25 de dezembro de 2024

Trabalho de escribas no Egito causava problemas de saúde que afetavam coluna, pescoço e até mandíbula

Pesquisa aponta que longos tempos sentados e tarefas repetitivas podem ter causado mudanças esqueléticas degenerativas nos escribas egípcios. Tumbas egípcias de escribas, ocupação que já sofria com desgastes físicos causados pelo trabalho.
Instituto Tcheco de Egiptologia
Dores na coluna e no pescoço podem ser facilmente associadas a profissões atuais, com períodos prolongados na mesma posição e uso constante do celular, mas esses problemas são muito mais antigos do que se imagina.
Segundo estudo publicado nesta quinta-feira (27) na revista científica “Scientific Reports”, os escribas egípcios já sofriam consequências físicas por conta das tarefas repetitivas e das posições em que se sentavam.
✍🏼Os pesquisadores identificaram que a rotina ligada ao trabalho pode ter levado a mudanças esqueléticas degenerativas naqueles que tinham essa profissão. O estudo também mapeou quais alterações nas articulações eram mais comuns entre os escribas em comparação a homens com outras ocupações.
“Nosso estudo ajudou a revelar que pessoas que pertenciam à elite da época e, portanto, tinham melhores condições de vida do que o resto da população, ainda podiam ter problemas de saúde relacionados ao trabalho”, explica a egiptóloga e coautora do estudo, Veronika Dulíková.
A pesquisadora do Instituto Tcheco de Egiptologia da Charles University ainda comenta que, embora o trabalho dos escribas não fosse fisicamente exigente, envolvia ficar sentado por muito tempo e o uso de instrumentos de escrita – algo que afetou diretamente o sistema musculoesquelético desses indivíduos.
Da cabeça aos joelhos
No estudo foram analisados 69 restos esqueléticos de homens adultos – 30 dos quais eram escribas – que foram enterrados entre 2700 e 2180 a.C. no Egito.
👉Os pesquisadores identificaram que as mudanças degenerativas mais comuns nos escribas estavam nas seguintes regiões do corpo:
Articulações que conectam a mandíbula inferior ao crânio
Clavícula direita
Parte superior do úmero (osso do braço), especialmente onde ele encontra o ombro
Primeiro osso metacarpo do polegar direito
Parte inferior da coxa, no encontro com o joelho
Toda a coluna, principalmente na parte superior
Os autores sugerem que as alterações degenerativas observadas na espinha e nos ombros dos escribas podem resultar os longos períodos que passavam sentados com as pernas cruzadas, com a cabeça inclinada para frente, coluna flexionada e braços sem apoio.
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Problemas no Egito e hoje
Apesar das tarefas realizadas no Egito serem diferentes das profissões atuais, o desgaste de algumas estruturas do corpo se mostrou muito semelhante.
“Do meu ponto de vista, nada mudou. Se você faz um trabalho que pode não ser fisicamente exigente, mas as tarefas e posições são repetitivas e você fica nelas por muito tempo, mais cedo ou mais tarde seu corpo tem que reagir a elas”, analisa a antropóloga e coautora do estudo, Petra Havelková.
Havelková, que é pesquisadora do Departamento de Antropologia do Museu Nacional de Praga, comenta que, no caso dos escribas, a sobrecarga da coluna cervical estava intimamente relacionada à postura da cabeça para frente com o pescoço flexionado, posição característica de muitas ocupações modernas.
O mesmo pode ser dito do desgaste da articulação do ombro. O problema, que antes era associado a posição elevada do braço de pintores, hoje pode ser vinculado à posição estática com os braços sem apoio, algo muito comum durante a digitação.
“Em termos de fatores de risco ocupacionais, faz pouca diferença se você era um escriba no antigo Egito ou se trabalha atualmente”, compara Havelková.
A antropologista pontua que a vantagem que pode se ter hoje em dia é o maior conhecimento da ergonomia, algo que pode auxiliar na tentativa de eliminar os fatores de risco.
“Agora existem medicamentos que podem retardar o desenvolvimento de alterações degenerativas e sabemos muito mais sobre suas causas, mas vários desses problemas foram tratados pelos escribas e serão tratados por nós e nossos filhos”, analisa a antropóloga.
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