão sobre a necessidade de regulamentação das plataformas digitais. Empresas de tecnologia têm 4 meses para se adaptem a novas regras para anúncios no Brasil
A Secretaria Nacional do Consumidor deu prazo de quatro meses para que as empresas de tecnologia se adaptem a novas regras para os anúncios que elas veiculam no Brasil. Em diversos países, o uso de redes sociais em ações criminosas aumentou a discussão sobre a necessidade de regulamentação das plataformas digitais.
O lado obscuro das redes sociais está cada vez mais na mira da Justiça no mundo todo. Promotores americanos do estado da Virgínia, por exemplo, investigaram a Meta, dona do Facebook e do Instagram, meses atrás, por facilitar a venda ilegal de drogas na internet. Eles identificaram nas redes sociais anúncios de produtos ilícitos que driblam a inteligência artificial da empresa, responsável por identificar e bloquear conteúdos impróprios. Um porta-voz da Meta afirmou que a empresa trabalha com as autoridades para combater esse tipo de atividade e que quadruplicou o tamanho das equipes que trabalham com segurança desde 2016.
A professora Marie Santini é diretora do NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É um laboratório de pesquisa e estudo de internet e redes sociais. Ela explicou que, quando os anunciantes compram espaço nas plataformas, eles escolhem detalhadamente o público que querem atingir.
“Esse ambiente das plataformas digitais ficou muito atraente para o crime organizado, porque você consegue, de alguma forma, cometer um crime dentro da plataforma, escolher a vítima ideal, que vai ser mais vulnerável. E você consegue estar protegido pela plataforma, porque você fica protegido pelo anonimato. Essas plataformas não deixam explícito e nem é público quem anunciou e não verificam quem são essas pessoas ou organizações. Então, vira um ambiente muito propício e até muito seguro para todo tipo de crime na internet”, afirma Marie Santini, professora e diretora do NetLab/UFRJ.
As gigantes da tecnologia recebem milhões de dólares dos anunciantes todos os anos. Em janeiro de 2024, o fundador da Meta, Mark Zuckerberg, foi ao Congresso Americano. O senador republicano Josh Hawley, do estado do Missouri, apresentou dados divulgados por funcionários do Facebook:
37% das meninas entre 13 e 15 anos admitiram que foram expostas a nudez na rede social em uma semana;
24% disseram que receberam ofertas sexuais.
Sentados atrás do empresário estavam dezenas de parentes de jovens que morreram de overdose depois de adquirir drogas no Facebook. Mark Zuckerberg se desculpou:
“Sinto muito por tudo que vocês passaram. É terrível. Ninguém deveria passar pelas coisas que suas famílias sofreram”, disse – mas defendeu que seria errado regulamentar as redes sociais.
Falta de legislação sobre conteúdo dos anúncios nas redes sociais gera ambiente inseguro para as mulheres, mostra pesquisa
Nos Estados Unidos, os legisladores têm buscado formas de responsabilizar as empresas de tecnologia pelo que é anunciado em suas plataformas. No Brasil, a Secretaria Nacional do Consumidor e o Ministério da Justiça também estão agindo. A Senacon entendeu que há uma relação direta de consumo entre os usuários das redes sociais e as big techs e que, por isso, o Código do Consumidor deve ser aplicado.
A Secretaria publicou 95 normas para as redes sociais. As empresas vão ter quatro meses para se adaptar e terão que divulgar quem são os anunciantes, o que publicaram, quanto pagaram, qual foi o público-alvo e se a imagem foi gerada por inteligência artificial. Tudo isso em português e com fácil utilização para que todos possam ter acesso.
O professor da Universidade de Virgínia, David Nemer, destacou a importância de que esse primeiro passo seja seguido por um segundo:
“As big techs ficaram grandes e poderosas demais para que os próprios usuários pudessem ter qualquer tipo de efeito e demandar mudanças nelas. Por exemplo, de falar: ‘Se não houver uma mudança, nós vamos sair’. Se saírem 10 mil, 20 mil usuários, para as plataformas que têm bilhões de usuários, isso não importa. Hoje, só o Estado, devido ao seu poder e seu tamanho, pode, sim, domar as big techs. Então, a solução número um, ou seja, para começar a pensar nas soluções mais eficazes, é justamente pensar em regulação. Não há qualquer caminho para a frente de empresas mais justas ou que respeitem os contextos locais e as redes locais sem qualquer tipo de regulação específica”, afirma David Nemer, professor da Universidade de Virgínia.
“As plataformas sabem tudo sobre nós. Elas sabem absolutamente todos os detalhes. Que horas a gente acorda, o que a gente consome, o que a gente conversa, o que a gente faz e o que a gente não faz, e a gente não sabe nada sobre elas. A gente não sabe nada sobre o que elas fazem com os nossos dados e a gente não sabe nada das relações que elas têm com os intermediários que se relacionam conosco, como consumidores, como usuários e como cidadãos. Então, é muito importante a regulamentação nesse sentido, para a gente tornar essas relações mais seguras, sem, em nenhum momento, em nenhuma situação, limitar a liberdade das pessoas ou dos negócios. Não tem absolutamente nada a ver com isso”, diz Marie Santini.
LEIA TAMBÉM
Na Câmara, entidades e especialistas debatem regulamentação do ambiente digital; parlamentares defendem regras para redes sociais
Pacheco diz que regulamentação das redes é ‘inevitável’: ‘Não é censura, são regras’
Regulamentação não acaba com o ódio nas redes sociais, mas pode conter alguns efeitos mais extremos, analisa Pablo Ortellado

Mais Notícias