20 de outubro de 2024

Sócio do PCS descartou supostas ‘evidências’ no dia que caso saiu na imprensa, diz técnica presa

Jacqueline Iris Bacellar, cuja assinatura aparece em um dos laudos que atestaram que os doadores de órgãos não tinham HIV, disse aos investigadores que Matheus Bandoli Vieira, sócio do PCS, guardava documentos do laboratório em sua empresa. Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, um dos sócios do PCS Lab Saleme
Reprodução/TV Globo
Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, um dos sócios do laboratório PCS Saleme, investigado por exames errados que levaram à infecção pelo vírus HIV em seis pacientes transplantados, descartou supostas vidências sobre o caso no dia que a imprensa revelou o problema, segundo uma funcionária da empresa.
Essa afirmação foi feita, em depoimento à Polícia Civil, pela técnica em análises clínicas Jacqueline Iris Bacellar de Assis, cuja assinatura aparece em um dos laudos que atestaram que os doadores de órgãos não tinham HIV. Ela foi presa na última terça-feira (15) após se entregar na Delegacia do Consumidor, na Cidade da Polícia, Zona Norte do Rio.
Segundo a funcionária, Matheus arquivava documentos do PCS Saleme na sede de uma outra empresa, a MSTBViera Serviços de Tecnologia Ltda. Jacqueline afirmou aos investigadores que provas sobre o caso investigado podem ser encontradas no local.
“A empresa MSTBViera, que pertence a Matheus Vieira arquiva tudo do laboratório e na sua sede podem ser encontradas supostas evidências, embora a declarante (Jacqueline) tenha ciência que por ordem de Matheus muita coisa foi descartada a partir de sexta-feira”, dizia o depoimento de Jacqueline.
Matheus é filho de outro sócio do laboratório PCS, Walter Vieira, que também está preso. Ele é médico ginecologista e responsável técnico do laboratório, além de ser signatário de um dos laudos errados.
Pai e filho são tio e primo, respectivamente, do deputado federal Doutor Luizinho (PP), que era secretário estadual de saúde do RJ durante o processo de contratação.
Walter Vieira
Reprodução/TV Globo
O Ministério Público está investigando a contratação do PCS-Saleme pelo governo do estado. Os procuradores querem apurar se houve irregularidade na licitação para contratar o laboratório envolvido em infecção por HIV de transplantados.
Até o momento a Justiça determinou a prisão temporária de quatro dos suspeitos de envolvimento no caso. São eles:
Walter Vieira: é sócio do PCS Lab Saleme, médico ginecologista, responsável técnico do laboratório e signatário de um dos laudos errados. Vieira também é tio do deputado federal Doutor Luizinho (PP), que foi secretário de Saúde do RJ no ano passado.
Ivanilson Fernandes dos Santos: técnico de laboratório contratado pelo PCS para fazer análise clínica no material que chegava da Central Estadual de Transplantes.
Jacqueline Iris Bacellar de Assis: auxiliar administrativa que trabalhava no PCS Lab Saleme e cuja assinatura aparece em um dos laudos que atestaram que os doadores de órgãos não tinham HIV.
Cleber de Oliveira dos Santos: Cleber é biólogo e técnico de laboratório contratado pelo PCS para fazer análise clínica no material que chegava da Central Estadual de Transplantes.
Todos eles são investigados por: crime contra as relações de consumo; associação criminosa; falsidade ideológica; falsificação de documento particular; e infração sanitária.
Apesar de ser um dos investigados, Matheus Vieira não teve nenhum mandado de prisão contra expedido pela Justiça.
“Nesse primeiro momento, o matheus não foi alvo. Nós investigamos o processo de colheita dos exames e a parte operacional. Todas as pessoas com mandado estavam ligados a essa cadeia, no que diz respeito à elaboração dos laudos”, explicou o secretário estadual da Polícia Civil do RJ, Felipe Curi.
PCS emitiu dezenas de falso negativo para HIV, diz MP
O laboratório PCS Lab Saleme, apontado pela Polícia Civil como responsável pelo erro que provocou a infecção por HIV em seis pacientes após o transplante de órgãos infectados, já emitiu dezenas de resultados com falso positivo e falso negativo para HIV, inclusive para crianças.
Essa foi a análise feita pela promotora de justiça Elisa Ramos Pittaro Neves, na representação feita pelo Ministério Público (MP) e enviada à Justiça nesta quinta-feira (17).
Presos os quatro investigados ligados ao laboratório PCS Saleme
Reprodução/TV Globo
“Insta salientar que os investigados e o respectivo laboratório PCS Lab Saleme já emitiram dezenas de resultados com falso positivo e falso negativo para HIV, inclusive em exames de crianças, respondendo a inúmeras ações indenizatórias por danos moral e material”, escreveu a promotora.
Segundo ela, a “reiteração dessa conduta demonstra total indiferença com a vida e a integridade física e psicológica de seus clientes, e da população como um todo”.
Na tarde desta sexta-feira (18), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), aceitou o pedido feito pelo MP e prorrogou a prisão dos investigados.

Mais Notícias