Trump anunciou na terça que fechará agência governamental, que é responsável por cerca de 40% de toda a ajuda humanitária aplicada no mundo. Elon Musk chamou órgão de ‘ninho de vermes’. O que é a USaid, agência americana que Musk disse que quer fechar
O site da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês) voltou ao ar nesta quarta-feira (5) apenas com uma nota de despedida. Trump afirmou na terça que fechará a agência, responsável por cerca de 40% de toda a ajuda humanitária aplicada no mundo, após ser criticada por Elon Musk.
Todos os funcionários não essenciais da agência humanitária serão postos de licença a partir das 11h59 de sexta-feira no horário de Washington D.C., 1h59 de sábado no horário de Brasília, segundo a nota da agência.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou nesta terça-feira (4) que vai fechar a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês). O órgão é responsável por cerca de 40% de toda a ajuda humanitária no mundo.
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A medida representa uma vitória para o bilionário Elon Musk, que anunciou na segunda-feira (3) a intenção de encerrar os trabalhos do órgão. Atualmente, Musk está comandando o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês).
Ao assinar decretos no Salão Oval da Casa Branca, nesta terça-feira, Trump disse que Musk está fazendo um bom trabalho e que a USAID está repleta de fraudes.
O presidente não especificou quais irregularidades existem na agência.
Criada no auge da Guerra Fria, a USAID coordena e distribui toda a ajuda dos Estados Unidos enviada para situações de conflitos ou emergências pelo mundo.
Só em 2024, a USAID respondeu por nada menos que 42% de toda a ajuda humanitária do mundo rastreada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A USAID foi idealizada pelo ex-presidente John F. Kennedy durante a Guerra Fria para ampliar a presença dos EUA no mundo e combater a influência soviética. Mais recentemente, a agência também concorria com a crescente influência do programa de ajuda externa da China, o “Belt and Road”.
Em 1961, Kennedy assinou uma ordem executiva estabelecendo a USAID como uma agência independente — ou seja, que não está submetida a uma secretaria de governo, que responde diretamente ao presidente. A Nasa e a CIA são outros exemplos de agências independentes.
As agências independentes possuem mais autonomia em relação à Casa Branca para definir suas prioridades e manejar seus orçamentos, apesar de pertencerem ao braço Executivo do Estado.
Desde o início deste ano, no entanto, a USAID tem sido um dos alvos de ataques de Trump contra órgãos do governo norte-americano.
“A USAID é administrada por um bando de lunáticos radicais. E estamos tirando todos de lá”, disse Trump a repórteres na noite de domingo (2).
Recursos
Fachada da sede da USAID, a agência de ajuda humanitária dos EUA, em 1º de fevereiro de 2025.
Annabelle Gordon/ Reuters
Com mais de 10 mil funcionários, a USAID também o maior doador individual do mundo.
No ano fiscal de 2023, os EUA destinaram por meio da agência um total de US$ 72 bilhões (cerca de R$ 420,7 bi) em ajuda humanitária para diversas áreas, incluindo saúde feminina em zonas de conflito, acesso à água potável, tratamentos para HIV/AIDS, segurança energética e combate à corrupção.
Os EUA são de longe o maior doador do planeta de ajuda humanitária — ainda assim, o país gasta, anualmente, menos de 1% de seu orçamento em assistência estrangeira, valor proporcionalmente menor do que diversos países.
Apesar de ser um ator importante no financiamento de ações humanitárias no mundo, a USAID nunca agiu de forma totalmente independente. Ela frequentemente atuou de forma controversa, sendo acusada de operar em colaboração com a CIA e até na desestabilização de governos de outros países.
Em 2002, uma comissão do governo do Peru concluiu que a USAID ajudou a financiar uma política de esterilizações forçadas de mulheres indígenas durante o governo de Alberto Fujimori, nos anos 1990.
Argumentos de Musk
Segurança revista caixas da USAID, maior agência humanitária dos EUA que Elon Musk quer fechar.
Fernando Vergara/ AP
Elon Musk defendeu o fechamento da USAID afirmando que a agência é um “ninho de vermes”.
“Temos que nos livrar de tudo, está além de qualquer conserto. Vamos fechá-la”, disse Musk durante uma transmissão de áudio ao vivo no X.
Ele afirmou que o presidente dos EUA, Donald Trump, concordava que a agência deveria ser fechada. O site da USAID saiu do ar no fim de semana. Contas do órgão nas redes sociais também foram suspensas.
No domingo, o governo Trump removeu dois altos funcionários de segurança da USAID durante o fim de semana, após tentarem impedir representantes do DOGE de acessarem áreas restritas do prédio do órgão, segundo três fontes ouvidas pela agência de notícias.
Após esse episódio, Musk chamou a USAID de “organização criminosa”.
“A USAID é uma organização criminosa. É hora de acabar com ela”, afirmou em resposta a um comentário no X no domingo.
Congelamento de ajuda externa
Donald Trump suspende liberação de trilhões de dólares em assistência do governo dos EUA.
Na semana passada, Trump já havia ordenado o congelamento global na maioria dos fundos de ajuda externa dos EUA como parte de sua política “EUA em primeiro lugar”, o que já está causando impacto em diversas partes do mundo.
Hospitais de campanha em campos de refugiados na Tailândia, remoção de minas terrestres em zonas de guerra e medicamentos para milhões de pessoas com doenças como HIV estão entre os programas em risco de serem eliminados.
Musk estimou que o governo Trump poderá reduzir o déficit dos EUA em US$ 1 trilhão (cerca de R$ 5,84 trilhões) no próximo ano.
Ele afirmou, por exemplo, que “quadrilhas estrangeiras de fraude profissional” estão roubando grandes quantias ao se passarem por cidadãos digitais falsos dos EUA. Musk não apresentou evidências para sustentar sua afirmação nem explicou como chegou ao valor mencionado.