7 de janeiro de 2025

Superlotação em hospitais, maconha medicinal e mais: relembre os destaques da saúde em Campinas


Ano foi marcado por Covid-19 no ‘patamar da pandemia’ e pesquisa sobre ação do canabidiol na conservação de neurônios. Veja na retrospectiva. Superlotação em hospitais e ‘tatuagem de coração’: relembre os destaques da saúde
Com a maior epidemia de dengue da sua série histórica em 2024, a saúde foi um tema que esteve em alta durante todo o ano em Campinas (SP). Em 12 meses, a cidade enfrentou a alta de casos de doenças respiratórias, falta de imunizantes e a superlotação de leitos em hospitais públicos.
🏆A produção científica na região também não parou por um minuto, e algumas descobertas receberam reconhecimento.
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O g1 relembra os acontecimentos de maior destaque na saúde da região em 2024, que perpassam pelos casos de febre maculosa e de coqueluche, até momentos em que a demanda de atendimentos foi maior que a capacidade dos centros médicos da metrópole. ⬇️ Veja abaixo:
1. Baixa cobertura vacinal, carnaval, subvariante: soma de fatores faz Covid-19 avançar e positividade de testes chegar no ‘patamar da pandemia’
Criança recebe dose de vacina contra Covid-19 em Campinas
Eduardo Rodrigues
Os números de Covid-19 apresentaram alta na metrópole logo nas primeiras semanas do ano. A baixa cobertura vacinal, o descuido com a etiqueta respiratória, as aglomerações no carnaval, a volta às aulas e a circulação da subvariante da Ômicron foram fatores determinantes para o crescimento de casos e mortes pela doença.
Durante todo o ano, a metrópole registrou 13.185 casos confirmados e 114 óbitos pela doença. O número de contaminados e mortos informados na reportagem foram atualizados pelo município em 27 de dezembro. Até o fim de 2024, o saldo final pode ser alterado.
😷 A taxa de positividade dos testes disparou e chegou a atingir o ‘patamar da pandemia’. Dados do Boletim de Monitoramento de Síndromes Respiratórias mostraram que o índice de positividade chegou a 40,8%, sendo que, em março de 2021, Campinas chegou a registrar que 44,4% das pessoas que faziam PCR no município estavam infectadas com a Covid-19.
Entre 1º de janeiro e 27 de fevereiro, 2.581 pessoas foram contaminadas pela doença. Naquele momento, oito pessoas tinham morrido por complicações da Covid-19 e 94 moradores precisaram ser internados por apresentarem um quadro grave da doença. Segundo a pasta, 60% desses moradores não eram vacinados ou estavam com o esquema vacinal incompleto 💉.
Na primeira semana de março, cidade registrou 4.263 casos confirmados e 14 óbitos por Covid-19, o que representou um aumento de 65,1% nos infectados e de 75% nos mortos no comparativo com a última semana de fevereiro.
HC da Unicamp enfrentou mais um dia de superlotação
Heitor Moreira/EPTV
🏥 Com a crescente de quadros graves, os leitos de hospitais entraram em superlotação. Em março, com a capacidade para atender 30 pacientes, Hospital de Clínicas da Unicamp chegou a ter 100 pacientes na emergência. Pacientes chegaram a aguardar atendimento em macas, leitos improvisados ou cadeiras na recepção.
Em uma coletiva, o prefeito Dário Saadi atribuiu a sobrecarga dos hospitais públicos ao aumento de diagnósticos e atendimento de dengue, Covid-19 e síndromes respiratórias fora de época, além de pacientes sem hemodiálise que tiveram que ser internados.
2. Com sobrecarga por alta de dengue e Covid-19, hospitais comunicaram incapacidade de receber novos paciente
A Unidade de Emergência Referenciada (UER) para adultos do HC da Unicamp registrou superlotação de 210%, ou seja, três vezes mais internos do que a sua capacidade. Por isso, o setor adotou medidas que restringem o encaminhamento de novos pacientes para a unidade.
Na época, o hospital declarou que a UER estava atuando com “sobrecarga da área física, de equipamentos e de recursos humanos e materiais”.
Pacientes na sala de espera do Hospital Mário Gatti, em Campinas (SP)
Reprodução/EPTV
🏥 Com alta em diagnósticos respiratórios e de dengue, em abril, a rede pública registrou 100% de ocupação em leitos de UTI e enfermaria da Beneficência Portuguesa, Hospital PUC-Campinas, Hospital Ouro Verde e Hospital Mário Gatti.
Os leitos infantis de enfermaria e Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) também atingiram lotação máxima na Rede Mário Gatti e no Hospital de Clínicas da Unicamp. Segundo a direção da Rede Mário Gatti, os quadros respiratórios levaram ao aumento na procura por prontos-socorros e, consequentemente, na necessidade de internações, especialmente entre crianças com menos de 1 ano.
No fim de maio, o Hospital PUC-Campinas comunicou que estava com 70 pacientes de alta complexidade internados pelo SUS, o que representa um atendimento 250% além da capacidade do centro médico, que disponibiliza 20 leitos para a rede pública. Em seguida, o HC da Unicamp e os hospitais municipais da metrópole também comunicaram que estavam com o dobro da lotação no Pronto Socorro Adulto.
Na época, o governo municipal declarou que demanda nos serviços de urgência e emergência aumentou em até 50% em alguns períodos, desde março, por conta da sazonalidade das doenças respiratórias e do pico da epidemia de dengue.
Paciente aguarda atendimento deitado no chão no HC da Unicamp
Reprodução/EPTV
Com macas espalhadas nos corredores, longa espera e um “cenário de guerra”, ao fim de julho, o HC da Unicamp precisou operar novamente número de internos 250% acima da sua capacidade. Na época, Luciana Carradori Correia estava com mãe na unidade de saúde para receber atendimento por conta de um câncer terminal no fígado há dias.
“É um cenário que parece um campo de guerra, na verdade. Eu não tenho nem como descrever, a pessoa para entender só estando aqui. […] A gente não conseguiu um quarto para internar ela. Como ela está em cuidado paliativo, não tem como você cuidar de um paciente num local desses, com mais de 100 pessoas acamadas”, desabafou
3. Campinas enfrentou falta de vacinas e população precisou aguardar em ‘lista de espera’ 💉
Aplicação da vacina contra a gripe em posto de saúde de Campinas (SP)
Ricardo Custódio/EPTV
Durante todo ano, a rede pública de Campinas enfrentou estoques baixos ou zerados de diferentes imunizantes. Logo no 3º dia de 2024, famílias precisaram entraram em uma ‘lista de espera’ para receber a vacina contra a catapora.
Sobre a falta, a Prefeitura alegou que havia estoque até o mês de setembro de 2023 e que o envio de doses foi reduzido a partir de agosto, quando Campinas recebeu apenas 20% do que havia pedido. Em novembro, conforme informou a Pasta, a cidade recebeu 10% do que foi solicitado.
😷 Em meio a alta de casos de Covid-19, no início de abril, a Secretaria de Saúde confirmou que os estoques de vacina bivalente contra a Covid-19 estavam zerados em todos os centros de saúde. Naquele momento, a metrópole somava 6.512 casos confirmados e 40 mortes pela doença. O órgão informou que, nos meses de fevereiro, março e abril, o Ministério da Saúde fez um repasse de doses inferior ao solicitado.
Em dezembro, pela segunda vez em menos de dois meses, o estoque de vacinas Spikevax (XBB) também zerou em todos os centros de saúde. Na época, o Ministério da Saúde frisou que “não há desabastecimento de vacinas no Brasil” e que o ‘repasse de vacinas aos municípios é responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde’.
🦟 O imunizante contra a dengue também sofreu com desabastecimento. Três meses após iniciar vacinação, a cidade confirmou estava sem doses para iniciar a aplicação do reforço dentro do período recomendado pelo Ministério da Saúde. O governo municipal afirmou que não tinha recebido a remessa de vacinas do estado.
A vacina é o principal meio de prevenção da coqueluche
TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL via BBC
Com surtos de coqueluche na Europa e na Ásia, o Ministério da Saúde recomendou a ampliação do público-alvo que recebe o imunizante no Brasil.
Em Campinas, foi instituída uma medida temporária, que permitiu que profissionais da saúde da área de ginecologia e trabalhadores que atuam em berçários e creches tenham acesso à dose que protege contra a doença.
4. Coqueluche: nº de casos confirmados em Campinas é o maior desde 2018
A metrópole confirmou, entre janeiro e outubro, 24 casos de coqueluche na cidade. Em apenas 10 meses, o saldo já era o maior desde 2018, quando a cidade chegou a 54 casos. Desde 2019, quando houve 15 diagnósticos, o índice não havia passado de três.
No ano passado, em 2023, a metrópole teve apenas um registro. A cidade registrou, pelo menos, 539 casos de coqueluche desde 2007.
Casos de coqueluche aumentam em Campinas
Reprodução
🤔🦠 O que é a doença? A coqueluche é uma infecção respiratória, transmissível e causada pela bactéria Bordetella Pertussis. Ela compromete o aparelho respiratório, traqueia e brônquios, e se caracteriza por ataques de tosse seca.
A enfermidade está presente no mundo todo e é transmitida por tosse, espirro ou fala de pessoa contaminada. A doença pode se apresentar de formas mais graves em crianças e até 5 meses e a vacina é a principal forma de prevenir a doença.
5. Em meio a alerta internacional, Campinas volta a registrar casos de mpox
Além da coqueluche, Campinas também voltou a notificar casos mpox, outra doença que estava em alerta internacionalmente. Até agosto, o Brasil notificou 709 casos e 16 mortes por mpox (antiga varíola dos macacos), e a metrópole confirmou oito diagnósticos.
Segundo a Prefeitura, somando os últimos três anos, 105 casos foram confirmados na cidade.
Partículas do vírus da mpox vistas em microscópio eletrônico.
NIAID via AP, File
🤔🦠 O que é a doença? A mpox é uma zoonose viral: uma doença que foi transmitida aos humanos a partir de um vírus que circula entre animais. Antes do surto de 2022, ocorria principalmente na África Central e Ocidental, sobretudo em regiões perto de florestas, pois os hospedeiros são roedores e macacos.
6. Febre Maculosa: 4 casos, uma morte e capivara com ‘tatuagem de coração’
Febre maculosa é transmitida principalmente pelo carrapato-estrela,
Prefeitura de Jundiaí/Divulgação
Após confirmar mais dois casos no fim de novembro, Campinas fechou 2024 com quatro diagnósticos e uma morte. O único óbito foi registrado em maio, coma confirmação que a vítima visitou a lagoa do Parque Botânico Amador Aguiar, no Swiss Park
🤔 O que é a doença? A febre maculosa é uma doença grave de alta letalidade, causada pela bactéria Rickettsia rickettsii. A infecção se dá pela picada do carrapato-estrela infectado, encontrado naturalmente em gramados e matas, em especial nas áreas próximas a rios, lagos e lagoas.
O transmissor também é encontrado em capivaras, que costumam circular por áreas verdes da metrópole. Por isso, a prefeitura iniciou uma campanha de esterilização da espécie para combater a transmissão por meio da redução de nascimentos dos filhotes.
Para identificar que os animais passaram pelo procedimento cirúrgico, as capivaras ganharam “tatuagens” de coração.
Capivaras ganham ‘tatuagem’ de coração para indicar que foram castradas, em Campinas
Prefeitura de Campinas
7. Adolescente morre com maculosa e família denuncia erro após tratamento só considerar dengue em Sumaré
Uma família de Sumaré (SP) acionou o Ministério Público e a Câmara Municipal para denunciar um possível caso de erro médico na rede municipal de saúde. Eles alegam que Eduardo Brazilino de Queiroz, de 13 anos, que morreu por febre maculosa, teve o caso tratado apenas como dengue.
Os pais do adolescente contam que chegaram a informar aos médicos da suspeita, já que o menino costuma frequentar lugares de mato e próximo a lagos, por conta de pescarias, e que identificaram uma picada na perna dele, mas que as informações não foram consideradas.
Eduardo Brazilino Queiroz, de 13 anos, morreu por febre maculosa em Sumaré (SP)
Arquivo pessoal
Eduado apresentou os primeiros sintomas em 8 de maio, e veio a óbito no dia 15 do mesmo mês. A primeira pessoa a saber dos sintomas foi a avô do adolescente, que ouviu dele a reclamação de que “se sentia quebrado”.
O adolescente foi levado à unidade de pronto atendimento de Sumaré no dia seguinte. E repetiu isso por dias, reclama a mãe do menino, que apresentava dores no corpo e febre alta persistente.
Jefferson e Ianca, pais do adolescente de 13 anos morto por febre maculosa, mas que foi tratado como dengue na rede municipal de saúde de Sumaré (SP)
Jorge Talmon/EPTV
8. Estudo da Unicamp descobriu que danos da Covid-19 no cérebro são semelhantes aos da esquizofrenia
Pesquisadores aliaram os conhecimentos prévios sobre a esquizofrenia ao estudo sobre a ação da Covid-19 no cérebro e descobriram que as intersecções são mais comuns do que se imaginava.
🧠 O estudo, conduzido por pesquisadores da Unicamp, do Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa e do Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), publicado em julho deste ano, revelou que os dois quadros de saúde convergem na aceleração de deficiências cognitivas.
Anteriormente, já era de conhecimento que pacientes com esquizofrenia têm risco maior de apresentar a forma grave da Covid, por razões ainda pouco conhecidas pela medicina. Foi partindo desse princípio que o grupo buscou entender como (e se) os mecanismos biológicos das duas doenças se sobrepõem.
Daniel Martins-de-Souza, pesquisador da Unicamp e autor do estudo
Reprodução/Globoplay
🤔 Por que isso preocupa? Segundo Martins-de-Souza, proteínas associadas à neurodegeneração observadas em pessoas com esquizofrenia eram comumente associadas à ideia de que a doença é crônica e, em muitos casos, gera efeitos no cérebro durante muitas décadas. Mas com a Covid foi diferente.
“Quando a gente olhou para os cérebros dessas pessoas com esquizofrenia, eles já tinham [a doença] há 20, 30 anos. É uma doença muito longa e é normal que esses eventos degenerativos aconteçam. Mas para Covid não. Uma pessoa que foi acometida pela Covid e, infelizmente, morreu três, quatro semanas depois, já ter proteínas indicando neurodegeneração é uma coisa muito grave”, afirma Daniel Martins-de-Souza, pesquisador da Unicamp e autor do estudo
➡️ A longo prazo, uma comunicação entre neurônios prejudicada pode levar ao o aparecimento de deficiências cognitivas (como problemas de memória e raciocínio) e sintomas psiquiátricos.
9. Pesquisa inédita sobre ação do CBD no cérebro indica potencial de conservação de neurônios
O canabidiol (CBD), molécula presente na maconha, pode ser capaz de contribuir com a preservação dos neurônios. É o que indicou uma pesquisa inédita, realizada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que analisou os efeitos da substância no cérebro de camundongos.
Em busca de compreender como o CBD colabora para prevenir crises em pacientes com epilepsia em seu uso medicinal, o trabalho detectou alterações na função de quase três mil genes, principalmente, em estruturas ligadas à produção e economia de energia das células.
“Essa questão da economia energética das células pode, inclusive, apontar um efeito positivo em casos de degeneração do sistema nervoso, de morte dos neurônios. Então, esse estudo pode até apontar outras possíveis aplicações”.
Em resumo, a pesquisa sugere a existência de uma relação entre o uso do CBD e uma economia de energia celular que poderia resultar na proteção do sistema nervoso.
Biólogo da Unicamp analisa cérebro de camundongo para avaliar efeitos do CBD
Antoninho Perri/SEC-Unicamp
10. Estudo revela que chikungunya causa danos cerebrais e indica necessidade de mudanças no atendimento
Pesquisadores da Unicamp e de outras cinco instituições descobriram que o vírus chikungunya é capaz de se espalhar pelo sangue, atingir múltiplos órgãos e causar danos cerebrais. Os achados foram publicados na revista científica Cell Host & Microbe, em fevereiro.
De acordo com o estudo, os mecanismos de ação observados pela primeira vez em casos fatais indicam que o vírus pode atravessar a barreira que protege o sistema nervoso central, o que reforça a necessidade de atualização dos protocolos de tratamento e vigilância da doença.
O principal achado foi a presença do vírus em amostras de líquor cefalorraquidiano, o que demonstra sua capacidade de atravessar uma camada protetora e alcançar o sistema nervoso, podendo chegar ao cérebro. Assim, ele causa danos neurológicos que podem resultar em sequelas ou levar o paciente à morte.
🦠 Porém, o vírus também pode causar as seguintes alterações no corpo do paciente infectado:
problemas na circulação do sangue que levam ao desenvolvimento de trombos
fragilidade vascular, alteração no comportamento de bomba do coração e risco para hipertensão arterial
excesso de líquido nos órgãos
desequilíbrio da imunidade
Aedes aegypti é o transmissor da chikungunya, dengue, Zika e febre amarela
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