Mônica Benício disse que acompanhou a sessão com “o coração apertado de angústia”. Viúva de Anderson Gomes disse estar feliz, “mas com cautela”. Marielle Franco em imagem de fevereiro de 2017
Renan Olaz/Câmara Municipal do Rio de Janeiro/AFP/Arquivo
Mônica Benício, viúva da vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro em março de 2018, comemorou que a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal aceitou denúncia contra os acusados de matar a vítima. Ela afirmou que vê com esperança a decisão do STF:
“Vê-los oficialmente como réus me dá esperança, um sentimento que jamais perdi em todos esses 6 anos de luta. A esperança de ver esse crime finalmente ser solucionado, devolvendo a democracia ao nosso país. Não só por mim ou pela família de Anderson, mas por cada brasileiro e brasileira que não quer a barbárie instalada na nossa sociedade. A violência não pode fazer parte da política. A justiça por Marielle e Anderson é a busca por uma sociedade mais justa para todas as pessoas”, disse Mônica.
Mônica Benício, viúva de Marielle Franco
Gustavo Wanderley/g1
Ela disse que acompanhou a sessão com “o coração apertado de angústia”, e que a decisão foi comemorada com “lágrimas e alívio”.
Anielle Franco, irmã de Marielle, afirmou que está em missão presidencial fora do Brasil, mas que acompanhou o julgamento:
“Um dia muito esperado pela nossa família e pela sociedade brasileira durante esses anos. Desejo que o julgamento seja rápido, pois já esperamos tempo demais. Reitero minha confiança na justiça, na Polícia Federal e na condução do Supremo. O Brasil quer e precisa de justiça por Marielle e Anderson!”
A viúva do motorista Anderson Gomes, Ágatha Arnaus, em foto de 2023
Reprodução TV Globo
Ágatha Arnaus, esposa do motorista do carro, Anderson Gomes, se definiu feliz, mas com cautela.
“Não é nenhuma resposta ainda, mas renova a esperança que a gente tenha essa resposta que a gente aguarda, sobre os mandantes, sobre os motivos. Depois de 6 anos, é um pontapé, de ver as pessoas responsabilizadas. Mas com cautela, tem que ter esse cuidado.. Resta aguardar as respostas definitivas, é só o meio do caminho”, analisou, em entrevista ao g1.
Chiquinho Brazão, Domingos Brazão e Rivaldo Barbosa, acusados de mandar matar Marielle Franco
Reprodução
Com a acusação aceita pelo Supremo, os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa, e outros dois se tornaram réus e vão responder a uma ação penal pelos crimes (veja a lista completa dos acusados abaixo).
O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, argumentou que a acusação trouxe fortes elementos do elo entre os interesses da organização criminosa e os assassinatos, e defendeu a competência do STF em julgar o caso.
Ele foi seguido pelos ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Luiz Fux e Cármen Lúcia.
Com a decisão, o processo entrará na fase de instrução, envolvendo a coleta de provas, depoimentos de testemunhas e interrogatórios dos réus.
Após estas etapas, as defesas dos acusados e a PGR apresentarão suas alegações finais, preparando o terreno para o julgamento final, onde os acusados poderão ser absolvidos ou condenados, com a definição das penas aplicáveis.
Argumentos da defesa
Os advogados de defesa dos acusados pediram a rejeição da denúncia por falta de indícios e colocaram em dúvida o conteúdo das delações de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz – presos como executores do crime desde 2019.
O representante de Rivaldo Barbosa negou qualquer tentativa do ex-chefe da polícia de interferir nas investigações, e de blindar ou favorecer os irmãos Brazão. “A defesa entende que receber denúncia [contra Barbosa] neste momento significa colocar no banco dos réus a própria Polícia Civil do Rio de Janeiro”, declarou.
A defesa de Chiquinho Brazão alegou ter apontado diversas inconsistências na delação de Lessa, e que não havia “animosidade” entre o Brazão e Marielle Franco. “Isso é, com todo respeito, uma criação. Não há animosidade alguma. Não é verdade que Marielle tivesse como bandeira política o tema imobiliário”, frisou.
Se tornaram réus:
Chiquinho Brazão é deputado federal pelo Rio de Janeiro. Eleito pelo União Brasil, foi expulso do partido após ser preso, em março, acusado de ser mandante do assassinato. É acusado pela PGR de participação em homicídio qualificado e participação em tentativa de homicídio.
Domingos Brazão foi conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Também foi preso em março. Ele é acusado pela PGR de crime de organização criminosa, participação em homicídio qualificado e participação em tentativa de homicídio.
Rivaldo Barbosa, também preso, chefiava a Polícia Civil do Rio à época do início das investigações. O envolvimento dele com o assassinato fez a família de Marielle se sentir traída, porque o delegado prometia aos parentes da vereadora que elucidaria o caso. É acusado de participação em homicídio qualificado, participação em tentativa de homicídio.
Além deles, também se tornaram réus :
Ronald Paulo de Alves Paula, major da Polícia Militar: responsável por acompanhar os deslocamentos de Marielle, inclusive de identificar que ela participaria de um evento na noite da execução.
Robson Calixto Fonseca, conhecido com Peixe: ex-assessor de Domingos Brazão no TCE do Rio. Denunciado por organização criminosa.