27 de outubro de 2024

Vazamento de óleo em poço de petróleo no ES atingiu área equivalente a 5 campos de futebol

Relatório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES) também apontou que a flora e um rio da região foram contaminados. Empresa responsável tem 15 dias para esclarecer sobre acidente. Crea divulga relatório preliminar de acidente de vazamento de óleo
Mais de uma semana após um poço de petróleo recém-perfurado no Campo Inhambu, em São Mateus, no Norte do Espírito Santo, sofrer um vazamento de emulsão de óleo, um relatório apontou que a área afetada e a quantidade do vazamento são bem maiores do que a empresa divulgou inicialmente. Segundo informações do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES) divulgadas neste sábado (26), a área contaminada é de 58 mil metros quadrados, o equivalente a cinco campos de futebol. No relatório preliminar também foi confirmado evidências de contaminação da flora e de um rio na região.
O relatório foi finalizado na sexta-feira (25) e enviado para a empresa responsável pelo poço, a Seacrest, solicitando a apresentação de documentos técnicos e esclarecimentos sobre o incidente em até 15 dias.
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O mesmo documento foi direcionado ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e ao Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf).
A Seacrest Petróleo disse que não vai se pronunciar no momento. O g1 procurou o Iema e o Idaf para saber se uma nova avaliação foi divulgada e se os órgãos receberam o ofício, mas não teve nenhum retorno até a última atualização desta reportagem.
Crea divulga relatório apontando que área atingida por vazamento de emulsão de óleo em poço de São Mateus, Espírito Santo, é muito maior do que o anunciado pela empresa
Divulgação/Crea-ES
Análise detalhada
Para fazer o levantamento completo, o órgão teve a ajuda de drones, além da realização de análises da vegetação e dos resíduos encontrados nos cursos hídricos. Amostras de material foram coletadas e encaminhadas para o laboratório da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
“Inicialmente foi declarada uma área contaminada de 1.500 metros quadrados. No entanto, observamos que essa extensão já ultrapassa 58 mil metros quadrados. A quantidade de vazamento de emulsão de água e óleo divulgada também é muito superior aos 9 mil litros, chegando até o momento a 28 mil litros derramados. Também não constatamos responsável técnico para a condução dos serviços de retirada da vegetação nativa contaminada, não há documento autorizativo para a supressão da vegetação, não localizamos indícios de coleta de dados e informações para a caracterização do dano ambiental”, destacou o presidente.
De acordo com o presidente do Crea-ES, o engenheiro Jorge Silva, a conclusão obtida na primeira etapa da vistoria, a empresa responsável pela perfuração inicial do poço também está irregular junto ao conselho.
Crea-ES enviou relatório para empresa responsável por vazamento de óleo em poço de petróleo no Espírito Santo e pediu respostas em até 15 dias
Divulgação/Crea-ES
Uma preocupação também apontada pelo relatório é o impacto que a emulsão de óleo pode ter no Córrego Santa Rita, que fica ao lado da área de exploração do poço
“Ele é afluente do Córrego do Macaco, que possui função fundamental para o desenvolvimento das atividades agrícolas e pecuária presentes na região. É importante esclarecer que a confluência desse córrego é o Rio Mariricu, rio esse de grande importância para o município de São Mateus. Além de subsidiar o desenvolvimento de atividades agrícolas e pecuária, ele desempenha importante papel para as comunidades de pescadores ribeirinhos, além da pesca esportiva desenvolvida na região, e seu potencial turístico”, reforçou o presidente.
O documento destacou que a retirada desse solo já foi iniciada pela empresa, mas a chuva agravou a contaminação ao facilitar o escoamento desse material para a área da vegetação vizinha, e para o rio.
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Participaram da vistoria engenheiros ambientais, geólogos, agrônomos, químicos, de segurança do trabalho, mecânicos, civis, eletricistas, técnicos em meio ambiente e tecnólogos em saneamento ambiental.
A companhia agora tem 15 dias para encaminhar estudos complementares e planos de investigação de contaminação, além da realização de análises ambientais nas áreas impactadas pelo derramamento de óleo.
Relembre o caso
O vazamento ocorreu no dia 16 de outubro e Iema foi acionado para contabilizar o possível impacto ambiental.
Segundo a companhia responsável, a Seacrest Petróleo, a substância expelida não é óleo porque o poço ainda não estava em produção no momento do incidente. Ninguém ficou ferido.
Emulsão de óleo vaza de poço em São Mateus e atinge área de vegetação
Os trabalhos das equipes do Conselho iniciaram na segunda-feira (21) e prosseguiram durante toda a semana.
A princípio, o Iema tinha afirmado que ocorreram impactos leves na vegetação do entorno do cavalo de extração de petróleo, mas que uma avaliação mais detalhada seria realizada nos próximos dias.
A Seacrest Petróleo disse que, assim que o acidente aconteceu, o plano de resposta a emergências da companhia foi imediatamente ativado e implementado. A fonte da perda de vapor foi controlada, o poço foi paralisado e as autoridades competentes foram acionadas.
A produção foi restaurada no dia seguinte após uma breve redução para diminuir o risco elétrico.
O Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES) disse que acompanha de perto o grave acidente ocorrido no campo de Inhambu, no Norte Capixaba, privatizado para a empresa Seacrest. O sindicato apontou que o ocorrido expõe mais uma vez os riscos e o abandono causado pelas privatizações na região e que tinha alertado sobre riscos para o meio ambiente.
O que é emulsão de óleo de petróleo?
A emulsão de óleo de petróleo é uma mistura de óleo e água que ocorre durante a produção de petróleo e é formada por um processo de cisalhamento (fenômeno de deformação ao qual um corpo está sujeito) entre os dois fluidos.
Uma emulsão é um sistema heterogêneo em que dois líquidos imiscíveis se misturam. No caso do petróleo, a emulsão é formada devido ao cisalhamento entre a água e o óleo durante a produção. A água, que é injetada no processo de recuperação secundária, possui um alto teor de sal e forma emulsões com uma viscosidade maior que a do petróleo desidratado.
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