20 de setembro de 2024

Tio de mulher que morreu após ser atingida por bala perdida diz que crianças chamam pela mãe

Gilson Manoel da Silva, de 50 anos, disse que a família vai brigar com o estado por justiça, principalmente para os filhos da sobrinha. Vítima conversava com uma amiga em uma praça quando foi baleada na cabeça. O caso é investigado pelo 5° DP de Santos e a PM, que instaurou um inquérito. Edneia deixa seis filhos a última gestação há 10 meses. Ela morreu em Santos após ser atingida por uma bala perdida
Arquivo pessoal
O tio de Edneia Fernandes Silva, de 31 anos, que morreu após ser atingida por uma bala perdida na cabeça em Santos, no litoral de São Paulo, contou ao g1 que os filhos dela estão a chamando pela casa, e que a situação é muito complicada. Ele afirmou que a família vai acionar o estado na Justiça. A Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) disse, em nota, que a mulher foi atingida durante uma troca de tiros entre os policiais e suspeitos.
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“A gente fica triste em pensar como vai ficar a situação das crianças […]. Pensa que é fácil a criança olhando de um lado para o outro, chamando o nome da mãe e [você] sabendo que ela não vai voltar mais?”. A morte de Edneia foi confirmada na noite se sexta-feira (28), na Santa Casa de Santos. Ela deixa seis filhos.
Gilson Manoel da Silva, de 50 anos, culpou a ação dos PMs na Praça José Lamacchia, no bairro Bom Retiro, onde a mulher foi atingida enquanto conversava com uma amiga, na última quarta-feira (27). “A bala partiu deles [PMs], não foi de bandido”. O familiar reforçou que não houve troca de tiros na comunidade, só no boletim de ocorrência (veja a versão abaixo).
O tio disse, ainda, que os policiais não socorreram a sobrinha. Questionada sobre a alegação, a SSP-SP não respondeu. A vítima foi levada por testemunhas à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Noroeste e, em seguida, transferida à Santa Casa, onde permaneceu internada até a morte.
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“Vamos brigar, colocar um advogado contra o estado, mas é isso, só a polícia tem razão e eles matam mesmo”, disse o tio, sobre o disparo que acertou Edneia. Os policiais do 5º DP de Santos assumiram a investigação do caso.
A ação, que será movida contra o estado, de acordo com ele, visa para responsabilizar o governo a ajudar o pai dos seis filhos de Edneia. “Quem vai cuidar da educação das crianças e dos traumas que elas vão carregar para toda a vida?”, questionou. “Nós não somos nada. Estamos jogados às traças”.
“Isso acontece porque é favela. Acham que o pessoal lá não é ser humano, não é ninguém. Ela vai virar estatística”.
Gilson disse que nunca imaginou passar por tal situação. Ele diz se perguntar: ‘quem os policiais queriam acertar com o tiro?’. “Não tinha ninguém ali na hora de bandido. Quem eles queriam acertar? […] quero saber se os policiais vão dormir em paz sabendo o que fizeram com a minha sobrinha”.
Mulher de 31 anos morre após ser vítima de bala perdida em Santos, SP
Arquivo pessoal
Posicionamento
Em nota, a SSP-SP informou que todas as circunstâncias relativas aos fatos são rigorosamente investigadas pelo 5º DP de Santos e pela Polícia Militar, que instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM).
Na ocasião, exames periciais foram solicitados e, tão logo os laudos sejam concluídos, serão remetidos à autoridade policial para análise e esclarecimento do caso.
Segundo a pasta, as forças de segurança do estado são instituições legalistas que operam estritamente dentro de seu dever constitucional, seguindo protocolos operacionais rigorosos.
As corregedorias, de acordo com a SSP-SP estão à disposição para formalizar e apurar toda e qualquer denúncia contra seus agentes.
Versão do BO
Tiroteio ocorreu na Praça José Lamacchia, no bairro Bom Retiro, em Santos (SP)
Thais Rozo/g1
Policiais militares da Rocam faziam patrulhamento em motos pela Avenida Hugo Maia, sentido Jovino de Melo, quando viram uma motocicleta em alta velocidade entrando na avenida. Eles pediram para o motociclista parar, mas o piloto não obedeceu, fugiu e entrou na praça.
Para se resguardar, a equipe da PM parou de acompanhar o veículo e ficou parada no cruzamento da Avenida Hugo Maia com a Jovino de Melo. Neste momento, segundo o boletim de ocorrência, o motociclista e o garupa teriam atirado aproximadamente cinco vezes em direção aos agentes.
Um dos PMs reagiu e efetuou um tiro contra os suspeitos. Em seguida, os homens abandonaram a moto e correram em direção ao beco da praça, disparando mais cinco vezes. Os policiais fizeram o retorno pela Rua Washington de Almeida e acessaram a praça pelo lado oposto.
A moto foi encontrada sem a chave na ignição. Em pesquisa no sistema, a equipe constatou que não havia queixas de crimes envolvendo o veículo. Durante essa consulta, eles foram informados por testemunhas de que a mulher em questão havia sido baleada e socorrida.
No baú da moto, a PM encontrou um conjunto de capa de chuva preto, um boné vermelho e um carregador de celular. Também foi requisitada perícia para o local e exame residuográfico para as mãos do PM que fez o disparo. A pistola dele também foi apreendida.
O caso havia sido registrado como homicídio tentado e localização e apreensão de veículo na Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Santos. Os suspeitos não foram encontrados. O veículo abandonado foi encaminhado ao 7º Distrito Policial (DP).
Vítima não resistiu aos ferimentos e morreu na Santa Casa de Santos (SP)
Alexsander Ferraz/A Tribuna Jornal
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