10 de janeiro de 2025

Tainha de quase 7kg: o que explica safra de peixes maiores capturados no litoral de SC

Alguns pescados mais que dobraram de tamanho na temporada 2024. Peixe é típico da costa catarinense. Tainha de 6,7 quilos capturada em Jaguaruna, no Litoral Sul de SC
Arquivo pessoal
O tamanho das tainhas, peixe típico do litoral de Santa Catarina, capturadas na safra 2024 tem chamado a atenção de pescadores do estado. Embora os indivíduos encontrados pela costa catarinense costumem ter entre 1,5 kg e 2 kg, alguns pescados estão passando de 5 kg nesta temporada.
Uma foto compartilhada nesta semana mostra uma tainha de quase 7 quilos capturada na Praia do Camacho, em Jaguaruna, Litoral Sul (foto acima). A safra começou em 1º de maio.
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Segundo o doutor em Aquicultura Caio Magnotti, supervisor do laboratório de Piscicultura Marinha da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), algumas tainhas pescadas nesta temporada estão realmente maiores.
Na avaliação dele, há duas possíveis explicações para o caso:
Impacto das fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul, e que também foram registradas na Argentina e no Uruguai.
Impacto das cotas de pesca instituídas em 2018 (leia mais sobre os tópicos abaixo).
Entenda
Segundo o especialista, a costa gaúcha e os países vizinhos são os locais de onde costumam vir as tainhas que, entre maio e julho, chegam às águas mais quentes do litoral catarinense para reprodução.
As fortes chuvas nessas regiões, de acordo com ele, provocaram uma mudança abrupta no ambiente em que os peixes viviam. Isso pode ter “empurrado” um volume maior de indivíduos para o mar aberto e poderia explicar tanto a existência de peixes maiores quanto as grandes quantidades de tainha registradas nos últimos lanços.
“Do dia para a noite, a água ficou totalmente doce. Era transparente, límpida, inverteu completamente porque veio muito sedimento, terra, barro, areia, esgoto doméstico, fora o volume de água. A saída de maré era extremamente forte, tudo que estava na região era levado à força para o mar”, explica.
Quase 30 mil peixes capturados na modalidade de arrasto em SC
Bryan Kormann/ Grupo Informações da Pesca
A outra possível explicação para o fenômeno, diz o especialista, é um impacto das cotas de pesca instituídas em 2018. A medida limita a quantidades de captura de tainha para a pesca industrial e artesanal com embarcações que usam rede de emalhe anilhado.
Segundo Magnotti, isso pode ter preservado uma quantidade maior de tainhas, que puderam voltar a seus locais de origem e retornar ao estado mais desenvolvidas e maiores.
“A cota é feita para isso, para que ela possa desovar várias vezes, e teoricamente você possa ter um número maior e também peixes maiores”, explica.
Ele acrescenta que cardumes nascidos nos anos da pandemia, sobretudo entre 2020 e 2021, quando houve menos atividade pesqueira, estariam agora na fase ideal de reprodução, com 3 a 4 anos de vida.
De onde elas vêm
O professor explica que a espécie de tainha que é encontrada no Sul vem da Argentina, do Uruguai, da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, e de vários rios e riachos que existem na região costeira, inclusive no litoral de Santa Catarina.
“Normalmente os peixes maiores passam [pelo estado] no meio de junho, final de junho, começo de julho, porque são peixes que teoricamente vêm de mais longe, da Argentina… Então, a gente tem essa diferença dos “lotes” de peixe. E agora não, agora parece que veio tudo junto, peixe muito grande, muito peixe junto”, contextualiza.
O subsecretário de Pesca, Maricultura e Agricultura de Florianópolis, Laurentino Benedito Neves, defende que as maiores tainhas são originárias de Uruguai e Argentina, onde não seriam tão visadas pela pesca como no estado vizinho.
Pescadores do Campeche no primeiro dia oficial da safra da tainha em 2024
Lucas Amorelli/NSC
Os indivíduos desses países, de acordo com ele, tendem a alcançar tamanhos maiores por conseguirem viver mais de três ou quatro ciclos.
“Esse peixe do Uruguai e da Argentina sempre veio para desova no Norte. O que aconteceu esse ano? Normalmente, eles entram na Lagoa dos Patos (maior laguna da América do Sul, no Rio Grande do Sul) e se misturam com os peixes menores locais. Então, chegavam aqui cardumes com peixes menores e maiores”, afirma.
“Esse ano, como tinha muita vazão de água, eles não conseguiram entrar na lagoa e passaram direto para a nossa região, então tivemos cardumes inteiros só com peixes maiores, o que chamou a atenção”, complementa.
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