25 de dezembro de 2024

Tribunal do Júri do Rio condena Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz pelos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes


Ronnie Lessa é condenado a 78 anos de prisão e, Élcio de Queiroz, a 59 anos. Eles firmaram acordos de delação premiada. Por isso, o tempo em que permanecerão na cadeia ainda será determinado pela Vara de Execuções Penais. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro condenou, nesta quinta-feira (31), os assassinos confessos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Ronnie Lessa, a 78 anos e nove de prisão; e Élcio de Queiroz, a 59 anos e oito meses de cadeia.
Às 18h18, a sentença dos assassinos confessos de Marielle e Anderson decidida pelo Tribunal do Júri.
“O júri é uma democracia. Democracia esta que Marielle Franco defendia. Talvez justiça, que tanto se falou aqui, fosse que o dia de hoje jamais tivesse ocorrido. Talvez justiça fosse Marielle e Anderson presentes”.
A justiça, nas palavras da juíza Lúcia Glioche:
“Fica aqui para os acusados presentes, e serve para os vários Ronnies e vários Élcios que existem por aí soltos, a seguinte mensagem: a Justiça, por vezes, é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta. Mas ela chega. A Justiça chega mesmo para aqueles que, como os acusados, acham que jamais vão ser atingidos pela Justiça”.
E leu o veredicto:
“A Justiça chegou para os senhores Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz. Os senhores foram condenados pelos jurados do Quarto Tribunal de Júri da capital: 78 anos e 9 meses de reclusão e 30 dias-multa para o acusado Ronnie; 59 anos de prisão e 8 meses de reclusão, 10 dias-multa para o acusado Élcio. Saem os dois condenados a pagar até os 24 anos do filho de Anderson Gomes, Arthur, uma pensão. Ficam os dois condenados a pagar juntos R$ 706 mil de indenização por dano moral para cada uma das vítimas: Arthur, Agatha, Luyara, Mônica e Marinete. Condeno os acusados a pagarem as custas do processo e mantenho a prisão preventiva deles, negando o direito de recorrer em liberdade”.
Marinete, mãe da Marielle Franco; Antônio, o pai; a filha Luyara e a irmã Anielle se abraçam
Jornal Nacional/ Reprodução
As famílias destroçadas pela dor da perda se abraçaram emocionadas: Marinete, mãe da Marielle Franco; Antônio, o pai; a filha Luyara; a irmã Anielle; e a viúva de Anderson Gomes. O alívio veio depois de quase 23 horas de julgamento. Mas a espera foi muito mais longa: seis anos, sete meses e 17 dias entre a execução e esta quinta-feira (31).
Os sete jurados – todos homens brancos de meia-idade – decidiram condenar, por unanimidade, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz por todos os crimes: duplo homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, emboscada, sem dar chance de defesa às vítimas, e também por receptação e tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, assessora de Marielle, que estava no carro na hora do ataque.
Os tiros contra a vereadora também atingiram a sociedade. Indignaram e revoltaram não só o Brasil. O assassinato transformou o nome de Marielle em um símbolo de luta pelos direitos humanos no mundo.
A investigação foi cheia de reviravoltas, cobranças, trocas de investigadores. Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram presos um ano depois das mortes de Marielle e Anderson, mas só confessaram participação nos assassinatos em 2023.
Na noite de quarta-feira (30), durante o interrogatório, Lessa falou com frieza sobre o crime:
“O Anderson parou o carro, o Élcio posicionou próximo. Mas ele deixou exatamente no ângulo que eu queria. Eu fiz os disparos, tentei concentrar o máximo no alvo, que era a vereadora Marielle”.
Ele contou quanto lucraria com o assassinato:
“Eu fiquei cego mesmo, fiquei cego, fiquei louco. A minha parte era R$ 25 milhões”.
E chegou a pedir perdão:
“Eu gostaria de aproveitar a oportunidade e, com absoluta sinceridade e arrependimento, pedir perdão às famílias da Marielle, a minha própria, à dona Fernanda e à toda sociedade pelos fatídicos atos que nos trazem aqui”.
Élcio de Queiroz também falou sobre a hora do crime:
“Paro meu vidro do motorista paralelo ao vidro do carona do carro do Anderson. O Ronnie já tinha baixado o vidro. Eu só escuto os disparos, foi uma rajada. Nessa rajada, logo em seguida, eu até narro na minha delação, caíram cápsulas na minha cabeça, no meu pescoço. Ele fala: ‘Vamos embora, toca, toca em frente’”.
Os dois já estão presos há cinco anos. Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz firmaram acordos de delação premiada que preveem redução de pena. Por isso, o tempo que eles permanecerão na cadeia ainda será determinado pela Vara de Execuções Penais.
Famílias de Marielle Franco e Anderson Gomes
Jornal Nacional/ Reprodução
“Marielle foi assassinada pelo que defendia, pelo que lutava para derrotar e para defender a democracia. Não há justiça possível que possa trazê-los de volta para nós. Mas, sem dúvida nenhuma, esse é um marco para que não aconteça mais”, afirmou Mônica Benício, viúva de Marielle Franco.
“Muito emocionante. Eu acho que é, em muitos anos, a primeira vez que eu vou abraçar o Arthur mais orgulhosa, poder contar para ele hoje isso vai ser muito bom. É um alívio, é um alívio porque foi cansativo, foi muitas vezes medo de não chegar nesse dia. E orgulho da gente”, disse Agatha Félix, viúva de Anderson Gomes.
“A nossa coragem trouxe a gente até aqui. É um dia muito difícil, muito difícil, porque eu tenho certeza que nenhum da gente queria estar aqui hoje. A Agatha queria o Anderson aqui, eu queria a minha mãe aqui. Mas com certeza o dia de hoje entra para história da democracia desse país e que a gente tem muitos passos pela frente ainda nesse caso como um todo, mas hoje, com certeza, é o primeiro passo por eles. A gente vai seguir lutando”, afirmou Luyara Franco, filha de Marielle.
“Não acaba aqui, porque tem mandantes. E, agora, a pergunta que nós vamos fazer é: quando serão condenados os mandantes? Porque aquele choro que eles exibem nas suas oitivas, para mim não é um choro sincero. Choro sincero foi o nosso. A Marielle não vai voltar, o Anderson não vai voltar. Esse vazio, nós vamos ter eternamente na nossa vida enquanto nós tivermos vivos”, afirmou Antonio Francisco da Silva Neto, pai de Marielle Franco.
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