11 de outubro de 2024

Vereadora líder dos sem-teto, redução da bancada evangélica, derrota de filha de ministro: as curiosidades da eleição no Grande Recife em 2024

Vitórias de filhos de políticos e desempenho de candidatos a prefeito marcam disputa. Vitórias e derrotas das eleições 2024
Arte/g1
De líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto a filhos de políticos eleitos na Câmara dos Vereadores do Recife, as eleições 2024 tiveram particularidades que já movimentam a política local. O insucesso de nomes de peso e o declínio da bancada religiosa também merecem atenção.
O g1 reuniu algumas das surpresas da votação na capital no último domingo (06), que encerrou com a reeleição do prefeito João Campos (PSB) no 1º turno. Confira abaixo:
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Maior bancada desde redemocratização
Com uma eleição mais disputada por conta da redução de duas vagas, a Câmara do Recife teve 26 parlamentares com o mandato renovado. Das 37 vagas, 11 novos vereadores devem entrar na Casa a partir de 2025. As eleições para o cargo seguem um modelo proporcional. Sendo assim, nem sempre ser mais votado na lista geral garante a vaga.
Embalado pelo recorde de votação do prefeito reeleito João Campos, o PSB conseguiu bater o recorde e eleger a maior bancada na Câmara do Recife desde a redemocratização, com 15 parlamentares, o que significa 40% das 37 cadeiras. Além disso, sete dos 10 mais bem votados são do PSB.
Atual presidente da Câmara do Recife, Romerinho Jatobá (PSB) foi o terceiro vereador mais bem votado da história do Recife, com 20.264 votos. Ele ficou atrás de Gustavo Krause (PFL), eleito com 21.142 votos, em 1988; e de Humberto Costa (PT), que conquistou a vaga com 27.815 votos, no ano 2000. Jatobá foi eleito para cumprir o quarto mandato a partir de 2025.
Apesar de o Partido Socialista Brasileiro (PSB) comandar a prefeitura do Recife desde 2012, esta foi a primeira vez que o vereador mais votado é filiado à sigla.
Confira os vereadores mais votados desde a redemocratização:
1988 – Gustavo Krause (PFL): 21.142 votos
1992 – Paulo Rubem (PT): 6.518 votos
1996 – Antônio Luiz Neto (PTB): 11.961 votos
2000 – Humberto Costa (PT): 27.815 votos
2004 – Dílson Peixoto (PT): 15.200 votos
2008 – André Ferreira (PMDB): 15.117 votos
2012 – André Ferreira (PMDB): 15.774 votos
2016 – Michelle Collins (PP): 15.357 votos
2020 – Dani Portela (PSOL): 14.114 votos
2024 – Romerinho Jatobá (PSB): 20.264 votos
Entre os novos nomes, a ex-deputada estadual Jô Cavalcanti (PSOL), primeira líder do Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST) a conquistar uma cadeira na Câmara do Recife.
Camelô e coordenadora do MTST em Pernambuco, ela foi a titular do mandato coletivo Juntas (PSOL), eleito em 2018 para a Assembleia Legislativa e que não foi reeleito em 2022. Foi a única parlamentar do PSOL eleita no Recife, com 7.619 votos. O partido viu sua bancada reduzir de dois para uma vereadora.
“Nepo babies”
O termo “nepo baby” é uma abreviação de “nepotismo baby”, do inglês, que significa “filho do nepotismo”, e refere-se ao sucesso que um filho pode ter por conta dos seus pais e parentes. O termo se popularizou no Brasil neste ano em referência a famosos que “abrem caminhos” para os filhos.
Na política, o termo é utilizado quando os filhos de políticos defendem o legado dos pais ou avôs, seguindo a mesma carreira e enfatizando o sobrenome da família, e essa foi uma das marcas que as eleições de 2024 deixaram no Recife.
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Vereadores eleitos no Recife; veja lista
Na Câmara Municipal da capital, nove nepo babies foram eleitos no domingo (6). Por ordem alfabética, foram eles:
Alef Collins (PP), filho da vereadora Michelle Collins (PP) e do deputado estadual Pastor Cleiton Collins (PP);
Eduardo Mota (PSB), filho do ex-deputado estadual Nilton Mota;
Eriberto Rafael (PSB), filho do deputado federal Eriberto Medeiros (PSB);
Felipe Francismar (PSB), filho do deputado estadual Francismar Pontes (PSB);
Flávia de Nadegi (PV), filha da atual prefeita de Camaragibe, Nadegi Queiroz – Dra Nadegi (Republicanos);
Gilson Machado Filho (PL), filho do ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro, Gilson Machado (PL);
Marco Aurélio Filho (PV), filho do ex-deputado estadual Marco Aurelio Meu Amigo (PRTB);
Natália de Menudo (PSB), filha do ex-vereador Estéfano Menudo (PSB)
Rodrigo Coutinho (Republicanos), filho do deputado federal Augusto Coutinho (Republicanos).
Queda da bancada evangélica
Pela primeira vez desde 2008, nenhum candidato ligado diretamente a um grupo religioso ou de igreja ficou entre os três vereadores mais votados. Os representantes de denominações evangélicas não conseguiram chegar entre as 10 maiores votações. O melhor colocado foi Fred Ferreira (PL), reeleito em 15º lugar na lista geral, com 11.804 votos.
O doutor em religião e mestre em teologia Liniker Xavier apontou que a pulverização de candidaturas e as mudanças sociopolíticas do país estão entre os motivos.
“A facilidade das pautas religiosas já não têm a mesma intensidade, sobretudo entre os mais jovens. O próprio crescimento e fragmentação do eleitorado evangélico impacta a unidade de voto”, explicou. Xavier lembrou que, pela segunda eleição seguida, nenhum nome ligado à Igreja Assembleia de Deus conseguiu se eleger, por exemplo.
Outro símbolo do enfraquecimento do grupo ligado a religiosos na Câmara Municipal foi o insucesso da família Tércio no Recife e em Jaboatão dos Guararapes.
Cotada como uma das favoritas para uma das vagas, Gil de Tércio (PP) não foi eleita. Ela é irmã do deputado estadual Júnior Tércio (PP) e cunhada da deputada federal Clarissa Tercio (PP), que foi derrotada no 1º turno na disputa pela prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, ficando em 2º lugar.
“O fraco desempenho eleitoral dos Tércio nas eleições legislativas de 2024 está ligado também ao declínio do bolsonarismo, ao qual estiveram intensamente alinhados desde o seu surgimento. […] Sem Jair Bolsonaro no poder, o grupo perdeu parte do discurso”, comentou o especialista.
Derrotas que chamam a atenção
Garanhuns
Entre as inúmeras disputas das eleições de 2024, algumas derrotas respigam em grupos políticos. É o caso do líder do governo na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Izaías Régis, candidato da governadora Raquel Lyra (PSDB) à prefeitura de Garanhuns, no Agreste.
Izaías foi prefeito da cidade por dois mandatos consecutivos, de 2012 a 2020. Não conseguiu eleger um sucessor e, ao disputar o cargo novamente este ano, ficou em segundo lugar na disputa, com 15.944 votos, 22,83% do eleitorado.
Câmara Municipal do Recife
Outro exemplo é o do líder da oposição na Câmara do Recife, Alcides Cardoso (PL), que não se reelegeu e ficou como segundo suplente do PL, com 5.189 votos.
O caso da candidata Déa de Paula (PSD), filha do atual Ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula também merece atenção. Mesmo com uma das campanhas com mais recursos financeiros (mais de R$ 600 mil, de acordo com a plataforma Divulgacand, do TSE), ela terminou a eleição na segunda suplência do PSD, com 6.016 votos.
Apresentado como “o cara do Compaz”, o ex-secretário de Segurança Cidadã do Recife Murilo Cavalcanti (MDB) também não foi eleito. Ele recebeu 3.757 votos e está na sexta suplência do partido.
Já o ex-prefeito do Recife João da Costa (PT) perdeu sua terceira eleição consecutiva para vereador, ao receber 3.373 votos, alcançando a quinta suplência. Ainda na disputa pela Câmara do Recife, MC Elvis, apresentado pelo PSB como “candidato do brega”, não foi eleito. Ele recebeu 1.578 votos.
Olinda
Na Região Metropolitana, entre os maiores insucessos eleitorais está o do ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) Antônio Campos (PRTB).
Tentando pela segunda vez ser prefeito de Olinda, ficou em 5º lugar na disputa, com apenas 1,51 % dos votos válidos (3.124 votos). Irmão do ex-governador Eduardo Campos e tio do prefeito João Campos, não recebeu apoio do sobrinho.
Em 2016, pelo PSB, foi o mais votado no primeiro turno na disputa para a prefeitura de Olinda, alcançando 55.995 votos (28,17% dos válidos) e perdeu no 2º turno para Professor Lupercio (à época, no Solidariedade). Na corrida deste ano, Antônio Campos teve uma votação 94% menor do que no 1º turno de 2016.
Jaboatão dos Guararapes
Em Jaboatão dos Guararapes, o ex-prefeito Elias Gomes (PT), que governou a cidade por dois mandatos, entre 2009 e 2016, também saiu derrotado das urnas em 2024. Elias ficou em 3º lugar na disputa vencida no 1º turno por Mano Medeiros (PL), que foi reeleito.
Com 59.508 votos, 18,41% dos votos válidos, Elias Gomes teve 62% menos votos do que quando foi eleito pela primeira vez, no 1º turno de 2008, e 68% a menos, quando comparado com a sua reeleição para prefeito, no 1º turno de 2012.
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