4 de fevereiro de 2025

Ultrapassar ‘limite seguro’ do Acordo de Paris pode triplicar áreas de calor extremo, alerta estudo


África Subsaariana e o sul da Ásia são as regiões que correm mais risco de serem consideradas quentes demais para os seres humanos. Desde 2000, foram registradas mais de 260 mil mortes relacionadas ao calor em todo o mundo. Placa alerta para calor extremo no Vale da Morte, na Califórnia, nos Estados Unidos, no dia 15 de julho de 2023
Jorge Garcia/Reuters
Além das consequências diretas para o meio ambiente, a piora no aquecimento global pode tornar algumas regiões do planeta impossíveis de se viver.
➡️Um estudo realizado por pesquisadores da King’s College London, publicado nesta terça-feira (4) na revista científica “Nature Reviews Earth and Environment”, mostrou que o aumento de 2°C acima da média pré-industrial pode triplicar as áreas consideradas quentes demais para seres humanos.
Esse patamar é justamente o que o Acordo de Paris pretende evitar até o fim do século. O objetivo é manter o aquecimento global em até 1,5°C, o chamado “limite seguro” das mudanças climáticas – algo que já vem sendo questionado, uma vez que recordes consecutivos de calor estão sendo quebrados. (relembre abaixo)
Ultrapassar ‘limite seguro’ do Acordo de Paris pode triplicar áreas de calor extremo
As descobertas, segundo os pesquisadores, evidenciam as consequências mortais a que os seres humanos vão ser expostos se as temperaturas atingirem esse nível.
Tom Matthews, autor principal do estudo e professor sênior de Geografia Ambiental na King’s College London, explica que os limiares de calor insuportável, que até agora só foram ultrapassados brevemente nas regiões mais quentes da Terra, vão ser mais comuns a uma parcela bem maior da população mundial com o aquecimento de 2°C.
A pesquisa destaca que as regiões que correm mais risco de ultrapassarem os patamares críticos de temperatura são a África Subsaariana e o sul da Ásia por estarem em uma posição considerada ”linha de fogo”.
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Calor insuportável e consequências para a saúde
Para entender os impactos que o aumento na temperatura global pode causar para a vida humana, os pesquisadores consideraram dois principais parâmetros:
Limiares incompensáveis – cenários em que a temperatura corporal aumenta de maneira descontrolada. Dependem fortemente da idade e da combinação da temperatura e umidade relativa do ar.
Limiares insuportáveis – quando há o aumento da temperatura central para 42°C em um período de seis horas.
➡️De acordo com o estudo, desde 2000, foram registradas mais de 260 mil mortes relacionadas ao calor extremo, o que mostra como as altas temperaturas são uma ameaça à vida humana.
Foi observado que, entre 1994 e 2023, as chamadas tolerâncias térmicas humanas – uma combinação de temperatura e umidade acima da qual do corpo não consegue suportar – foram ultrapassadas de maneira mais ampla e frequente no caso dos idosos, grupo mais suscetível ao estresse térmico.
Caso o patamar de 2°C seja atingido, esse cenário vai passar a atingir também os jovens saudáveis, que em geral são menos impactados pelas altas temperaturas.
“Nessas condições, a exposição prolongada ao ar livre, mesmo para aqueles que estão na sombra, sujeitos a uma brisa forte e bem hidratados, poderia causar uma insolação letal”, detalha o professor Matthews.
🚨O pesquisador ainda alerta que esse cenário representaria uma mudança radical no risco de mortalidade por calor.
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Necessidade de adaptação
Além de ser fundamental para compreender quais os custos de não frear as alterações climáticas, Matthews explica que a pesquisa também pode ajudar a direcionar “esforços de adaptação a comunidades mais necessitadas”.
“À medida que mais partes do planeta passam a viver sob condições de calor extremo, é essencial que pessoas tenham acesso seguro a ambientes mais frios para se protegerem do calor”, exemplifica.
➡️O estudo também destaca adaptações individuais que podem ser feitas na tentativa de minimizar os efeitos do calor como:
Adaptações nas roupas
Utilização de ventiladores ou meios de refrigeração
Mudança para ambientes mais frios
São ainda citadas medidas mais abrangentes e coletivas, como investimento em estruturas urbanas que contribuam para reduzir o calor nas cidades.
Mas, além dessas alternativas, é essencial, segundo os pesquisadores, considerar esse cenário de aquecimento como uma possibilidade real. E, a partir disso, priorizar áreas que devem ser mais afetadas em um primeiro momento para prevenir impactos muito severos.
Limites do Acordo de Paris
Ainda que o principal objetivo do Acordo de Paris seja manter o aquecimento do planeta bem abaixo de 2°C até o final do século, um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que os compromissos globais para conter as mudanças climáticas estão cada vez mais aquém do necessário para cumprir essa meta.
⚠️Projeções mostram que, a menos que ações mais efetivas sejam tomadas, o aumento da temperatura pode atingir os preocupantes índices de 2,5°C a 2,9°C acima dos níveis pré-industriais.
A quebra consecutiva de recordes de calor pode ser considerada um sinal claro da ineficiência das medidas realizadas até agora.
O ano de 2024, por exemplo, foi o mais quente já registrado, sendo o primeiro a ultrapassar a marca de 1,5°C de aquecimento.
Mesmo no cenário mais otimista trazido pela ONU na análise, a probabilidade de limitar o aquecimento a 1,5°C é de apenas 14%.

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