Presidente americano disse nesta sexta-feira (21) que Zelensky dificulta o fechamento de acordos. EUA e Rússia se aproximaram e chegaram a discutir a guerra sem a Ucrânia. Trump sobe o tom das críticas e chama presidente da Ucrânia de ditador
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou nesta sexta-feira (21) que não considera essencial que o ucraniano Volodymyr Zelensky esteja presente nas negociações para tratar do fim da guerra entre Rússia e Ucrânia.
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
“Não acho que seja muito importante que ele esteja nas reuniões”, disse Trump em uma entrevista à Fox Radio. “Está lá há três anos. Ele faz com que seja muito difícil fechar acordos”, acrescentou.
No início desta semana, autoridades dos Estados Unidos e da Rússia se reuniram na Arábia Saudita para discutir o fim da guerra. A Ucrânia afirmou ter sido excluída do encontro.
A crise entre Estados Unidos e Ucrânia piorou nos últimos dias, com Trump e Zelensky trocando acusações. Especialistas em relações internacionais afirmam que o presidente americano tem adotado um discurso pró-Rússia.
Na quarta-feira (19), Trump chamou o presidente ucraniano de “ditador sem eleições” e sugeriu que Zelensky se apressasse para um acordo ou ficaria “sem um país”.
No mesmo dia, Zelensky acusou Trump de exigir US$ 500 bilhões em riquezas da Ucrânia em troca de apoio dos Estados Unidos. O presidente ucraniano afirmou ainda que não poderia vender o próprio país.
A mudança no comportamento dos Estados Unidos — que durante o governo de Joe Biden eram os maiores aliados da Ucrânia — colocaram a Europa em alerta. Só nesta semana, duas reuniões de emergência foram feitas para discutir a guerra e a segurança do continente.
Na visão dos líderes europeus, a aproximação dos Estados Unidos com a Rússia poderia permitir que Moscou conseguisse um acordo favorável, incluindo a conquista definitiva de territórios ucranianos. Isso, segundo eles, criaria um precedente para futuras agressões por parte dos russos.
Diante deste cenário, autoridades da Europa passaram a defender que o bloco tem mais autonomia em termos de segurança e dependa menos dos Estados Unidos.
LEIA TAMBÉM
Cessar-fogo na Ucrânia: o que querem Trump, Putin, Zelensky e Europa, e quais as possíveis implicações para o mundo
Cantora muda o hino do Canadá em protesto contra Trump na final de torneio de hóquei contra os EUA
Senado dos Estados Unidos aprova projeto de lei orçamentária sem apoio de Trump
Quais os interesses de cada parte?
Donald Trump durante coletiva de imprensa na Flórida, em 18 de fevereiro de 2025
REUTERS/Kevin Lamarque
A guerra de narrativas envolvendo Ucrânia, Rússia, Estados Unidos e Europa expôs os interesses de cada lado. Veja a seguir:
🔵 Interesses dos EUA: Trump condicionou a ajuda dos EUA à Ucrânia à concessão de direitos sobre as chamadas “terras raras”.
Essas regiões ucranianas possuem minerais valiosos, essenciais para a indústria eletrônica. Entre eles estão manganês, urânio, titânio, lítio, minérios de zircônio, além de carvão, gás e petróleo.
Inicialmente, Zelensky havia elaborado um “plano da vitória” que permitia a exploração desses minerais por aliados em solo ucraniano.
Diante da aproximação entre Trump e Putin, Zelensky recusou um acordo proposto pelos EUA sobre as terras raras, já que o governo Trump não forneceu as garantias de segurança necessárias.
Trump também sugeriu que a Ucrânia realize eleições presidenciais. Atualmente, no entanto, o país não pode realizar pleitos devido à Lei Marcial em vigor. Especialistas avaliam que, mesmo sem essa restrição, seria difícil organizar uma eleição em meio à guerra.
🔵 Interesses da Ucrânia: Zelensky busca garantias de que terá de volta todo o território invadido pela Rússia e quer uma paz duradoura.
A Ucrânia exige a devolução da Crimeia, anexada ilegalmente em 2014, e a retirada de todas as tropas russas do leste do país.
O governo ucraniano também quer ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar composta pelos EUA e países europeus.
No curto prazo, a Ucrânia continua pedindo financiamento e ajuda militar para combater as tropas russas e defender seu território.
Em um cenário pós-guerra, é avaliada a presença de tropas europeias para garantir a segurança do país.
A Ucrânia também está em processo de adesão à União Europeia.
🔵 Interesses da Rússia: Desde o início da guerra, Putin chamou o conflito de “operação militar” e afirmou que seu objetivo era “desnazificar” a Ucrânia.
Na prática, porém, Moscou teme a entrada da Ucrânia na Otan. A Rússia acusa os EUA de não terem cumprido uma promessa feita na década de 1990 de que não expandiriam a aliança militar.
Além disso, o Kremlin deseja manter sua influência histórica sobre a Ucrânia, que fez parte da União Soviética.
A Crimeia é vista como um território estratégico para a Rússia, pois tem uma posição privilegiada no Mar Negro e contribui para a defesa do país.
Em um eventual acordo de paz, a Rússia também quer manter o controle sobre as regiões de Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia, áreas ricas em recursos naturais e minerais.
🔵 Interesses da Europa: Para a Europa, a Ucrânia é fundamental para a estabilidade do continente.
O temor europeu é que a Rússia possa realizar novos ataques no futuro, caso não seja contida agora.
Por isso, uma solução para a guerra é vista como determinante para a segurança do bloco.
Diante desse cenário, líderes europeus exigem participação ativa nas negociações de paz entre Rússia e Ucrânia.
A postura dos EUA no conflito também levantou debates sobre a necessidade de uma Europa mais autônoma em questões de segurança, já que o continente historicamente depende dos norte-americanos nessa área.
Ao mesmo tempo, a Europa tem uma dependência energética da Rússia, principalmente de gás. No início de 2025, a Ucrânia encerrou o trânsito de gás russo pelo seu território, afetando o fornecimento ao continente.
VÍDEOS: mais assistidos do g1