Espécie ‘Helicops apiaka’ foi descrita em 2013 e dificilmente é vista na natureza. Serpente aquática faz parte da família com mais representantes no Brasil. VÍDEO: cobras d’água raras são filmadas no rio Telespires em MT
Enquanto navegava pelo rio Teles Pires, no Mato Grosso, acompanhado do pai e de um amigo, o jovem Julio Volpato, de 16 anos, não esperava encontrar, no último dia 14 de janeiro, uma raridade.
Já era noite, pouco mais das 19 horas, quando ele percebeu uma serpente atravessando próximo a proa do barco. “Na hora paramos e comecei a filmar, com o celular mesmo. Depois de uns quatro minutos observando, a gente viu que, na verdade, eram duas cobras que logo em seguida seguiram caminho”, relembra.
Serpente pode variar entre uma coloração vermelha até marrom
Calau/iNaturalist
No momento do flagrante, ele conta que não sabia detalhes do réptil, mas depois de compartilhar os registros em grupos de identificação de serpentes descobriu que as cobram eram da espécie Helicops apiak.
A espécie
A espécie é uma serpente aquática, também chamada de cobra d’água, considerada raríssima de ser encontrada e pouco se sabe sobre ela, já que foi descrita para a ciência apenas em 2013 e, aparentemente, só ocorre no Brasil, em águas do norte do Mato Grosso.
“São serpentes associadas a rios, lagos e brejos. Por serem uma descoberta relativamente recente, pouco sabemos sobre sua dieta, hábitos, comportamentos, período de reprodução, e principalmente se estão sob algum grau de ameaça de extinção”, explica Nathalie Citeli, doutora em Zoologia, que estudou o grupo dessas serpentes no doutorado.
De acordo com a pesquisadora, a questão do grau de ameaça é muito importante, já que o local que a espécie habita é de expansão do agronegócio nos últimos anos, e também muito afetada por incêndios criminosos.
Serpentes da espécie Helicops apiak também são chamadas popularmente de cobras d’água
Ricardo Kawashita-Ribeiro/iNaturalist
Helicops apiaka não é uma serpente peçonhenta e não traz riscos a vida humana, muito pelo contrário, é um animal que pode nos ajudar a monitorar a qualidade do ambiente, da água e do solo
Em relação a dupla filmada por Júlio, não é possível, segundo a bióloga, afirmar que se tratava de um casal, já que para outras espécies do grupo, sabe-se que é relativamente comum o encontro de mais de uma em certos pontos do rio.
“Depois de descobrir que eram serpentes raríssimas, fiquei muito feliz de ter filmado e falei ‘caramba, fiz uma filmagem que pode ser importante para a ciência’. Foi uma sensação de que vale muito a pena registrar momentos da natureza, de felicidade mesmo”, diz
A família
A serpente Helicops apiak faz parte da família Dipsadidae, que possui mais representantes no Brasil, tendo cerca de 250 espécies reconhecidas.
A serpente Helicops apiak faz parte da família Dipsadidae, que é a família que possui mais representantes no Brasil
Calau/iNaturalist
No total, são mais de 700 espalhadas por toda América, sendo algumas arborícolas, outras terrestres e até aquáticas.
“Essas últimas, como a Helicops apiak , costumam sair no início da noite para se alimentar de peixes, girinos e anfíbios que vivem na borda dos rios e córregos”, finaliza a pesquisadora.
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