Joel Castro foi morto dentro de casa, em Salvador, em 2010. Acusados passam por júri popular nesta segunda-feira (6). Caso menino Joel: familiares e amigos relembram crime ocorrido há 13 anos em Salvador
“Acordo todos os dias e penso no meu irmão”, desabafou Jeanderson Castro, irmão de Joel, menino morto aos 10 anos em Salvador. Jeanderson socorreu o irmão na noite de 21 de novembro de 2010, quando ele foi baleado dentro de casa, no Nordeste de Amaralina, enquanto se arrumava para dormir.
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Treze anos depois, os réus do caso, o policial militar Alexinaldo Santana Souza e o ex-policial Eraldo Menezes de Souza, são julgados no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador. O júri popular começou na segunda-feira (6) e ainda não tem data de finalização. [Relembre caso ao final da matéria]
Joel tinha 10 anos quando foi morto no Nordeste de Amaralina, em Salvador
Reprodução/TV Globo
Durante mais de uma década, a família de Joel convive com a dor da perda e com a ansiedade pelo julgamento dos acusados. Quando viu o irmão ser baleado na cabeça, Jeanderson tinha apenas 21 anos.
“Eu carreguei ele no colo, a gente desceu. Meu pai pediu socorro e ele [policial] apontou o revolver e disse: ‘se você voltar, eu faço com você o mesmo que fiz com meu filho'”, relembrou o jovem no documentário Menino Joel.
RELEMBRE: Tenente que comandou ação policial da morte de Joel é preso na Bahia
MEMÓRIA DO CASO: PMs são afastados após morte do menino Joel em Salvador
Irmão de Joel o socorreu após menino ser atingido por tiro dentro de casa em Salvador
TV Bahia
Dois anos após a morte do irmão, Jeanderson decidiu se mudar do Brasil. Ele vive na Irlanda há 11 anos, mas afirma que a mudança de cenário não o fez esquecer do trauma.
“Eu não conseguia mais ser quem eu era [em Salvador]. Morar fora não tem tanta diferença, eu não saí de lá e simplesmente tudo acabou”, disse.
Melhor amigo de Joel em 2010, na primeira foto, e em 2024, com 25 anos.
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Quem também não esquece o dia do crime é o jogador de futebol Vanderson Silva Teles, o melhor amigo de Joel. Eles moravam na mesma rua e, no dia do crime, Vanderson ouviu os disparos – mas não imaginava que um deles atingiria o amigo.
“Cortou o coração, porque foi dentro de casa. Traumatizou a nossa infância”, desabafou.
A professora do menino, Telma Casais, lembra que a morte de Joel foi difícil para toda a comunidade escolar. No local, os funcionários lembram do mini capoeirista como uma criança alegre, divertida e amiga de todos.
“Eu penso que se ele tivesse ficado aqui, teria dado certo. Ficou esse vazio, essa ausência”, desabafou.
Enterro do menino Joel, em Salvador
TV Bahia
Cerca de 200 pessoas foram para o enterro do menino, entre elas crianças da escola, do bairro e do grupo de capoeira. A despedida foi marcada por protestos por justiça.
A morte de Joel chocou a comunidade e virou documentário, grafite no bairro e até nome de unidade de saúde. A Unidade de Pronto Atendimento do Nordeste de Amaralina, inaugurada em 2017, leva o nome “Menino Joel”.
Durante os 13 anos de espera, os pais de Joel escolheram lembrar dele como o pequeno capoeirista talentoso, que começou a dar os primeiros golpes com apenas dois anos de idade. Nesta segunda-feira, dia em que o julgamento foi iniciado, eles torcem para que o PM e o ex-policial sejam condenados.
“Espero que a justiça seja feita porque esse é o único retorno que pode ser dado para nossa família”, afirmou o pai do menino, o capoeirista Mestre Ninha.
Cronologia do caso
👉 Joel foi baleado no dia 21 de novembro de 2010, dentro da casa em que morava.
👉Na época, a PM informou que fazia uma operação no nordeste de Amaralina e houve troca de tiros com suspeitos. A população deu outra versão e afirmou que os agentes já chegaram no local atirando.
👉Nove policiais militares que participaram da operação foram denunciados por homicídio com qualificadoras de motivo torpe, fútil e sem possibilidade de defesa da vítima.
👉 Os nove policiais envolvidos foram afastados das operações de rua pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). Eles foram transferidos para atividades administrativas até o fim das investigações.
👉 Nove dias depois do crime, um tenente da Polícia Militar, coordenador da operação que resultou na morte de Joel, foi preso por suspeita de participação em uma quadrilha de clonagem de cartões de crédito. Ele ficou detido no Batalhão de Polícia de Choque, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Ele era um dos nove PMs que cumpria atividades administrativas.
👉 O laudo da perícia apontou que o tiro que matou Joel saiu da arma do soldado Eraldo Menezes de Souza. O PM fazia parte da guarnição comandada pelo tenente Alexinaldo Santana Souza. Eles foram denunciados pelo MP-BA menos de dois meses após o crime, em janeiro de 2011, e desde então respondem o processo em liberdade.
👉 Os outros sete PMs foram retirados do processo porque na época o juiz entendeu que eles não estavam no local do crime no momento que Joel foi morto.
👉 Em 8 de fevereiro de 2011, a Justiça aceitou integralmente a denuncia do MP-BA e determinou a citação dos acusados.
👉 Em 13 de outubro de 2011 aconteceu a primeira audiência de custódia no Fórum Ruy Barbosa. Nela, os pais de Joel e o irmão mais velho, que o socorreu, foram ouvidos.
👉 Em 17 de novembro de 2011 aconteceu a segunda audiência de instrução e 18 testemunhas de defesa e acusação foram ouvidas.
👉 Em 2014, Eraldo foi demitido da Polícia Militar. Já o tenente Aleixinaldo passou por um período de detenção e continua na ativa.
👉 Só em 14 de junho de 2023, mais de uma década após o crime, o MP-BA apresentou uma lista de testemunhas para depor no plenário do júri.
👉Apenas o tenente Alexinaldo Santana Souza e o ex-soldado Eraldo Menezes de Souza vão ser julgados em júri popular nesta segunda-feira.
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