27 de dezembro de 2024

‘Sunny’ é a melhor série que você não está vendo

Rashida Jones consegue sua melhor atuação em adaptação de livro que mistura luto, yakuza, robôs e comédia; leia análise do g1. “Sunny” é uma das melhores séries novas de 2024, senão a melhor. A adaptação do livro de mesmo nome chega ao último episódio nesta quarta-feira (4) – e é provável que você não esteja assistindo.
A série que mistura luto, robôs, máfia japonesa e comédia não entra no top 10 das produções mais vistas no Brasil de sua plataforma, a Apple TV+. Nos Estados Unidos, aparece um pouco acima, na oitava posição.
A melhora aparente não significa tanto. Com cerca de 25 milhões de assinantes estimados em todo o mundo, o serviço de vídeo da fabricante de eletrônicos é um dos menos acessados em ambos os países.
Ou seja, tem muita gente perdendo a belezinha que é “Sunny” – mais do que a melhor atuação de Rashida Jones (“Parks and Recreation”), os nove episódios até aqui emocionam, divertem e oferecem ideias originais em medida quase igual.
Além de uma abertura incrível, tanto no visual quanto no auditivo, daquelas que ninguém pode pular. Quer dizer, poder pode, mas não deveria.
Nishijima Hidetoshi em cena de ‘Sunny’
Divulgação
A história e a origem de ‘Sunny’
Em “Sunny”, uma de nossas nepoatrizes favoritas (o Jones vem de seu pai, Quincy, o produtor lendário) interpreta Suzie, uma mulher que perdeu o marido (Nishijima Hidetoshi) e o filho em um acidente de avião.
Enquanto tenta preencher o vazio no fundo de uma garrafa, ela precisa lidar com o desprezo que tem por Sunny, um robô doméstico deixado de herança, entender o interesse da yakuza na máquina e dar atenção à sogra insensível (Judy Ongg).
A série criada por Katie Robbins (roteirista em “The Affair”) adapta de uma forma meio livre a premissa do livro de mesmo nome, originalmente chamado de “The Dark Manual”, publicado por Colin O’Sullivan em 2023.
Irlândes que mora no Japão – a protagonista compartilha a mesma nacionalidade no livro –, ele ganhou em 2018 o Prix Mystère de la critique, um prestigiado prêmio francês, com sua primeira obra.
Annie the Clumsy e Rashida Jones em cena de ‘Sunny’
Divulgação
Por que ver?
A escalação de Jones para o papel, uma beberrona que não saberia lidar com relações humanas no geral mesmo sem o luto avassalador que sente, é tão improvável quanto certeira.
De fato, por mais que fosse quase impossível pensar na atriz em um papel do gênero pelo seu currículo, “Sunny” deixa claro desde o primeiro episódio que ela nasceu para a personagem.
Ela sempre esteve bem em tudo o que fez, e emprestou um carisma praticamente inesgotável a comédias mais escrachadas como “The Office” ou “Parks and Rec”. Quem diria, no entanto, que na melancolia encontraria seu verdadeiro lar.
A americana é acompanhada por um dos melhores elencos de apoio do ano. A começar pela robô, que equilibra um design incrível com a dublagem desconcertante de Joanna Sotomura (uma atriz menos conhecida que merece mais chances em frente à câmera).
Além das duas protagonistas, a série ainda conta com grandes atuações de veteranos como Nishijima (do maravilhoso “Drive my car”) Ongg e Kunimura Jun (do também excelente “O lamento”).
A outra novata Annie the Clumsy (sim, este é o nome artístico da japonesa) é o elo mais fraco, com uma personagem que nunca consegue passar totalmente do clichê do “maluquinha”. O final da história, no entanto, pode mudar esse status.
Judy Ongg e Kunimura Jun em cena de ‘Sunny’
Divulgação
Mas não é só isso
“Sunny” enfileira grandes conquistas. A abertura cheia de estilo, embalada por uma música grudenta que não sai da cabeça mesmo de quem não fala japonês, serve como aviso: a série tem cuidado único com detalhes.
Filmar na cidade japonesa de Quioto obviamente faz a diferença, algo provavelmente permitido pelos bolsos sem fundo da Apple, mas a produção apresenta cenários belíssimos e faz escolhas certeiras de design.
Da casa de Suzie aos celulares semi futuristas com toques analógicos, “Sunny” apresenta um mundo que convida o espectador.
Tudo isso culmina em episódios belíssimos que focam em fios narrativos específicos para encontrar soluções inesperadas para mistérios que, desde o começo, assombram o público.
O nono, lançado no último dia 28 de agosto, poderia ser 10 minutos de diálogos expositivos ou um flashback insosso – mas prefere adotar o formato de um gameshow japonês sem pé nem cabeça da melhor qualidade.
O envolvimento da yakuza na trama poderia ser menos exagerado, é verdade, mas não chega perto de prejudicar o resultado de forma significativa.
“Sunny” é a melhor série que você (provavelmente) não está vendo. Mas ainda dá tempo.
Sunny em cena de ‘Sunny’
Divulgação

Mais Notícias