‘Começa com falas e cantadas mal postas e vai escalando para um desrespeito que eu também não esperava. Até situações que mulher nenhuma precisa passar, merece passar ou deveria passar’, afirma a ministra da Igualdade Racial sobre episódio envolvendo Silvio Almeida. ‘Tocar, assediar ou violentar o corpo de uma mulher é uma das coisas mais abomináveis que pode existir’, afirma Anielle Franco
O Fantástico deste domingo (6) exibiu uma entrevista com Anielle Franco. A ministra da Igualdade Racial falou sobre a denúncia de importunação sexual que levou à demissão de Silvio Almeida, ex-ministro dos Direitos Humanos. Segundo Anielle, os episódios de assédio começaram há um ano.
Sônia Bridi: Quanto tempo durou? Quando foi que começou isso?
Anielle Franco: Durou alguns meses, assim, mais de ano, na verdade. Começa com falas e cantadas mal postas, eu diria. E vai escalando para um desrespeito que eu também não esperava. Até situações que mulher nenhuma precisa passar, merece passar ou deveria passar.
Sônia Bridi: Uma das coisas que foi publicada, que saiu na imprensa, é que ele teria tocado a senhora por debaixo da mesa durante uma reunião.
Anielle Franco: É. Desculpa, gente.
Sônia Bridi e Anielle Franco
Fantástico/ Reprodução
A reunião foi no dia 16 de maio de 2023.
Anielle Franco: A gente tem pelo menos 30 milhões de mulheres no país que vivenciaram ou vivenciam algum tipo de violência ou de importunação sexual ou de assédio. E não é normal a gente passar por isso em pleno 2024, independente de quem faça, sabe? Você tocar, assediar ou violentar o corpo de uma mulher é uma das coisas mais abomináveis que pode existir. Mas é por isso, Sônia, que toda vez que eu preciso falar sobre isso, lembrar disso, eu digo para mim mesma que, sim, Anielle foi vítima. Mas Anielle, hoje, enquanto ministra de Estado, enquanto mãe, feminista negra, irmã, tem uma responsabilidade também nesse lugar de combater e fazer com que esse país vire um lugar melhor para todos nós.
Sônia Bridi: Tem uma notícia que saiu também que diz que a senhora teria falado com o ex-ministro, teria dito que isso precisava parar, e que, mais uma vez, ele se portou de maneira desrespeitosa.
Anielle Franco: Eu sempre achei que todo e qualquer problema que acontecesse na minha vida eu seria capaz de resolver sozinha. Nós, que somos mulheres pretas, de favela, temos muito isso. Eu aprendi muito isso com a minha mãe, com a minha irmã. Teve um momento em que eu achei que conseguiria. Era uma coisa dele.
Sônia Bridi: Achava que ia parar sozinho?
Anielle Franco: Eu achava, e eu achava também que, quando eu falasse, eu seria respeitada.
Sônia Bridi: E não foi?
Anielle Franco: Não. E esse foi o último momento em que eu tentei. Quando de fato mais uma barreira foi rompida, mais uma fala ou desrespeito aconteceu. E aí eu entendi que não tinha como.
Silvio Almeida nega as acusações
No mesmo dia em que a denúncia contra ele se tornou pública, Silvio usou o site do Ministério dos Direitos Humanos para publicar uma nota e postou um vídeo nas redes sociais negando as acusações.
Sônia Bridi: Qual é a posição do seu cliente, da defesa, diante dessas múltiplas acusações de importunação sexual?
“Em primeiro lugar, ele nega veementemente todas essas referências feitas em desfavor dele. Em segundo lugar, e o mais importante, é que essa investigação, para a defesa, continua sigilosa. Nós não tivemos acesso a nenhum depoimento — nem da ministra, nem de outras pessoas. Sabemos através da imprensa. O que não é razoável é que, em plena vigência da Constituição, que se chama de ‘Constituição Cidadã’, a defesa saiba de episódios esparsos a partir do noticiário, da imprensa escrita, falada, televisada. Evidentemente, quando esses fatos forem impostos – esses fatos não, essas versões -, vamos contraditar todos eles e a verdade vai prevalecer”, diz Nélio Machado, advogado de Silvio Almeida.
Veja a entrevista completa de Anielle Franco ao Fantástico no vídeo abaixo.
Anielle Franco diz que importunação sexual de Silvio Almeida começou há um ano
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