24 de setembro de 2024

TG acompanha expedição para encontrar ninho de uma das aves mais raras do Brasil

Bicudinho-do-brejo vive exclusivamente no Sul do país e está ameaçado de extinção. Conheça a história de Rosaldo, um indivíduo da especie que é estudado há mais de 16 anos. Bicudinho-do-brejo é uma das aves mais raras do Brasil
Gabriel Marchi
Para encontrar o bicudinho-do-brejo (Formicivora acutirostris), uma das aves mais raras do Brasil, é preciso viajar até o sul do país, mais precisamente nos brejos salinos do litoral do Paraná, Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul.
Com apenas 15 centímetros e pouco menos de 10 gramas, a ave é motivo de uma busca desafiadora. Não é preciso olhar para o alto das árvores, mas sim calçar as botas, entrar na vegetação alagada e procurar com muita paciência e cuidado. Descoberta em 1995, ela está ameaçada de extinção.
Só que o desafio é ainda maior: não encontrar apenas o bicudinho-do-brejo, mas sim o ninho da espécie. A equipe do Terra da Gente decidiu encarar a missão ao lado de pesquisadores que dedicam a vida para estudar e proteger esse animal, ainda tão enigmático para o meio científico.
Informações sobre o bicudinho-do-brejo
Arte TG
Os ninhos, construídos num período de oito dias com a própria vegetação, ficam pendurados em arbustos. De acordo com o pesquisador da Unesp Marcos Bornschein, um dos pioneiros na descoberta da espécie, a fêmea bota um ovo e, após um dia, coloca outro. Ambos possuem manchas marrons. Macho e fêmea se revezam no ninho para chocar os ovos.
Imagens inéditas feitas pela equipe do TG mostram a interação curiosa entre o casal no cuidado com o ninho, e revelam até trocas de turnos no cuidado com os futuros filhotes.
Ambos os pais têm a função de chocar os ovos
Devanir Gino/TG
Estima-se que existam cerca de mil bicudinhos-do-brejo em ambiente natural, por isso a espécie é considerada ameaçada, principalmente porque o habitat onde vive, chamado brejo-salino, está deixando de existir pelo avanço dos manguezais.
“Nas modelagens que a gente fez da dinâmica populacional, da viabilidade populacional do bicudinho, a previsão é dramática, com uma situação de extinção entre 30 e 50 anos”, afirma Marcos.
Rosaldo
Para tentar mudar esse futuro e salvar a espécie é preciso de muito estudo, projetos de conservação e parcerias. Uma das ações é o anilhamento das aves em vida livre para controle e coleta de dados.
Rosaldo é um bicudinho-do-brejo estudado há mais de 16 anos e símbolo da luta para a preservação da espécie
Devanir Gino/TG
A equipe do TG acompanhou esse processo em uma nova fêmea, mas também foi atrás de um bicudinho-do-brejo famoso e conhecido como Rosaldo, que virou símbolo da preservação da espécie. Ele recebeu anilha quando tinha apenas nove dias de vida e é acompanhado pelos pesquisadores há 16 anos.
Rosaldo é o bicudinho-do-brejo mais velho que se tem conhecimento e funciona como um laboratório vivo, oferendo cada dia mais e mais informações sobre o comportamento e desenvolvimento da espécie.
Parceria com o zoo
Além das anilhas, a parceria do projeto Bicudinho-do-brejo com o Zoológico de São Paulo também busca aumentar as chances de sobrevivência da ave.
O objetivo é manter uma pequena população da espécie sob cuidados humanos para aumentar a variabilidade genética em cativeiro, de acordo com Marcos, e depois conseguir reintroduzir alguns indivíduos na natureza em locais já mapeados pelos pesquisadores que sejam seguros.
Bianca Reinert e a dedicação à espécie
Há cerca de 29 anos, o primeiro bicudinho-do-brejo foi descoberto no município de Matinhos (PR) por Marcos, em parceria com a ornitóloga Bianca Luiza Reinert.
Bianca, que faleceu de câncer em 2018, dedicou a vida ao estudo da ave e criou até uma reserva natural para proteger a espécie no hábitat em que ela vive.
Bianca Reinert segurando um bicudinho-do-brejo
Acervo Pessoal
Durante os períodos de reprodução, de setembro a fevereiro, por dois anos seguidos ela foi praticamente todos os dias a campo para coletar dados sobre o bicudinho-do-brejo.
“Ela tem uma importância enorme por fundar a base metodológica que a gente segue até hoje. Se hoje a gente tem muito conhecimento desta espécie, é porque aprendemos muito com ela. E ela aprendeu muito, porque ficou muito no campo”, finaliza o amigo Marcos.
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