11 de janeiro de 2025

Taxa de abandono do tratamento de tuberculose em Campinas é três vezes maior do que o esperado

Metrópole registrou 14% de abandono em 2023; índice esperado pelo Ministério da Saúde é de 5%. Homens são maioria entre os infectados e representam 76% do total de pacientes que não concluem o tratamento. Os principais da tuberculose são: tosse – que pode ser acompanhada de sangue -, febre, emagrecimento, perda de apetite e sudorese noturna
Freepik
O índice de pacientes que abandonaram o tratamento contra tuberculose ao longo de 2023 em Campinas (SP) é quase três vezes maior do que o esperado, segundo dados enviados pela Secretaria Municipal de Saúde ao g1.
Enquanto o Ministério da Saúde prevê uma taxa de 5% de abandono, a metrópole registrou 14%. O balanço aponta ainda que a maioria dos pacientes que não finalizaram o tratamento eram homens, que representam 76% do total.
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No ano passado, 432 pessoas foram diagnosticadas com a doença na cidade. Outras 16 não resistiram às complicações e acabaram morrendo. Todas tinha alcoolismo e conviviam com outras comorbidades (veja os dados abaixo).
O Dia Mundial da Tuberculose é celebrado neste domingo (24) e nesta reportagem você vai ver:
Como é o tratamento e o que explica a taxa da abandono
Casos e mortes por tuberculose em Campinas
Como é realizado o acompanhamento dos pacientes
O que tem sido feito para reduzir a taxa de abandono na metrópole
O que é a tuberculose, quais os sintomas e como é o diagnóstico
Como é o tratamento e o que explica a taxa da abandono
Conforme o Ministério da Saúde, o tratamento da tuberculose é feito com antibióticos que devem ser tomados diariamente durante, pelo menos, seis meses. Os medicamentos são gratuitos e estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). A doença tem cura quando o tratamento é feito de forma adequada, até o final.
⚠️ O órgão lembra que o tratamento irregular, com interrupções ou sem uso contínuo dos remédios, pode complicar a doença e resultar no desenvolvimento de resistência à medicação.
Para Christiane Ambrosio, enfermeira do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), o longo período de uso dos remédios pode ser a explicação para a alta taxa de abandono. “Quando o paciente chega na unidade de saúde, ele é um paciente que está bastante sintomático. Ele inicia o tratamento, até por conta dos sintomas, então tem boa adesão”.
“Só que, ao longo do tempo, ele começa a melhorar, a ter uma resposta ao tratamento, então acaba deixando de tomar a medicação achando que está curado. Isso pode ser uma questão”, completa.
“Tem também as questões sociais, porque muitos pacientes vivem em situação de rua. Eles ficam migrando de unidade e a gente acaba perdendo esse paciente. O paciente privado de liberdade também. Quando eles estão em determinado presídio, ele é monitorado, mas as vezes ele vai para a liberdade e a gente perde o contato”.
Casos e mortes por tuberculose em Campinas
De acordo com a administração municipal, a maioria das pessoas infectadas por tuberculose em 2023 tinha de 20 a 59 anos. Esse público representa 77% do total. Outros 16% tinham mais de 60 anos, 3,3% de 0 a 14 e 2,6% de 15 a 19 anos.
A maioria dos casos está concentrada em pessoas do sexo masculino e adultos jovens. Embora qualquer pessoa possa contrair a doença, algumas populações são mais vulneráveis, como pessoas em situação de rua, privados de liberdade ou em vulnerabilidade social.
Casos de tuberculose em Campinas
A doença também provocou 16 mortes no ano passado, sendo que 11 casos (68%) ocorreram na faixa de 30 a 59 anos e outros 5 (32%) em pacientes acima de 60 anos. A grande maioria da vítimas era do sexo masculino.
Todos os casos estavam associados a comorbidades como diabetes (presente em 16%), cardiopatias, tabagismo (40%), alcoolismo (100% dos casos) e imunossupressão. Para evitar o risco aumentado, as pessoas diagnosticados com tuberculose fazem testagem para HIV.
Acompanhamento de pacientes
A Prefeitura de Campinas destaca que toda pessoa com sintoma deve procurar um serviço de saúde para investigar a tuberculose. O atendimento é realizado em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Se diagnosticado, o paciente é acompanhado durante todo o período de tratamento pelas equipes que, além de fornecer a medicação, avaliam o paciente mensalmente por meio de exames laboratoriais, avaliação nutricional e clínica.
“A tomada da medicação é acompanhada de perto pela equipe de saúde e pelo Programa do Ministério da Saúde, o paciente deve tomar a medicação diariamente na presença de um profissional de saúde”.
Redução da taxa de abandono
Christiane Ambrosio explica que diante da identificação da ausência do paciente nas consultas de rotina, na retirada da medicação semanal ou nas coletas de exames, as equipes fazem a busca ativa do paciente com visitas domiciliares.
Para acompanhar os pacientes e contornar a taxa de abandono, Campinas desenvolveu o Tratamento Diretamente Observável por Vídeo (VDOT). A estratégia prevê o uso de tecnologias de saúde digital para que profissionais da rede de atenção primária possam supervisionar o tratamento da tuberculose.
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Segundo o Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), dessa forma, há redução da necessidade de deslocamentos do paciente e dos profissionais para a supervisão diária das tomadas de medicação, possibilitando que o paciente mantenha sua rotina de vida habitual.
“O VDOT torna o tratamento de tuberculose mais acessível e conveniente ao paciente, possibilita a identificação precoce do risco de abandono de tratamento por meio da supervisão diária das tomadas de medicação e melhora a adesão ao tratamento reduzindo as taxas de abandono”.
O que é a tuberculose?
Tosse por mais de duas semanas é um dos sintomas da doença
Prefeitura de Jundiaí/Divulgação
A Tuberculose é uma doença causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, que acomete principalmente os pulmões. No entanto, ela também pode afetar órgãos como rins, intestino, sistema ósseo, entre outros. Esses casos, são chamados de formas extrapulmonares e, geralmente, ocorrem em pacientes HIV positivo ou que estejam com imunidade comprometida.
😷 Sintomas: se a pessoa estiver com tosse há duas semanas ou mais, é preciso investigar. Outros sintomas, que podem também estar associados à infecção de outras áreas do corpo, são:
Febre vespertina
Sudorese noturna
Emagrecimento
Cansaço e fadiga
🩺 Diagnóstico: além da análise clínica, também é possível identificar a tuberculose por meio dos seguintes exames:
Por imagem, com uma radiografia de tórax e pulmão
Por exames bacteriológicos, como a baciloscopia, um teste rápido molecular para tuberculose, ou a cultura para micobactéria
Com a confirmação da doença, o tratamento deve ser iniciado imediatamente. Ele é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas seu sucesso depende da adesão do paciente, como destaca o especialista.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano cerca de 10 milhões de pessoas adoecem por Tuberculose com cerca de mais de 1 milhão de óbitos anuais no mundo. No Brasil são notificados cerca de 70 mil casos novos por ano, com 4,5 mil mortes.
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