21 de fevereiro de 2025

Vídeo mostra jiboia com dezenas de filhotes na Caatinga


Espécie não realiza cuidado parental, mas fêmea passa momentos junto com a prole após o parto para recuperar energia. Vídeo mostra jiboia com dezenas de filhotes na Caatinga
Um vídeo, de autoria desconhecida, tem circulado na internet mostrando uma jiboia (Boa constrictor) e vários filhotes em uma bromélia macambira. O registro foi feito no dia 2 de fevereiro, em uma região da Caatinga, no município Brejo da Madre de Deus (PE).
Na narração, é possível ouvir um homem dizendo que a cobra está recém-parida, que chama salamanta e que não é venenosa. Ele tem razão.
De acordo com o especialista em serpentes Willianilson Pessoa, salamanta, apesar de ser o nome mais usado para jiboias-arco-íris, também é o nome popular da jiboia comum em algumas regiões do Brasil, assim como cobra-de-veado, por conta de um “sopro” que o réptil solta em momentos de estresse.
Vídeo mostra ninho de jibóias no estado do Pernambuco
Reprodução/Redes sociais
Essa jiboia, de fato, não possui peçonha e também não bota ovos. Por ser vivípara, os filhotes se desenvolvem no útero da mãe. Ao contrários de muitos outros animais, a jiboia não apresenta cuidado parental. Mas então por que há uma mãe junto dos filhotes no vídeo?
“O que aconteceu aí, que pode parecer um cuidado parental, é que a jiboia fêmea, depois de parir, fica em repouso para acumular energia, então só vai se mexer e seguir o caminho sem os filhotes depois de uns dias”, esclarece Pessoa.
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Isso ocorre já que a serpente gasta muita energia na gestação e na nutrição dos filhotes e precisa se recuperar. Nesse meio tempo, os recém-nascidos ganham uma “guarda extra” momentânea, já que a mãe por perto acaba oferecendo uma proteção contra predadores.
Entretanto, a mãe não alimenta os filhotes depois do nascimento, mais um motivo para eles saírem para caçar. “Os filhotes não comem quando nascem, porque acumulam muita energia durante o desenvolvimento na mãe, então eles vão usando essa energia acumulada, gordura, por alguns dias depois de nascerem pra poder começar a caçar, é o tempo que eles precisam pra se dispersar”, diz Pessoa.
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Corpo de Bombeiros
A jiboia do vídeo, segundo o pesquisador, parece ter em média dois metros e meio de comprimento. Quanto maior a fêmea, geralmente mais filhotes nascem. Há registros de ninhadas entre 20 a 50 indivíduos.
“No vídeo, é impossível saber quantos filhotes têm ali, porque só mostra uma parte da ninhada termorregulando. Dá pra ver que eles estão fora das bromélias absorvendo calor, o que é fundamental no primeiro dia de vida para manterem o metabolismo funcionando corretamente. Então, por exemplo, poderiam ser 40, 50 filhotes, como poderiam ser 20, os outros podem estar lá dentro, enrolados em cima da mãe, ou já podem ter saído. Essas coisas acontecem geralmente muito rápido”, ressalta.
Escolha do ninho
Quando está perto de dar à luz, as jiboias ficam mais pesadas, mais lentas e mais suscetíveis aos predadores. Por isso, e para garantir maior proteção durante o parto, a serpente procura locais mais seguros e escondidos para ter os filhotes, como em bromélias, entre cactos e até em buracos nos troncos.
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Kennedy Borges
Apesar do vídeo não ser um registro raro, é considerado pelo pesquisador como incomum, exatamente pelo comportamento da serpente de se esconder no momento dos filhotes, fazendo não ser tão fácil encontrar o réptil na natureza durante esse processo.
Reprodução
A jiboia é uma serpente solitária, como a grande maioria das cobras do Brasil. Quando chega o período reprodutivo, a fêmea libera feromônios, deixando um rastro que guia os machos até ela. Há um breve encontro para a cópula e cada um segue o próprio caminho.
Jiboia é serpente solitária não peçonhenta
Frank Lambert/iNaturalist
“Nas serpentes da família Boidae, que é sucuri e a jiboia, por exemplo, há uma curiosidade de que as fêmeas podem guardar os espermas recebidos em uma espécie de câmara chamada espermateca por um tempo longo, até quando achar que o ambiente está propício para ter os filhotes”, explica Pessoa.
A partir daí, a fêmea libera para que o esperma com os espermatozoides passem para dentro do ovário e fecunde os óvulos. O tempo de gestação pode ser de três a quatro meses.
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