19 de setembro de 2024

SOS Mulher: a violência contra as mães e o impacto nos filhos; ‘tive que explicar para uma criança de 2 anos’

A Lei 14.713, de 2023, proíbe a guarda compartilhada de filhos nos casos em que é constatado o risco de violência doméstica ou familiar. SOS Mulher: os impactos da violência nos filhos das vítimas
“Foi complicado porque era difícil pra gente, ainda mais para explicar para uma criança de dois aninhos”.
O relato é de Celia Regina, que teve que acolher a sobrinha após sua irmã, Lorrany Thalia, de 21 anos, ser brutalmente assassinada na frente da filha, dá a dimensão do impacto que o ciclo de violência contra a mulher provoca às crianças.
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Segundo a psicóloga Karla Bonfim, passar por situações de violência como essa causam vários prejuízos que atingem várias áreas do desenvolvimento das crianças, desde o desenvolvimento social, o emocional, psicológico, e também traz prejuízos na área da educação e da saúde.
“Na escola também vai refletir, com prejuízos no rendimento escolar, a falta de concentração e também uma perda da memória”, explica a psicóloga Karla Bonfim.
Violência que atinge a vítima, amigos, familiares…
Lorrany Thalia tinha 22 anos quando morreu vítima de feminicídio
Reprodução/TV Clube
Além dos filhos, os amigos e familiares também são afetados pelo ciclo de violência que a cada duas horas e meia uma mulher sofre no Piauí. Talia Chaves, amiga de Lorrany Thalia, conta que horas antes do feminicídio da amiga, a jovem havia pedido ajuda para Talia.
“No dia do ocorrido, eu recebi uma mensagem dela de manhã, mas eu só vi a mensagem a noite. E depois o crime aconteceu, eu não acreditei porque eu tinha falado com ela um dia antes. Eu entrei na nossa conversa e foi quando eu vi que tinha uma mensagem dela falando ‘Oi, tá aí, preciso conversar uma coisa urgente com você’ e eu não vi”, lamentou.
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A prima de Lorrany, Mayara Ravenna, ficou surpresa ao saber do assassinato, pois não acreditava que o ex-marido da prima pudesse matar alguém, “por ser doce e gentil com todos”. Contudo, Mayara contou que ele era extremamente ciumento com Lorrany.
Em novembro de 2020, Antuniel Alves de Sousa, acusado de matar a companheira em maio de 2019, foi condenado a 20 anos de reclusão pelo Tribunal do Júri.
Lei proíbe guarda compartilhada em casos de violência doméstica
Talia Chaves, amiga de Lorrany Thalia
Reprodução
Para proteger as crianças que presenciam a violência e, em muitos casos, são usadas como iscas pelos agressores, que aproveitam as visitas para agredir as companheiras a legislação brasileira tem avançado. A Lei 14.713, de 2023, proíbe a guarda compartilhada de filhos nos casos em que é constatado o risco de violência doméstica ou familiar.
Ainda que não recebam diretamente os tapas, os socos, os murros ou qualquer outro tipo de agressão, os filhos que presenciam a violência também são afetados. Podem desenvolver traumas difíceis de serem curados e o pior, correm o risco de naturalizar essas atitudes e de se tornarem futuros agressores.
“Psicologicamente, essa criança vai ter uma predisposição para ter uma ansiedade e uma depressão, um isolamento. Ela também vai adquirir uma insegurança, medo. Ela vai ter dificuldade para fazer as atividades, vai começar algo e não vai concluir”, destaca a psicóloga Karla Bonfim.
Romper o ciclo de violência
Essa lei deu suporte para Maria (nome fictício) romper o ciclo da violência. Ela foi agredida nos dois últimos relacionamentos, durante seis anos. A mulher conta que tentava se restabelecer de uma violência quando foi acolhida por um homem que jurou protegê-la, mas depois fez o mesmo. “Eles projetam a culpa toda na mulher”, disse Maria.
Uma das agressões sofridas por Maria foi presenciada por sua filha de 8 anos.
“Ela disse, na hora que começou a briga, que colocou a mão no rosto e não olhou mais. Só depois que eu estava caída no chão e ele tinha fugido, ai ela ficou do meu lado. Ela não queria sair do meu lado de jeito nenhum”, afirmou a mulher.
Quebrar o ciclo da violência é um ato de coragem, de auto defesa e também de proteção para os filhos. Uma decisão difícil, mas necessária para que a mulher possa seguir seu caminho livre, independente e feliz.
SOS Mulher
A SOS Mulher, campanha da Rede Clube que tem como foco o combate à violência contra as mulheres, chega a sua 2ª edição em 2024 com a proposta de discutir, apoiar e buscar maneiras de ampliar a rede de proteção à mulher.
Nesse sentido, a Rede Clube produzirá, em todos os seus veículos, reportagens especiais sobre o panorama da violência, as relações de poder, a violência em todas as classes sociais e, principalmente, os caminhos para pedir socorro.
Como denunciar e buscar ajuda?
As mulheres vítimas de violência podem denunciar e buscar ajuda nos seguintes canais:
Disque Direitos Humanos: telefone 100;
Aplicativos: botão de pânico do Salve Maria;
“Ei, mermã! Não se cale!”: protocolo de atendimento emergencial (0800-000-1673);
Guarda Maria da Penha (Guarda Civil Municipal de Teresina): telefone 153 ou mensagem (86 3221-3499);
Central de Atendimento à Mulher: telefone 180;
Polícia Militar: telefone 190, Patrulha 24h (86 99528-3835) e mulheres que possuem medidas protetivas (86 99414-8857);
Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM): confira telefones e endereços na matéria;
Qualquer delegacia de Polícia Civil.
SOS Mulher: o impacto da violência nos filhos das vítimas; ‘tive que explicar para uma criança de 2 anos’
Reprodução
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Segundo a Polícia Civil do Piauí (PC-PI), os agentes receberam uma denúncia anônima de que um caminhão da limpadora de fossas estaria descartando os dejetos u próximo às casas de várias famílias.

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