Segundo episódio da série falou sobre inundações na Baixada. Série Gerações: família de Duque de Caxias convive com enchentes há 30 anos
As enchentes foram o tema, nesta quarta-feira (21) do segundo episódio da série “Gerações”, do RJ2, que mostra gerações de moradores do estado do Rio que convivem com os mesmos problemas, que podem ser atenuados por eleitos nas próximas eleições municipais.
O telejornal conheceu uma família em Duque de Caxias que enfrenta as enchentes há três gerações. Na cidade da Baixada, metade das casas está em áreas com alto risco de alagamento.
“A gente se preocupa. Não me preocupo só comigo, mas como com meus vizinhos também que tem a casa mais baixa de que a minha hoje em dia. De todas essas casas, foram contadas no dedo as casas que não encheram nessa rua. A gente já perdeu muita coisa aqui. muita gente já perdeu. muita coisa mesmo.”, diz a dona de casa Conceição de Barros Lima, que já teve a casa inundada.
São três décadas vivendo no bairro São Bento, em Duque de Caxias. Dona Conceição e o marido chegaram nos anos 90. Vieram os filhos e os netos. Três gerações da mesma família que vivem sob a mesma ameaça.
“Eu tô com 60, meu marido tá com 66, a gente não tem mais idade pra começar tudo do zero porque a gente perdeu tudo, entendeu?”, lamenta ela.
Casado com a filha de dona Conceição, o motorista de caminhão Wedson Ferreira vive a mesma realidade, a duas casas dali.
“Já acordamos com água dentro de casa, fomos dormir com água dentro de casa, entendeu? Minha sogra, conforme você viu lá, perdeu tudo. A casa dela teve que ser toda reformada. A minha encheu. Os vizinhos aqui, tivemos um que ajuda o outro a levantar as coisas. Difícil demais, muito difícil”, lembra.
Para tentar amenizar o problema, Wedson construiu um segundo andar na casa: “Nosso refúgio, meu, da minha sogra, da minha cunhada. Todo mundo ficou lá. O único lugar que tinha pra gente ir era esse mesmo e minha sogra já tinha perdito tudo mesmo. Foi o refugio q tivemos”.
Aos 11 anos, filha de Wedson e neta de Conceição, Jamile já conhece o sentimento que a família tem há décadas morando ali. “Fiquei muito nervosa com medo de enchente, dormi uns tempos lá em cima na minha casa”, lembra.
Para Júlio César da Silva, do departamento de Engenharia Sanitária da UERJ lembra que vários gestores já deram contribuições insuficientes para resolver o problema:
“Se a gente voltar no passado, cada um dos gestores q passaram por aqui tem contribuição negativa em relação a isso. A gente não pode também dizer q não houve investimento, óbvio que houve. Mas o investimento tem duas coisas problemáticas: não contece na magnitude que deveria, mas também não acontece na velocidade que deveria acontecer. Então, a gente pode dizer q vários gestores, vários prefeitos da vida útil de Caxias contribuíram negativamente com isso”.
400 mil moradores em risco
O município de Duque de Caxias nasceu em 1944, há exatos 80 anos. Quinze anos depois, os temporais já estampavam as páginas do jornal “A luta democrática”. “Novas enchentes em Duque de Caxias com bairros inundados”, dizia uma manchete.
Desde a fundação da cidade, foram 30 mandatos de prefeitos. Alguns nomeados por períodos curtos por interventores federais. Mais tarde, outros tantos eleitos pelo voto popular. Pela Câmara Municipal, já passaram centenas de vereadores, mas a solução ainda não veio.
A cidade fica em uma região de baixada, muitas moradias (como a da Dona Conceição) ficam perto dos rios — que estão sujos — e a água não tem pra onde escoar.
Na cidade de mais de 800 mil moradores, metade das casas está em áreas com alto risco de alagamento.
São milhares e milhares de pessoas que vivem com essa preocupação, segundo levantamento da Casa Fluminense.
A cada nova eleição, a esperança de começar a reverter essa situação. Não é fácil, nem rápido, mas quem entende do assunto garante que tem solução.
“Acho q são duas coisas importantes q a população tem que se atentar: programa de habitação e programa ou plano de saneamento. São coisas que andam casadas, os eleitores têm que cobrar do gestores que não só apresentem bons projetos de habitação, como bons planos municipais de saneamento, mas também implantem isso. A gente sabe que isso não é implantado de uma forma rápida. A gente não faz saneamento em quatro anos. A gente não faz uma solução de habitação em quatro anos, mas a gente precisa começar”, observa Júlio César.
O eleitor de Duque de Caxias vai às urnas em outubro pra escolher prefeito e vereadores. São eles os responsáveis por mudar esse cenário.
Ao prefeito cabe elaborar e executar tanto o programa de habitação, quanto o plano de saneamento. Ele também deve controlar o ordenamento urbano: isso significa impedir construções em áreas de risco.
E, se for necessário, desapropriar casas que colocam a vida de seus moradores em risco, escolher locais seguros e batalhar pela construção de moradias populares, sem contar a limpeza dos rios.
Já os vereadores podem e devem ajudar na elaboração dos projetos de habitação e saneamento. O plano diretor — que é o principal instrumento do planejamento urbano da cidade — também passa pela câmara.
Mas um trabalho tão importante e menos conhecido é a fiscalização do que faz o prefeito. Eles devem ficar de olho se as promessas estão sendo cumpridas. Pra isso, existem comissões temáticas.
Pro assunto das enchentes, por exemplo, as de meio ambiente e saneamento. De lá, devem sair propostas práticas pra melhorar a vida dessas pessoas.
O recado vale não apenas pros eleitores de Caxias. As enchentes também ameaçam construções de moradores de várias outras cidades, em dimensão maior ou menor.
Magé (66,6%)
Guapimirim (48,4%)
Paracambi (46,9)
Mesquita (42,4%)
Rio bonito (41,2%)
Cachoeiras de macacu (39,9%)
São joão meriti (34,2%)
A solução para todos que moram em áreas em risco também passam pelas eleições.
“Não existe uma solução única e não existe uma solução definitiva. O que acontece é investimento em projetos que vão ser executados a curto, médio e longo prazo. E aí você vai desde uma retirada, desapropriação dessas pessoas dessas áreas mais de risco, onde realmente já estão em regiões onde não tem o que fazer, tem que retirar as pessoas colocando em regiões mais seguras”, diz Julio Cesar, acrescentando que a dragagem de rios, construções de barragens e educação ambiental também são necessárias.
“A gente espera q os governantes olhem pra gente aqui porque a gente precisa, é comunidade? É esperar que eles olhem pra nós, que limpem mais os rios, o que é essencial para essas coisas não acontecerem mais”, finaliza Wedson.