7 de novembro de 2024

Vídeo mostra barata trocando de pele; biólogo explica comportamento


Transformação conhecida como ecdise revela inseto com aparência mole e esbranquiçada. Processo ocorre durante o crescimento do animal. Barata branca: como ocorre o processo de troca de pele desses insetos?
Em um vídeo enviado pelo seguidor do Terra da Gente Fernando César Braguini, podemos observar um inseto, semelhante à uma larva, “deixando seu corpo”. Uma transformação parecida com a metamorfose das borboletas.
Mas, que inseto é esse e o que ele está fazendo? De acordo com o biólogo Alexandre Michelotto, o que está sendo mostrado no vídeo é uma ninfa – indivíduo jovem – de barata, provavelmente uma Periplaneta americana, popularmente conhecidas como ‘baratas de esgoto’, realizando a ecdise ou muda – processo de troca de pele que ocorre para o crescimento do animal.
“Durante esse processo, o inseto aumenta de tamanho, o que faz com que sua antiga casca – formalmente conhecida como exoesqueleto – já não seja grande o suficiente para cobrir o corpo do animal. Desta forma, é gerada uma nova camada por baixo da anterior”, explica o biólogo Matheus D’Oran Souza.
Devido à aparência, essas baratas que acabam de realizar esse processo são chamadas de baratas brancas ou baratas descascadas. Ao final da ecdise, o indivíduo descarta o exoesqueleto antigo, saindo de dentro dele com uma casca nova, mole e esbranquiçada, e ele só adquire a aparência “tradicional” da barata com o passar do tempo.
Ecdise – como funciona?
“A ecdise revela-se como um evento importantíssimo para as baratas e para os demais artrópodes, uma vez que permite o crescimento e desenvolvimento real das dimensões corporais, garantindo, consequentemente, que o animal consiga chegar à fase reprodutiva”, explica Matheus.
Nos indivíduos jovens de barata, a ecdise é semelhante à que ocorre em outros insetos, envolvendo alterações no comportamento do animal, que se torna pouquíssimo ativo até o final do processo.
Inicialmente, ocorre a separação da epiderme do exoesqueleto. Em seguida, na cutícula antiga, a parte mais interna (endocutícula) é degradada e uma nova cutícula vai sendo formada, ainda abaixo da anterior.
“Quando o exoesqueleto velho e fragilizado finalmente se abre, o animal sai de seu interior com uma casca nova, incolor e extremamente mole, que se tornará rígida com a deposição de um polissacarídeo conhecido como quitina, cuja principal função é manter a sustentação do corpo dos insetos”, esclarece o pesquisador.
Barata realizando processo de ecdise
abbeyprivate/ Wikimedia Commons
A duração média e o sucesso do processo de ecdise podem variar bastante de acordo com a espécie e com os fatores genéticos diretamente relacionados ao animal. Porém, a presença de condições externas relacionadas ao ambiente pode atuar positiva ou negativamente para que o inseto cresça, se desenvolva e se reproduza, dando seguimento à manutenção da espécie ao redor do mundo.
“Tomando como exemplo a famigerada barata doméstica, frequentadora assídua dos ambientes urbanos e com rápida reprodução, a presença de grandes quantidades de umidade pode auxiliar no evento de muda, uma vez que tal processo exige grande esforço e engloba a utilização de diversos recursos energéticos por parte do animal”, diz Matheus.
Ainda segundo ele, a temperatura também apresenta papel primordial, podendo retardar ou impulsionar o sucesso e a frequência do número de ecdises.
Periplaneta americana, as famosas “baratas de esgoto”
alazurenko/iNaturalist
Os processos relacionados à ecdise ocorrem majoritariamente no interior do organismo que passará por este importantíssimo evento, se tornando mais evidentes somente quando o animal começa a substituir seu antigo exoesqueleto.
“Ao longo da muda, algumas mudanças comportamentais são expressivas e podem ser facilmente observadas a olho nu. A princípio, o inseto começa a adquirir um aspecto ‘letárgico’, tornando-se pouquíssimo ativo e, em muitos momentos, imóvel, podendo se abrigar em um local mais seguro (embaixo da terra, sob a folhagem superficial etc.), visando proteção e conforto”, informa o biólogo.
Em um segundo momento, durante o descarte do antigo exoesqueleto, o animal começa a ser impulsionado para o exterior por ação da musculatura, ficando com uma parte de sua nova casca para fora da casca antiga. Ao final da ecdise, o inseto se mantém com uma baixa movimentação, aguardando o endurecimento e o ganho de coloração de seu novo exoesqueleto.
O processo de ecdise é um momento de extrema vulnerabilidade para o inseto, uma vez que, ao permanecer imóvel por uma grande quantidade de tempo, o indivíduo acaba ficando vulnerável ao ataque de predadores ou a situações ambientais extremas, como alterações na temperatura e na umidade.
Além disso, fatores genéticos e nutricionais também influenciam a troca de exoesqueleto, podendo resultar em erros durante a muda e, em muitos casos, levar à morte dos organismos.
“Acredito que o principal fator que pode surpreender as pessoas é justamente a ausência de coloração do novo exoesqueleto gerado sob o antigo. Este fato, inclusive, foi responsável pela criação de diversas lendas urbanas, dentre elas, a de que a ‘barata albina’ se alimenta da ‘barata marrom’, uma vez que as ‘baratas albinas’ sempre são encontradas em proximidade às baratas marrons”.
*Texto sob supervisão de Ananda Porto
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