11 de outubro de 2024

TDAH: entenda os riscos do autodiagnóstico e como funciona o tratamento

Segundo a neuropsicóloga Suzana Lyra, o diagnóstico correto permite ao paciente estabelecer rotinas adequadas Suzana Lyra
Renato Santana Santos
Desatenção, inquietude e impulsividade são as principais características do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), que segundo dados da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), a prevalência mundial é de 5% e 8% da população. Apesar dos números, os pacientes enfrentam os desafios da desinformação, com autodiagnósticos ou diagnósticos imprecisos.
Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, cerca de 11 milhões de brasileiros são afetados pelo transtorno, conforme dados divulgados em 2022. A prevalência de TDAH é estimada em 7,6% em crianças e adolescentes com idade entre 6 e 17 anos, 5,2% nos indivíduos entre 18 e 44 anos e 6,1% em maiores de 44 anos.
Suzana Lyra (CRP03/9748), neuropsicóloga, especialista em transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), transtorno de espectro autista (TEA) e esquecimentos, explica que pessoas com TDAH, diagnosticadas na adolescência ou na vida adulta, podem estabelecer uma rotina diária que ajude a manter o foco e evitar a procrastinação, “porém, o paciente precisa de acompanhamento médico para um diagnóstico preciso e tratamento adequado ao transtorno”. Confira:
O diagnóstico de TDAH em adultos é mais difícil?
Sim, o diagnóstico de algumas condições, em adultos, pode ser mais difícil, devido a uma série de fatores: estratégias de lidar com as dificuldades; a própria idade em si; falta de informação; barreiras no sistema de saúde pública para ter acesso a profissionais qualificados e especializados, que possam fazer um atendimento com maior entendimento; o próprio estigma e preconceito que muitas vezes dificulta a ida ao profissional; e por fim, as dificuldades associadas à doença, principalmente no que tange à procrastinação, o acúmulo de diversas atividades, criado pelo próprio indivíduo, negligenciando sua saúde.
Importante não confundir TDAH com outros transtornos, principalmente quando o indivíduo tem mais de 50 anos, pois muitos acreditam estar com algum tipo de demência e não com Déficit Atencional, pois quando era mais jovem lidavam com os ‘esquecimentos’ ou ‘atrapalhações’ como sendo algo relativo ao estresse, jornada de trabalho acumulada (muitas vezes dupla), etc, e não como algo que fosse do próprio TDAH.
Como é realizado o diagnóstico de TDAH?
É feito por um profissional de saúde mental, como um psiquiatra, neurologista, neuropediatra ou neuropsicólogo, através de uma avaliação clínica detalhada. Atualmente a indicação é para a realização de avaliação neuropsicológica para testar e analisar as áreas cerebrais envolvidas na cognição. A avaliação deve ser realizada apenas por neuropsicólogos, pois existem instrumentos restritos a esses profissionais. Dessa forma, são avaliados os constructos da atenção (concentrada, seletiva, difusa, alternada, dividida, de dígitos, etc.), do processamento visuo construtivo, da memória (verbal episódico-semântica, visual, etc.), dentre outras questões. De acordo com as conclusões (resultados) obtidos na avaliação neuropsicológica, o paciente é encaminhado para tratamento ou ajustes comportamentais.
Após o diagnóstico de TDAH, a pessoa pode retomar qualquer atividade de sua rotina, como atividades físicas e outras?
Sim, criar uma rotina diária com horários fixos para as atividades pode ajudar a manter o foco e a evitar a procrastinação. Além disso, é importante ter um espaço de trabalho organizado e livre de distrações, como celulares ou televisão. É importante o gerenciamento de estresse. A atividade física melhora substancialmente, pois além de trabalhar o equilíbrio, a propriocepção, o reflexo, ajuda aliviar o estresse, diminuir a ansiedade e equilibrar as emoções. Outra dica valiosa é manter uma agenda com as tarefas/compromissos diários para que possa se organizar melhor com o tempo e não esquecer de algo. Para fixar melhor os conteúdos, eu indico repetir por algumas vezes, pois o cérebro aprende por repetição.
Como se dá o tratamento de TDAH?
O tratamento do TDAH deve ser de modo múltiplo, combinando em psicoterapia (orientação psicológica), prescrição de medicamentos, fisioterapia, arteterapia, que podem ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade através de técnicas de relaxamento, respiração, alongamento, equilíbrio, etc. Pode também fazer treino auditivo, melhorando a compreensão, foco e fortalecendo as habilidades, estimulando os déficits apresentados, elencando como deve se dar o comportamento assertivo.
Sintomas do TDAH podem ser confundidos com outros transtornos?
Sim, pessoas leigas podem confundir os sintomas do TDAH com outras patologias, a exemplo do transtorno do espectro autista (TEA), transtorno opositivo desafiante (TOD), dislexia, deficiência intelectual (DI), pois alguns sintomas são parecidos. Além disso, muitas pessoas terminam consultando a internet ou pessoas próximas que tenham alguém na família com esses sintomas e concluem com um diagnóstico errado, muitas vezes tipificando o sujeito. Há também a busca por profissionais de áreas não afins, que classificam e julgam tal patologia como certa, criando assim um sujeito com um diagnóstico de ‘colcha de retalhos’, como costumo dizer.
Sabemos que o TEA, TDAH e o TOD podem ter relações estreitas em alguns comportamentos, sintomas semelhantes, mas os critérios diagnósticos são bem distintos e devem ser observados com um olhar criterioso de um profissional especializado. Não se pode apenas tipificar uma patologia apenas com um, dois ou três sintomas, por exemplo: hiperatividade, falta de concentração, irritabilidade. Tanto no TEA, quanto no TDAH e até mesmo na DI e dislexia, podem aparecer alguns sintomas, mas é preciso entender a história de vida do paciente, verificando história pregressa, ambiente ao qual está inserido, vida familiar, social, estudantil, intelectual e financeira, na qual este sujeito se encontra, bem como entender como é esse sofrimento (ou se existe) em sua vida.
Saúde mental é algo sério, que deve ser cuidada com bastante cautela e dedicação. É importante salientar que pessoas leigas não devem chegar aos consultórios com diagnósticos ou tratamentos para determinada patologia com base nas ‘pesquisas da internet, em sites de buscas’, mas sim, permitir que o profissional habilitado possa conduzir o atendimento de maneira eficaz.
Responsável Técnica: Dra Suzana Lyra (CRP03/9748), Neuropsicóloga.

Mais Notícias