4 de março de 2025

Sete pessoas desaparecem todos os dias no ES; maioria é adolescentes entre 12 e 17 anos


2.604 pessoas desapareceram em 2024 em todo o Espírito Santo, segundo dados da Secretaria Segurança Pública e Defesa Social (Sesp). Saiba como registrar o caso e ajudar a polícia a localizar desaparecidos. Família de Bryan Santos Brambrati, jovem de 17 anos que desapareceu em Vila Velha, no Espírito Santo, em 2024
Reprodução/TV Gazeta
Em todo o ano de 2024, 2.604 pessoas desapareceram no Espírito Santo, o equivalente a sete registros por dia, em média. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) e também mostram que a maioria dos desaparecidos são adolescentes entre 12 a 17 anos, o que representa 19,9% do total dos casos.
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O último Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, mas que foi divulgado no ano passado, mostrou que o estado segue entre os seis primeiros com o maior número de desaparecidos em todo o país, sendo o estado da Região Sudeste com a maior taxa pelo segundo ano seguido.
O Espírito Santo fica atrás do Distrito Federal, Roraima, Rondônia e Rio Grande do Sul e Mato Grosso, com uma taxa de 63,3%. Isso significa que são, em média, 63,3 ocorrências de pessoas desaparecidas para cada grupo de 100 mil habitantes.
Pessoas desaparecidas
Ainda de acordo com a Sesp, o número de desaparecimentos registrados em 2024 representou 5% de aumento em relação ao ano anterior: em 2023, foram 2.483 casos de desaparecidos.
Um dos motivos para esse número elevado de desaparecimentos, segundo a polícia, está relacionado ao envolvimento com o tráfico de drogas, incluindo dos casos de adolescentes.
Segundo o delegado titular da Delegacia Especializada de Pessoas Desaparecidas (DEPD), Luiz Gustavo Ximenes, outro motivo pode estar relacionado com o esquecimento de algumas famílias de darem baixa nas ocorrências mesmo depois da pessoa ter sido encontrada.
“No caso de desaparecimento de crianças e adolescentes, a taxa é alta muitas vezes por causa de conflitos familiares e problemas com as drogas. Então, já pensando nisso, a gente trabalha em cooperação com o Conselho Tutelar, para que ele acompanhe cada caso”, relatou.
Para o delegado, a tecnologia tem ajudado no trabalho para encontrar os desaparecidos, e cada detalhe que a família lembre é essencial na hora de fazer a ocorrência.
“É fundamental reforçar que as famílias não precisam esperar 24h de desaparecimento para registrar a ocorrência. Assim que a pessoa desaparecer, a família precisa ir até a delegacia mais próxima e fazer um boletim com o máximo de informações, todos os detalhes possíveis. E depois ir para a Delegacia de Pessoas Desaparecidas, e de lá começa a investigação. Hoje, a gente analisa as imagens de câmera de segurança, de videomonitroamento, redes sociais, entra em contato com as empresas também. Tudo para ajudar a coletar o maior número de informações que ajudem a encontrar a pessoa”, relatou.
Perfil dos desaparecidos
Os dados da Secretaria de Segurança Pública do ES apontam que a maioria dos desaparecidos no estado são homens (59,6%) e pardos (42,90%).
Os jovens representam a maior parte dos desaparecidos, com 19,9% dos casos entre 12 a 17 anos e 10,3%, entre 18 a 24 anos.
A Região Metropolitana de Vitória concentra o maior número de desaparecidos, com 1.534 casos, seguido da Região Norte, com 421; Região Sul, com 274; Noroeste, com 226; e Serrana, com 149.
Do total dos desaparecidos, apenas 445 pessoas foram localizadas, o que representa 17,1% dos casos. Desses, 408 foram encontrados vivos.
Apenas na Grande Vitória, foram registradas 455 casos de desaparecidos e a polícia localizou 395 pessoas, ou seja, mais de 80% dos casos foram solucionados.
Mais do que números
Fica sem notícias do parente que está desaparecido é angustiante. Um sentimento que a família do Bryan Santos Brambati, 17 anos, vivencia desde o dia 23 de novembro de 2024, quando o jovem foi visto pela última vez. Câmeras de segurança de um bar registraram o adolescente em um bar em Vila Velha, na Grande Vitória.
Bryan Santos Brambrati, de 17 anos, desapareceu em Vila Velha, no Espírito Santo, em novembro de 2024, e não foi mais visto pela família
Reprodução/TV Gazeta
Depois disso, ele não foi mais visto. O pai do adolescente, Antônio Carlos Ribeiro, relembrou os últimos momentos com o filho.
“Ele trabalhou comigo naquele dia e depois disse que ia cortar o cabelo. Eu e a mãe dele fomos para um show e, por volta das 22h, até conseguimos falar com ele por chamada de vídeo, mostramos que estávamos curtindo o show. Depois, voltamos para casa e, no dia seguinte, ele não estava mais lá. Ligamos e ele não atendia e começou a bater o desespero”, narrou o pai.
Na época, moradores do bairro São João Batista, onde ele cresceu, fizeram um ato pedindo informações.
“A DHPP de Vila Velha recebeu algumas informações e compareceu ao local localizado em Vila Velha, mas não logrou êxito em localizar o corpo do adolescente Bryan. Mas nós conseguimos identificar todas as pessoas que estavam no bar e estamos fazendo as oitivas com elas. Todas essas testemunhas estão sendo intimadas e as investigações continuam para que a gente possa localizar o paradeiro dele”, disse o delegado Luiz Gustavo Ximenes.
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A Polícia Civil reforçou que as investigações e as diligências da Delegacia Especializada de Pessoas Desaparecidas (DEPD) estão em andamento, porém, até a última atualização da reportagem, ele não foi localizado.
A família contou que o jovem trabalhava e sonhava em ser DJ.
“Ele trabalhava comigo como ajudante de pedreiro e queria voltar para a escola e terminar os estudos. Ele tocava com parentes e dava o jeito dele. Hoje, a gente quer se mudar porque minha esposa está sofrendo demais. No início, chegava muita informação e a gente ia em tudo quanto é lugar, Cariacica, Viana… A gente dormia e escutava qualquer barulho e já levantava, tendo esperança de que era ele chegando em casa ou alguém com a notícia de que encontrou ele. Hoje, as informações diminuíram, e o sentimento que fica é de impotência, porque eu vejo minha mulher e minha filha chorando, mas não sei mais o que fazer. A gente só queria pelo menos saber o que aconteceu, dar um enterro digno pra ele”, desabafou o pai.
Mais casos
Outros casos de desaparecidos repercutiram no estado. Em agosto de 2024, dois irmãos de 14 e 15 anos que estavam desaparecidos em Linhares, no Norte, foram encontrados mortos em um terreno baldio.
Irmãos adolescentes João Francisco de Azevedo Costa e Estevão de Azevedo Costa foram assassinados em Linhares, Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
“Meu filho começou a receber algumas mensagens de WhatsApp, uma ligação, chamando ele para ir em algum lugar. E quando foi 20h30, ele pegou um Uber e falou: ‘mãe, eu vou ter que ir aqui rapidinho, mas eu já tô voltando, deixa o portão encostado para mim. Meu outro filho mais novo quis ir também, falou assim: ‘já que é pra ir rapidinho, eu vou também’, e entrou no carro. E os dois foram, e eles não voltaram mais”, relatou a mãe.
A perícia da Polícia Civil foi acionada e os peritos constataram que um dos adolescentes tinha oito perfurações por arma de fogo na cabeça, e o outro, cinco. Ninguém foi preso.
Já em setembro, uma mulher trans de 27 anos saiu de casa em Alegre, no Sul do estado, e seu corpo foi encontrado carbonizado dois meses depois em Guaçuí.
O laudo da Polícia Civil apontou que Beydi Eleotério Gonçalves morreu por causa das queimaduras, não havia sinais de agressões ou perfurações de armas de fogo. Nenhum suspeito foi preso.
Corpo da jovem trans Beidy Eleotério Gonçalves, de 27 anos, foi encontrado carbonizado em Guaçuí. Espírito Santo
Reprodução
Em todos os casos de desaparecimentos, informações que possam auxiliar no trabalho de investigação podem ser passadas de forma sigilosa por meio do Disque-Denúncia 181 ou pelo disquedenuncia181.es.gov.br, onde é possível anexar imagens e vídeos de ações criminosas. Também é possível passar informações diretamente à equipe de investigação da delegacia, pelo telefone (27) 3137-9065, ou indo pessoalmente à unidade.
Como denunciar um desaparecimento
As informações sobre pessoas desaparecidas podem ser encaminhadas à polícia por meio do Disque-Denúncia, no telefone 181.
Os casos também podem ser comunicados com o registro do boletim de ocorrência em qualquer delegacia da Polícia Civil.
De acordo com a Polícia Civil do Espírito Santo, não é necessário esperar 24 horas desde o desaparecimento para registrar uma ocorrência, como explica o titular da Delegacia Regional de Linhares, delegado Fabrício Lucindo.
“O quanto antes procurar a delegacia de polícia, registrar a ocorrência, trazer a foto do desaparecido e todas as informações que possam levar a polícia a encontrá-lo” destacou.
A corporação garante que, assim que a ocorrência é registrada, as investigações já são iniciadas.
“A Polícia Civil tem vários recursos de inteligência, várias modalidades de investigação em que a gente consegue, em muitos casos, esclarecer e localizar as pessoas que estão desaparecidas”, afirmou Lucindo.
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