27 de dezembro de 2024

Venezuela: Conselho Eleitoral oficializa vitória de Maduro para terceiro mandato; há protestos e denúncias de fraudes

União Europeia e Estados Unidos não reconheceram o resultado da eleição presidencial e pedem a divulgação das atas eleitorais. Sob suspeita de fraude, Tribunal da Venezuela declara Maduro vencedor da eleição
A Autoridade Eleitoral da Venezuela proclamou nesta segunda-feira (29) Nicolás Maduro vencedor da disputa presidencial de domingo (28). Mas oposição afirma que venceu e que houve fraude.
Governos estrangeiros não reconheceram o resultado e pedem a divulgação das atas eleitorais. O site do Conselho Eleitoral venezuelano está fora do ar desde domingo (28).
Fim de noite na Venezuela. Pouco depois das 23h em Caracas, meia-noite pelo horário de Brasília, o site do Conselho Nacional Eleitoral saiu do ar. Ainda não havia resultado oficial mais de cinco horas depois do fechamento das urnas. O órgão controlado por aliados de Maduro declarou que tinha sofrido um ataque hacker que afetou a contagem de votos.
A 1h09 da madrugada desta segunda-feira (29), o Conselho eleitoral declarou que tinha apurado 80% das urnas, e que Nicolás Maduro tinha vencido com 51,2% dos votos. Ainda segundo o Conselho, o candidato da oposição, Edmundo González, teve 44% dos votos.
O presidente do CNE, Elvis Amoroso disse que o resultado era irreversível. Sem apresentar as provas da votação, parabenizou Maduro pela vitória.
“Felicitamos, então, ao novo presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro Moros”.
Minutos depois, em frente ao Palácio de Miraflores, sede do governo venezuelano, Nicolás Maduro defendeu o sistema eleitoral do país. Disse que houve uma auditoria, que os resultados foram revisados, e comemorou a vitória.
“Posso dizer ante o povo da Venezuela e ante o mundo: ‘Sou Nicolás Maduro, presidente reeleito da República da Venezuela'”, afirmou.
A oposição reagiu. Disse que Edmundo González foi o vencedor, com 70% dos votos, e acusou o Conselho Nacional Eleitoral de ocultar as atas de votação – são documentos que registram quem foi votar e o resultado em cada sessão eleitoral. Integrantes da oposição também denunciaram que tinham sido impedidos de entrar no Conselho para acompanhar a apuração.
Às 2h07, a ex-deputada Maria Corina Machado, a maior cabo eleitoral de González, declarou:
“Ganhamos e todo o planeta sabe. Sabemos o que aconteceu hoje”, afirmou.
Em um rápido discurso, Edmundo González disse que não vai descansar até que a vontade do povo venezuelano seja respeitada.
“Nossa luta continua e não descansaremos até que a vontade do povo da Venezuela seja respeitada”.
O presidente Lula não comentou o resultado das eleições na Venezuela. Pela manhã, o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota. Afirmou que “o governo brasileiro saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração. Reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados”. E finalizou dizendo que “aguarda, nesse contexto, a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.
O Itamaraty também orientou que a embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria de Oliveira, não comparecesse a uma reunião convocada por Nicolás Maduro para se proclamar vitorioso na eleição. A decisão teve como objetivo sinalizar que o Brasil não está reconhecendo automaticamente a proclamada vitória de Maduro.
No discurso a estrangeiros e integrantes do governo, Maduro disse que a oposição estava tentando aplicar um golpe de Estado na Venezuela. Aliado de Maduro, o procurado-geral Tarek Saab abriu investigação contra Maria Corina Machado e o outro opositor, Leopoldo López. Acusa os dois de estarem por trás de um suposto ataque ao sistema eleitoral do país.
O assessor especial da Presidência para assuntos Internacionais, embaixador Celso Amorim, que segue em Caracas, se reuniu à tarde com Nicolás Maduro. Também marcou uma reunião com o diplomata aposentado Edmundo González. A ideia é ouvir os dois lados e reforçar que o Brasil quer apoiar a normalização do processo político venezuelano.
Mas nas ruas da capital Caracas, houve protestos. Manifestantes gritavam “entregue o poder” e cartazes com o rosto de Maduro foram queimados. No estado de Fálcon, no extremo norte do país, manifestantes derrubaram uma estátua em homenagem a Hugo Chavez, antecessor de Nicolás Maduro.
Pouco antes das 20h, a ex-deputada Maria Corina Machado e o candidato Edmundo González falaram com apoiadores e com a imprensa. Maria Corina declarou que houve fraude.
“Tivemos 73% das atas. A diferença foi avassaladora em todos os estados, em todos os setores”, afirmou Corina.
Ela pediu que os cidadãos contestem os resultados oficiais apresentados por Nicolás Maduro. Edmundo González agradeceu à comunidade internacional pelo apoio à Venezuela. Disse que a oposição ganhou em lugares onde nunca havia ganhado antes e que a Venezuela quer paz e o reconhecimento da vontade de sua população. E concluiu dizendo as autoridades precisam respeitar as urnas.
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