17 de novembro de 2024

Seis casos suspeitos de intoxicação por consumo de moluscos são registrados em Peruíbe, SP

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, apesar da suspeita, não houve internações na cidade litorânea. Mexilhão
Pixabay/Imagem ilustrativa
A Prefeitura de Peruíbe, no litoral de São Paulo, registrou seis casos suspeitos de intoxicação pelo consumo de moluscos bivalves, como mariscos, mexilhões e ostras, nos últimos dias. O município é um dos quatro onde técnicos do governo de SP encontraram alta concentração de microalgas tóxicas com potencial de contaminação no início do mês. O governo estadual proibiu a venda dos moluscos no dia 12 de agosto e, nesta semana, voltou a liberar a venda em todo o litoral paulista.
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A informação foi confirmada ao g1, nesta quarta-feira (21), pela Secretaria Municipal de Saúde de Peruíbe. De acordo com a Vigilância Epidemiológica, essas intoxicações não resultaram em internação dos pacientes. A prefeitura não informou quando os casos foram registrados.
O governo estadual havia publicado, em 12 de agosto, um comunicado proibindo o consumo e a venda dos animais, de estabelecimentos provenientes de Peruíbe, Itanhaém, Praia Grande e Cananéia, produzidos a partir de 30 julho.
Por isso, a Vigilância Sanitária de Peruíbe realizou vistorias nos restaurantes e estabelecimentos que comercializam frutos do mar nos dias 14 e 16 de agosto. Três comércios tiveram estoques de moluscos bivalves interditados de forma cautelar.
Os demais estabelecimentos vistoriados tinham produtos de outras regiões, como Fortaleza, Santa Catarina ou Chile. Ou, ainda, os estoques eram de data anterior à proibição.
De acordo com nota técnica, divulgada pelo governo estadual na última terça-feira (20), caberá aos grupos de Vigilância Sanitária estadual e municipal inutilizar os produtos interditados cautelarmente em cumprimento à primeira determinação.
O g1 entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo para mais informações sobre a situação na cidade, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem.
Liberação em Cananéia
Área dentro da Reserva Extrativista do Mandira, no Quilombo Mandira, em Cananéia (SP)
Sidnei Coutinho
O governo estadual anunciou, na terça-feira (20), a liberação do consumo e venda de moluscos bivalves em Cananéia, no litoral paulista, após novas análises. Segundo o governo de SP, a orientação vale para os cultivos produzidos a partir de 13 de agosto e regularizados pelo órgão competente da Agricultura.
“A pasta permanece realizando coletas periódicas em áreas onde há cultivos cadastrados junto à Coordenadoria de Defesa Agropecuária e os produtores devem realizar seu cadastro junto à unidade da CDA mais próxima para adesão ao plano de monitoramento”, diz nota enviada ao g1.
Em outros locais, não serão realizadas novas coletas porque não há registro de viveiros cadastrados e as praias da região permanecem liberadas para a entrada na água.
Resultados
A decisão ocorreu após a Defesa Agropecuária fazer uma nova coleta de água e moluscos, na terça (13) e quarta-feira (14), em diversos pontos do litoral de São Paulo. As amostras dos canais Porto Cubatão e Itapitangui, em Cananéia, por exemplo, foram analisadas em um laboratório de referência de Santa Catarina.
A avaliação que resultou na liberação segue uma portaria do Sistema de Defesa Agropecuária (SDA) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), de setembro de 2023, além do PEMMOBI.
Segundo laudo, obtido pelo g1, em Itapitangui, não foram detectadas a presença de ácido domóico e toxinas equivalentes a azaspirácidos nas amostras. Já para o ácido ocadaico, cujo limite era de 160, o resultado foi 117,5. No Porto Cubatão, o resultado para as primeiras duas toxinas deu negativo e, para o ácido ocadaico, 46,2.
“A ingestão de ácido ocadaico é relacionada à síndromes diarréicas, náuseas, vômitos e dor abdominal a partir de 30 minutos a algumas horas após a ingestão. O tratamento térmico – cozinhar, congelar, ferver – não elimina a toxina, e a presença dela não causa alterações organolépticas, cheiro, gosto e cor nas ostras e mariscos”, explicou Ieda Dalla Pria Blanco, coordenadora do Programa Estadual de Sanidade dos Animais Aquáticos (PEMMOBI).
De acordo com ela, “[o resultado] significa que os animais absorveram toxinas produzidas pelas microalgas, mas ou já depuraram um pouco ou não absorveram o suficiente para que a contaminação chegasse ao nível crítico, que pode causar agravos à saúde humana”, disse ela.
Segundo ela, outra informação importante é que as contaminações podem vir de outras fontes, como bactérias no cultivo, na manipulação dos alimentos no preparo e até transporte ou acondicionamento. Com os níveis encontrados nas amostras, porém, não há risco à saúde.
🐟 Por que os moluscos? E os peixes?
Ostras
Pixabay/Imagem ilustrativa
O biólogo William Rodriguez Schepis explicou que a intoxicação ocorre porque os moluscos filtram a água e são sésseis, ou seja, estão fixados em alguma superfície. Existem alguns peixes que também são filtrantes, mas eles acabam nadando para outro local e se afastam, o que permite evitar a contaminação.
“Eles estão ali filtrando a água de forma constante e acabam ingerindo, tendo contato com esses dinoflagelados que produzem essa toxina. É por isso que só esse tipo de organismo filtrante, séssil, que acaba sendo impactado pela maré vermelha”.
Ao g1, o biólogo Alex Ribeiro salientou que os moluscos são considerados produtores na cadeia primária de fornecimento de alimento. “Eles consomem microrganismos por meio de filtração. Então, a ostra, o mexilhão, sururu… todos esses bivalves são animais filtradores”.
Segundo ele, nesse primeiro momento, não é necessário ter preocupação com o consumo de pescados. Somente alguns animais específicos, como a estrela-do-mar, se alimentam dos moluscos bivalves. Dessa forma, é pouco provável que os peixes consumidos pelo homem diariamente estejam contaminados pela ingestão dos invertebrados.
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