Assessor alega que era obrigado a repassar parte do salário para Bárbara Penna e o marido. Em 2013, investigada foi vítima de uma tentativa de homicídio e perdeu os dois filhos em um incêndio. Bárbara Penna e Robson Medeiros da Silva foram indiciados pela Polícia Civil por suposto esquema de rachadinha
Reprodução/ Redes Sociais
A suplente de deputada estadual Bárbara Penna (Podemos) e o marido, Robson Medeiros da Silva, foram indiciados pela Polícia Civil por supostamente extorquirem um então assessor de bancada na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. João Cláudio Almeida da Silva, de 59 anos, teria sido indicado à vaga por Bárbara e registrou ocorrência policial alegando que era obrigado a repassar parte do salário ao casal, prática conhecida como rachadinha. Após denunciar o esquema, o assessor acabou perdendo o cargo.
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Bárbara e Robson foram indiciados por concussão, situação em que um servidor público obtém vantagem em função do cargo, e falsidade Ideológica. O inquérito foi remetido à Justiça na última sexta-feira (1º) e ainda não tem parecer do Ministério Público.
O assessor disse à polícia que teria que devolver quase a metade do salário que ganhava no cargo.
“Ele [Robson] me chamou no WhatsApp dizendo que ia me colocar na Assembleia Legislativa, que eu ia ganhar R$ 6,1 mil e teria que devolver R$ 3 mil pra eles”, alega João Cláudio.
João Cláudio Almeida da Silva alega ser vítima de suposto esquema de rachadinha
Reprodução/ RBS TV
Procurado pela reportagem, Robson não quis se manifestar e disse que passaria, por mensagem, o contato de seu advogado, o que não ocorreu. Já Bárbara disse que “apesar da suposta alegação levantada”, manterá sua “postura de silêncio até que tudo seja devidamente esclarecido durante os trâmites legais”.
Além de ser eleita suplente de deputada estadual em 2022, quando ainda pertencia ao União Brasil, Bárbara Penna concorreu a uma vaga na Câmara Municipal de Porto Alegre, tornando-se suplente pelo Podemos com 3.057 votos. Segundo sua prestação de contas, arrecadou na campanha R$ 276 mil, dos quais R$ 81 mil foram destinados ao marido, Robson, para a “criação e produto de conteúdo audiovisual”.
Bárbara Penna ficou conhecida após ser vítima de tentativa de homicídio pelo ex-namorado, condenado por colocar fogo no apartamento dela em novembro de 2013. O incêndio deixou três mortos: dois filhos de Bárbara e um vizinho (veja mais sobre o caso abaixo).
Procurado pela reportagem, o líder da bancada do Podemos na Assembleia Legislativa, deputado Prof. Claudio Branchieri, disse não ser o responsável pelas indicações de cargos e se declarou “indignado” com a denúncia. Ele informou que, dentro da bancada, o ex-assessor era cargo da liderança do partido. Por sua vez, o líder do partido na Assembleia, deputado Airton Lima, admitiu que Jorge foi exonerado a pedido da suplente e que não sabia o motivo da demissão.
Em nota, o presidente do Podemos no RS, Everton Braz, afirmou que a denúncia registrada na Polícia Civil nuca havia sido comunicada ao partido e que a sigla “condena veementemente qualquer prática que desrespeite os princípios de honestidade e legalidade” (leia a íntegra do comunicado abaixo).
Denúncia de rachadinha
O ex-assessor relatou ao g1 que conseguiu o emprego graças a Robson, de quem foi colega de trabalho em uma emissora de TV. João Cláudio foi efetivado no dia 17 de abril de 2024.
“Como eu trabalhei somente 15 dias no primeiro mês, não dei nada. Daí, no segundo mês [maio], ele foi na minha casa e começou a me apertar”, relata o ex-servidor.
Na ocorrência, João Cláudio diz que, no dia 31 de maio deste ano, fez uma transferência de R$ 2,5 mil ao marido da suplente.
“Fiz via PIX, mas ele queria em espécie. Falei não, não tem como, o banco não está liberando dinheiro para ninguém por causa da enchente. Daí ele aceitou”, relata a vítima.
Transferência realizada por João Cláudio Almeida da Silva em caso de rachadinha
Reprodução/ RBS TV
Com o objetivo de buscar esclarecimentos na bancada do Podemos na Assembleia, o ex-assessor relatou a extorsão a um coordenador. João Cláudio foi informado de que qualquer cobrança além dos 5% legalmente pagos à legenda seria irregular. Ele, então, procurou o marido da suplente, que devolveu o dinheiro.
“Não deu um mês depois, ele começou a me perseguir”, diz João Cláudio.
Segundo os relatos, Robson ainda teria forçado o assessor a assinar um termo de “desculpas e retratação”, com data de 9 de setembro, em que afirmaria que a acusação contra o casal “não condiz com a verdade” e que declarava “arrependimento”. No entanto, João se recusou a endossar o documento.
“Chegou um dia que o coordenador da bancada me disse: ‘é, eles pediram o teu cargo. Tu sabe por que eles pediram o cargo de volta, né? Porque a gente descobriu a falcatrua que eles estavam fazendo'”, relata o ex-assessor.
Para João Cláudio, “o partido é conivente”.
“Procurei a secretária do presidente, e ela não me deu resposta”, reclama.
Queimada por ex-namorado
Em 2013, na época com 19 anos, Bárbara teve 40% do corpo queimado
Rafaella Fraga/G1
Bárbara Penna foi alvo de uma tentativa de homicídio em novembro de 2013. Ela teve o corpo queimado por João Guatimozin Moojen Neto, que ateou fogo na casa após despejar álcool no corpo dela e no chão da residência.
Ao correr para pedir socorro pela janela, Bárbara despencou do terceiro andar do prédio. O fogo se espalhou pelo apartamento e a fumaça intoxicou e matou os filhos do ex-casal, Isadora, de dois anos, e João Henrique, de apenas três meses, que dormiam no quarto. Um vizinho que tentou salvar as crianças também morreu.
Neto foi condenado a 28 anos e quatro meses de prisão em regime fechado em setembro de 2019, por Tribunal de Júri em Porto Alegre.
No ano passado, o jornal O Globo revelou que a atriz Juliana Paes deve protagonizar um filme sobre a vida de Bárbara Penna.
Réu do caso Bárbara Penna é condenado a 28 anos e quatro meses
Nota do Podemos-RS:
“A denúncia registrada na Polícia Civil nunca foi comunicada ao diretório estadual do partido. O Podemos sempre preservou sua reputação e condena veementemente qualquer prática que desrespeite os princípios de honestidade e legalidade. O partido apoia integralmente a investigação pelas autoridades competentes e se compromete a colaborar de forma ativa e transparente em todos os esclarecimentos necessários.
A exoneração do antigo assessor não teve relação com o assunto em questão. Havia um acordo com a então candidata Bárbara Penna para que ele permanecesse no cargo até agosto, após ele se dedicaria integralmente à campanha de Bárbara para vereadora
Reforçamos: nenhuma decisão de exoneração foi tomada com base em qualquer outra acusação ou situação similar. O partido tomou conhecimento do assunto apenas após a exoneração do assessor; não houve qualquer relato sobre o tema enquanto ele atuou no cargo.”
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