22 de setembro de 2024

Suspeitos se encontraram perto de batalhão antes e depois de assassinato de advogado no Rio; participação de PM em outras mortes é investigada

Prisão de suspeitos completou um mês e foi prorrogada após decisão da 3ª Vara Criminal, que cita um “verdadeiro grupo de sicários que se aproveita do poder estatal para criar um poder paralelo”. Advogado Rodrigo Marinho Crespo, de 42 anos, morto a tiros no Rio.
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A investigação da Delegacia de Homicídios identificou que os três suspeitos presos por participação na morte de Rodrigo Marinho Crespo se encontraram na rua do 15º BPM (Duque de Caxias), onde um dos suspeitos atua como policial militar, em pelo menos duas datas, antes e depois do homicídio.
Uma análise de câmeras de trânsito também mostrou que o carro utilizado para monitorar a vítima foi para Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, logo após o crime. O último ponto em que o veículo foi monitorado fica no bairro do Pilar.
Eduardo Sobreira Moraes, Cezar Daniel Mondêgo de Souza e o PM Leandro Machado da Silva foram presos há pouco mais de um mês. Os dois primeiros, segundo as investigações, monitoraram a vítima nos dias anteriores e no dia do assassinato.
Já Leandro Machado alugou o veículo utilizado para seguir os passos do advogado. Ele também ligou para um dos suspeitos e trabalhou para obstruir as investigações, segundo a DH.
A polícia investiga também se Machado participou de outros homicídios, na capital e região metropolitana do Rio.
Carro utilizado para seguir Rodrigo antes do assassinato foi monitorado até chegar em Duque de Caxias
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A motivação do assassinato de Rodrigo Marinho Crespo ainda é investigada pela DH, que também apura quem pode ter sido o mandante do homicídio e a participação de outros envolvidos.
Nesta semana, uma decisão do juiz tabelar Cariel Bezerra Patriota, da 3ª Vara Criminal, determinou a prorrogação da prisão temporária dos suspeitos por 30 dias. Ele ainda condenou a participação de um policial militar no crime. A polícia diz, em um relatório, que Leandro Machado “sabidamente” trabalha com a contravenção.
O policial militar Leandro Machado da Silva, após se entregar na Delegacia de Homicídios da Capital
Betinho Casas Novas/TV Globo
“É extremamente preocupante a presente investigação que revela a participação de um policial militar da ativa em um grupo de execução/extermínio, um verdadeiro grupo de sicários que se aproveita do poder estatal para criar um poder paralelo”, diz a decisão do magistrado.
As investigações demonstraram ainda que o PM utilizava um número internacional para se comunicar com o dono da locadora de veículos onde o carro usado no crime foi alugado.
Em depoimento, ele alega que esse era seu telefone “ruim”, mas que nunca teve maldade em tratar dos assuntos relacionados à locação neste aparelho.
Encontros na rua do 15º BPM
Cesar, Leandro e Eduardo, os três presos por envolvimento na morte do advogado Rodrigo Marinho Crespo
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As investigações demonstraram que, no dia 1 de fevereiro, Eduardo Sobreira e Cézar Mondêgo estiveram na rua do batalhão, a Travessa Paulo Viêra, por 20 minutos. Leandro, que trabalha no batalhão, também estava no local, de acordo com um relatório de investigação da DH.
No segundo encontro no batalhão, imagens de câmeras de segurança mostraram Mondêgo saindo do carro, enquanto Eduardo esperava dentro do veículo, às 8h47 do dia 28 de fevereiro, dois dias após o crime. O motorista, em depoimento, confirmou que esteve no local com o amigo.
A análise do GPS do veículo do PM Leandro Machado demonstra que ele chegou na rua do batalhão de Duque de Caxias por volta das 08h57 do mesmo dia. Mondêgo e Eduardo deixam o local pouco depois das 9h08.
Ligação com Sem Alma
Os investigadores já sabem que os suspeitos possuem ligação com o grupo de matadores de aluguel chefiado pelo ex-PM Rafael do Nascimento Dutra, conhecido como Sem Alma. Atualmente, ele está foragido.
Sem Alma é apontado como chefe de um grupo de extermínio que atua cometendo diversos homicídios no Rio de Janeiro, muitos deles ligados à disputa entre contraventores e o mercado de cigarros ilegais no Rio de Janeiro.
Leandro Machado ao lado de Rafael do Nascimento Dutra, conhecido como Sem Alma
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Uma foto obtida pela polícia mostra Leandro ao lado de Sem Alma em uma festa. Ao ser questionado sobre o registro, o advogado de defesa de Leandro afirmou que a foto não demonstrava vínculo entre os dois.
Uma das provas apreendidas pela polícia é a pasta de Leandro Machado na locadora Horizonte, onde o carro utilizado no crime foi alugado. Há anotações que citam um nome: Rafael, com menções ao termo “segurança Caxias” e à palavra “zoológico”.
A DH da Capital acredita que o Rafael citado nas anotações pode ser o PM acusado de chefiar o grupo de extermínio. A palavra zoológico, por sua vez, faria menção ao Jogo do Bicho.
Monitoramento e execução
Polícia Civil tenta identificar outros envolvidos na morte do advogado Rodrigo Crespo
Um relatório da delegacia de Homicídios cita que Rodrigo Marinho Crespo foi seguido nos dias 22, 24, 25 e 26 de fevereiro, quando o crime aconteceu.
Eduardo Sobreira e Cezar Daniel Mondêgo se revezeram entre o endereço da vítima, na Lagoa Rodrigo de Freitas, e o trabalho, na avenida Marechal Câmara, próximo a onde a vítima foi assassinada.
Eduardo Sobreira Moraes, de 47 anos
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Em depoimento, uma testemunha relatou que sabia que Eduardo já integrou um grupo de extermínio, e que andava em um veículo que pertencia a Mondêgo.
Imagens obtidas pela DH também mostraram que Eduardo ficou esperando por Mondêgo na portaria de um prédio, demonstrando o vínculo entre eles.
Mondêgo foi flagrado por câmeras de segurança no Batalhão de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde trabalha o policial Leandro Machado.
Já Eduardo Sobreira admitiu, em depoimento, que se desfez de seu telefone celular após ter sido avisado por Mondêgo a respeito do envolvimento do veículo que usava na morte do advogado Rodrigo Marinho Crespo. Disse ainda que nunca trabalhou no aplicativo Uber, mas que Mondêgo “mandou colocar” a plaqueta no veículo.
A análise de câmeras da Cet-Rio mostrou ainda que, após o crime, o veículo subiu o viaduto da Penha, seguiu pela Avenida Lobo Júnior e pegou o caminho para Duque de Caxias.
Veículo alugado
PM procurado por morte de advogado se entrega na DH
As investigações apontam que o veículo utilizado para monitorar Rodrigo foi alugado em uma locadora, a partir de um “laranja” ligado ao policial militar Leandro Machado.
Segundo a Polícia Civil, ele se utilizava de um amigo, que declarou ter ganhado R$ 500 para fazer o aluguel, a fim de ocultar sua ligação com a organização criminosa.
Em depoimento, o dono da empresa afirmou que, assim que soube que um veículo de propriedade dele foi abordado em Maricá, na região dos Lagos, falou com o PM Machado. Este, por sua vez, avisou Eduardo Sobreira Moraes, que deixou a casa onde estava se escondendo após o crime.
Eduardo foi preso no dia 5 de março, assim como Machado, que se apresentou na Delegacia de Homicídios da Capital.

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