10 de outubro de 2024

Ucrânia diz que não renovará acordo de trânsito de gás da Rússia para Europa; o que pode acontecer?

Acordo vence no fim do ano e será finalizado, segundo declaração do primeiro-ministro ucraniano nesta segunda (7). O fornecimento de gás natural russo via Ucrânia chegou a ser interrompido no começo da guerra entre os dois países, em 2022, mas foi restabelecido. Estação da Gazprom, empresa que faz parte da poderosa indústria energética russa
Getty Images via BBC
A Ucrânia não tem planos de estender um acordo de trânsito de gás com a Rússia após seu vencimento no final do ano, no dia 31 de dezembro, afirmou o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, nesta segunda-feira (7).
Em uma entrevista coletiva conjunta com o premiê da Eslováquia, Shmyhal disse que o objetivo estratégico de Kiev é privar a Rússia dos lucros de suas vendas de gás e petróleo, reduzindo a capacidade de Moscou de financiar sua guerra na Ucrânia .
Mas o que acontece se o gás for cortado e quem será mais afetado?
Quão grandes são os volumes?
Os suprimentos de gás russo para a Europa via Ucrânia são relativamente pequenos. A Rússia enviou cerca de 15 bilhões de metros cúbicos de gás via Ucrânia em 2023 – apenas 8% do pico de fluxos de gás russo para a Europa por várias rotas em 2018-2019.
A Rússia passou meio século construindo sua participação no mercado europeu de gás, que no seu pico chegou a 35%.
Moscou perdeu sua fatia para rivais como Noruega, Estados Unidos e Catar desde a invasão da Ucrânia em 2022, levando a União Europeia a reduzir sua dependência do gás russo.
Os preços do gás da UE subiram em 2022 para recordes após a perda de suprimentos russos. O rali não será repetido devido aos volumes modestos e um pequeno número de clientes para os volumes restantes, de acordo com autoridades e comerciantes da UE.
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Rota ucraniana
O gasoduto Urengoy-Pomary-Uzhgorod, da era soviética, traz gás da Sibéria através da cidade de Sudzha – agora sob controle das forças militares ucranianas – na região de Kursk, na Rússia. Ele então flui pela Ucrânia até a Eslováquia.
Na Eslováquia – que deve continuar a usar os sistemas de trânsito mesmo após o fim do acordo com a Rússia, segundo o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico -, o gasoduto se divide em ramais que vão para a República Tcheca e a Áustria.
A Áustria ainda recebe a maior parte de seu gás via Ucrânia, enquanto a Rússia é responsável por cerca de dois terços das importações de gás da Hungria.
A Eslováquia recebe cerca de 3 bilhões de m³ da gigante energética Gazprom GAZP.MM por ano, também cerca de dois terços de suas necessidades.
A República Tcheca cortou quase completamente as importações de gás do leste no ano passado, mas começou a receber gás da Rússia em 2024.
A maioria das outras rotas de gás russo para a Europa estão fechadas, incluindo a Yamal-Europa, via Bielorrússia e Nord Stream sob o Báltico.
A única outra rota operacional de gasoduto russo para a Europa é o Blue Stream e o TurkStream, para a Turquia sob o Mar Negro. A Turquia envia alguns volumes de gás russo para a Europa, incluindo a Hungria.
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Por que a rota ucraniana ainda funciona?
Embora os volumes restantes de trânsito de gás russo sejam pequenos, a questão continua sendo um dilema para a União Europeia.
Muitos membros da UE, como França e Alemanha, disseram que não comprariam mais gás russo, mas a posição da Eslováquia, Hungria e Áustria, que têm laços mais próximos com Moscou, desafia a abordagem comum da UE.
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Os países que ainda recebem gás russo argumentam que este é o combustível mais econômico e também culpam os países vizinhos da UE por impor altas taxas de trânsito para suprimentos alternativos.
A Ucrânia ainda ganha de US$ 0,8 a US$ 1 bilhão em taxas de trânsito do trânsito de gás russo. A Rússia ganha mais de US$ 3 bilhões em vendas via Ucrânia, com base em um preço médio de gás de US$ 200 por 1.000 metros cúbicos, de acordo com cálculos da agência de notícias Reuters.
O monopólio russo de exportação de gasodutos Gazprom caiu para um prejuízo líquido de US$ 7 bilhões em 2023, seu primeiro prejuízo anual desde 1999, devido à perda dos mercados de gás da UE.
A Rússia disse que estaria pronta para estender o acordo de trânsito, mas Kiev disse repetidamente que não o fará.
Outra opção é a Gazprom fornecer parte do gás por outra rota, por exemplo, via TurkStream, Bulgária, Sérvia ou Hungria. No entanto, a capacidade por essas rotas é limitada.
A UE e a Ucrânia também pediram ao Azerbaijão para facilitar as discussões com a Rússia sobre o acordo de trânsito de gás, disse um conselheiro presidencial azeri à Reuters, que se recusou a dar mais detalhes.

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