2 de novembro de 2024

‘Todo mundo perdeu tudo’, diz brasileiro que mora em Valência e viu enchente invadir casa; VÍDEO


Pernambucano Bruno Nascimento e a família tiveram que se abrigar em depósito no primeiro andar da casa para escapar da inundação. Imagens mostram bairro de Aldaia destruído após águas baixarem. Família brasileira mostra como ficou bairro em que morava em Valência, após enchente
O pernambucano Bruno Nascimento, de 32 anos, viveu momentos de desespero com a família na cidade de Valência, na Espanha, durante o temporal que devastou parte da região metropolitana da cidade, na última terça-feira (29), e está sendo considerada a maior enchente do século na região. No bairro de Aldaia, onde eles moravam, a água subiu rapidamente e alcançou 1,70 metro, levando as oito pessoas da casa a se abrigarem num tipo num depósito localizado numa parte mais alta da casa.
“Estamos todos bem de saúde, mas perdemos tudo. Parte da água da chuva escorreu para essa parte da cidade onde a gente morava e onde tem um ‘rio seco’; um tipo de canal para escoamento da água. Foi desesperador”, contou Bruno ao g1, por telefone. Nas imagens, é possível ver a destruição causada pela enchente, que deixou carros empilhados, lama por todo lado e bairros inteiros destruídos (veja vídeo acima).
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Segundo o carpinteiro, na terça-feira ele chegou do trabalho por volta das 18h30 e ficou reunido com a esposa, Renata Arruda, de 26 anos, e a filha de seis meses do casal, Cecília. Depois de colocarem a bebê para dormir, quando já estava reunido com outros familiares na sala de casa, Bruno disse que os telefones celulares de todos receberam alertas do governo sobre chuvas fortes e recomendação de que permanecessem em casa.
“Foi um barulho muito alto no celular de todo mundo, ao mesmo tempo, dizendo para não sair de casa. Mas não estava chovendo. Como minha mãe é medrosa, ela foi olhar o rio seco ao lado de casa e disse que estava cheio. A gente não ficou preocupado porque esse canal é para isso mesmo, para conter a água na parte baixa da cidade. Só que 15 minutos depois, a água já começou a entrar dentro de casa e a rua já estava toda alagada. Foi um tempo muito curto e a gente entrou em desespero”, explicou.
A família tentou por mais de uma hora retirar a água da chuva, recolhendo com vasilhas e desviando o que entrava em casa para um terraço interno, mas desistiu e decidiu se abrigar no depósito, ao ver que a porta da residência não resistiria muito tempo segurando a enchente.
“A gente pegou alguns documentos, conseguiu subir uma TV, um notebook e algumas roupas. Pegamos nossa filha e subimos todos para o trastero [depósito, em espanhol]. Logo depois, a porta estourou e a água invadiu a casa. Não sobrou nada, chegou a 1,70 metro”, disse o brasileiro.
Casa onde Bruno Nascimento morava com a família, em Valência, na Espanha, ficou destruída após enchente
Bruno Nascimento/
Perto das 22h, um casal de vizinhos fez contato e chamou os brasileiros para atravessarem para a casa deles pela janela do primeiro andar, pois a residência do casal espanhol estava em melhores condições.
Os brasileiros, então, pularam a janela e depois ajudaram a socorrer outra família de vizinhos idosos que estavam numa situação semelhante e com um homem acamado, se recuperando de uma cirurgia.
De acordo com Bruno Nascimento, ele e o padrasto conseguiram carregar o homem para a residência do casal e ajudaram outras cinco pessoas a se abrigarem no mesmo local, que neste momento passou a contar com 16 pessoas.
“A gente teve muito medo. A água chegou no topo da escadaria e ninguém conseguiu dormir. Perto das 3h da madrugada, começou a baixar, e de manhã foi que a gente viu a situação de verdade. O bairro todo está sem água e sem energia. Os carros todos empilhados, alguns ainda embaixo da água, todo mundo perdeu tudo”, lamentou Bruno.
Canal para escoamento de água no bairro de Aldaia, em Valência, com veículos boiando dois dias após enchente
Bruno Nascimento/Arquivo pessoal
Família está abrigada na casa de parentes
Pernambucanos que moram em Valência, na Espanha, mostram destruição após tempestade
A mãe de Bruno mora há 25 anos na Espanha e o padrasto dele também já vive há várias décadas no país e tem outros irmãos na região de Valência. Depois da enchente, os familiares se dividiram e foram abrigados por parentes, enquanto tentam superar o trauma e recomeçar a vida.
Bruno morou dos 11 aos 19 anos na Espanha, retornou ao Brasil – onde passou 12 anos – e voltou para o país da Península Ibérica há dois anos, com a esposa, Renata. Primeiro morou em Málaga e há um ano se mudou para Valência.
Imagem de prateleiras vazias em supermercado da cidade de Valência, na Espanha
Bruno Nascimento/Arquivo pessoal
Numa das imagens registradas por Bruno, é possível ver que as prateleiras do supermercado local estão vazias e que faltam produtos nos centros de compras. A falta de comida provocou saques a lojas de alimentos e o exército foi enviado para às ruas.
Após a catástrofe, milhares de voluntários começaram a chegar a Valência para ajudar na limpeza, mas o governo espanhol pediu para que as pessoas parassem de ir para a região, para não atrapalhar os resgates.
“A gente tinha para onde ir; estamos abrigados na casa do irmão do meu padrasto. Os vizinhos ainda estão lá, no mesmo bairro. Tá todo mundo traumatizado; ninguém quer mais voltar para lá. Vai demorar para poder voltar porque ficou tudo destruído, tá sem condições de morar. Agora a gente vai pensar em como reconstruir a vida”, finalizou Bruno Nascimento.
Objetos e roupas da família do pernambucano Bruno Nascimento destruídos após enchente em Valência, na Espanha
Bruno Nascimento/Arquivo pessoal
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