28 de dezembro de 2024

Tráfico internacional de animais: micos-leões-dourados e araras-azuis são resgatados doentes e com fome em embarcação clandestina; veja flagrante

Fantástico acompanhou a jornada de volta e a tentativa de reintegração desses animais à natureza. Tráfico internacional de micos-leões-dourados e araras volta com força
O Fantástico deste domingo (10) destacou novos flagrantes que revelam a volta significativa do tráfico internacional de animais silvestres no Brasil.
Recentemente, um incidente veio à torna envolvendo a arara-azul-de-lear da caatinga baiana e micos-leões-dourados do Rio de Janeiro, que foram arrancados de seu habitat e cruzaram o Atlântico.
Eles saíram da Bahia e estima-se que passaram cerca de 40 dias num veleiro. A embarcação encalhou em fevereiro e foi abordada pela Guarda Costeira do Togo, no oeste da África. O destino final seria a Ásia ou a Europa, onde deveriam ser vendidos ilegalmente por milhares de dólares.
“Eles estavam em uma condição inacreditável”, conta a veterinária, Juliana Junqueira.
Oito micos-leões foram encontrados à beira da morte, repletos de óleo de motor, em gaiolas apertadas e sem pelos, assim como as araras.
Oito micos-leões foram encontrados à beira da morte, repletos de óleo de motor, em gaiolas apertadas e sem pelos
Reprodução/ TV Globo
Os animais foram resgatados e repatriados graças a uma cooperação internacional do Ibama e da Polícia Federal, com apoio de outras instituições.
As araras e os micos debilitados foram temporariamente abrigados na residência do embaixador brasileiro até que a documentação necessária fosse providenciada para trazê-los de volta ao Brasil.
Araras-azuis resgatadas
Reprodução/ TV Globo
“Em uma situação assim, digna de um filme, levamos esses animais para dentro da casa do embaixador brasileiro, que acabou ajudando muito nesse trabalho até que a documentação pudesse ser produzida e que a gente conseguisse de uma forma de trazer os animais de volta”, relata Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama.
“Fiquei muito triste. Eu vi que era a minha humanidade que estava sendo testada por eu aceitar ou não aquele estado que eu tinha obrigação de fazer tudo para salvar aqueles bichos”, diz o embaixador do Brasil no Togo Nei Futuro Bitencourt.
No Togo, foram presos um brasileiro, um surinamês, um uruguaio e um togolês. Um israelense envolvido conseguiu fugir.
Repatriação e reabilitação
Foram seis dias no Togo até embarcar de volta ao Brasil.
As araras foram para um centro do Ministério da Agricultura, no litoral sul paulista. O grupo de micos-leões foi para o Rio de Janeiro e, por enquanto, estão em viveiros no Centro de Primatologia, onde vivem em duplas.
“Já deu para perceber que eles têm uma grande possibilidade de se recuperarem muito rapidamente, então isso nos deixou assim, muito entusiasmados”, afirma Alcides Pissinatti, médico veterinário do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro.
Depois da quarentena, será observado se eles estão aptos a voltar para a floresta.
“A gente não sabe de quais famílias eles saíram. Então é, é só estudando que a gente vai poder entender e planejar este procedimento de reintrodução deles na natureza”, afirma Luiz Paulo Ferraz, secretário executivo da Associação Mico-Leão-Dourado.
O Fantástico acompanhou uma sala de emergência improvisada, com chocadeiras artificiais, no interior de São Paulo – para onde ovos apreendidos foram levados.
Em poucos dias, os primeiros filhotes começam a nascer. Com uma seringa, a equipe alimenta os bichinhos um a um, a cada duas horas. “Dos 60 ovos aprendidos na primeira leva, a cada dois, três dias que passavam, nasciam três, quatro, cinco araras”, relata o biólogo Beto.
Depois que a primeira barreira se quebra, a chamada câmara de ar, o filhote deve romper a casca em até três dias. E aí o filhote fica numa espécie de UTI, com controle de umidade e temperatura. E ele reage bem: 10 dias depois, já está com a saúde estabilizada. Trinta e oito dias depois, o filhote ganha peso, tamanho.
Cinco meses depois dos primeiros ovos eclodirem, as araras são consideradas pré-adolescentes. Ainda vão ganhar mais peso, tamanho e colorido. Nessa fase, o trato dos bichos é feito duas vezes por dia – pela manhã e pela tarde.
Dos 120 ovos levados para o criadouro particular, 67 não vingaram. Em breve, os sobreviventes do tráfico serão levados do interior de São Paulo ao Sul do país.
Alerta contra o comércio ilegal desses animais
Hoje são estimados 4.800 micos-leões-dourados. O especialista ressalta que desde a chegada dos portugueses ao Brasil, é identificado na história o tráfico do mico-leão-dourado que é utilizado como pet nas famílias.
“Esteve muito próximo dos riscos de extinção na década de 70, década de 80, a estimativa era de cerca de 200 animais na natureza”, complementa Luiz Paulo.
Quanto às araras-azuis-de-lear, a estimativa dos pesquisadores é de que hoje existam 2.500 espécies na natureza. Na década de 1970, eram apenas 60 animais. E um dos fatores principais para esse número baixo foi justamente o tráfico. O esquema envolve criminosos de diversas nacionalidades e funções.
No Brasil, a pena para quem caça ou retira animais silvestres da natureza em geral é uma multa.
“Se esse barco não tivesse encalhado, a gente nunca teria encontrado os animais. Quantos barcos não encalharam, quantas cargas a gente não viu? Por outro lado, esses a gente conseguiu. Esse fio a gente está puxando essa investigação está saindo”, diz Juliana Machado Ferreira, Diretora da Freeland Brasil.
Não há números consolidados sobre o tráfico internacional de animais no país. Um levantamento da ONG Freeland aponta, com base em notícias, que mais de 140 mil animais foram apreendidos no Brasil entre 2018 e 2022, além de quase 900 ovos.
“Tanto mico-leão-dourado quanto a arara-azul-de-lear são duas espécies que quase foram extintas e foram recuperadas por meio de projetos importantes de conservação. A gente não pode colocar isso a perder com esse tráfico internacional”, ressalta Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama.
Ouça os podcasts do Fantástico
ISSO É FANTÁSTICO
O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1, Globoplay, Deezer, Spotify, Google Podcasts, Apple Podcasts e Amazon Music trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo.
PRAZER, RENATA
O podcast ‘Prazer, Renata’ está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito. Siga, assine e curta o ‘Prazer, Renata’ na sua plataforma preferida.
BICHOS NA ESCUTA
O podcast ‘Bichos Na Escuta’ está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito.

Mais Notícias