19 de novembro de 2024

Após 110 anos, antas retornam de forma espontânea às matas do Rio de Janeiro


Família vista no Parque Cunhambebe renova esperanças ecológicas para a região. Após 110 anos da extinção das antas no estado do Rio de Janeiro, uma família da espécie foi avistada no Parque Estadual do Cunhambebe
INEA/RJ
Uma cena emocionante na Mata Atlântica reacendeu as esperanças para a conservação da biodiversidade no Brasil. Após 110 anos da extinção das antas (Tapirus terrestris) no estado do Rio de Janeiro, uma família da espécie foi avistada no Parque Estadual do Cunhambebe, na Costa Verde.
De acordo com o biólogo Marcelo Cupello, do Instituto Estadual do Ambiente (INEA-RJ), órgão responsável pela gestão do parque, foi registrado uma média de quatro animais, mas pegadas e rastros indicam que há mais indivíduos (veja vídeo).
Após 110 Anos, antas retornam de forma espontânea às matas do Rio de Janeiro
“O retorno espontâneo das antas é um sinal de que as matas fluminenses têm condições de sustentar grandes mamíferos novamente. Isso demonstra uma conectividade ecológica funcional, pois estes animais estão usando corredores florestais naturais. Ou seja, a fauna local ainda mantém certa capacidade de movimento e dispersão”, explica.
Além disso, o pesquisador observa que as condições do habitat, como oferta de alimento, água e refúgio, parecem estar se tornando mais favoráveis, mesmo sem intervenções diretas.
Enquanto no Cunhambebe a origem das antas ainda é um mistério, na Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA), em Cachoeiras de Macacu, um projeto pioneiro de reintrodução já rendeu frutos.
Desde 2017, sete antas foram soltas na região, e a população já alcança 20 indivíduos, com sete filhotes nascidos na reserva.
Retorno espontâneo das antas é um sinal de que as matas fluminenses têm condições de sustentar grandes mamíferos novamente
INEA/RJ
“Esses dois processos – reintrodução planejada e retorno espontâneo – são complementares e altamente positivos para a conservação da das antas no Estado do Rio de Janeiro. A volta natural evidencia a importância de proteger e restaurar habitats, enquanto que o projeto mostra o valor das intervenções planejadas na recuperação de espécies localmente extintas”, reforça Marcelo.
‘Jardineiras da floresta’
Conhecidas como “jardineiras da floresta”, as antas desempenham um papel essencial no equilíbrio ecológico. Por meio de sua dieta rica em frutos, elas dispersam sementes por grandes áreas, inclusive em locais degradados, promovendo a regeneração da vegetação nativa.
“A digestão das antas facilita a germinação das sementes, criando oportunidades para o crescimento de novas plantas e para a recuperação natural do ecossistema”, destaca Marcelo.
Conhecidas como “jardineiras da floresta”, as antas desempenham um papel essencial no equilíbrio ecológico
Alan Dahl / iNaturalist
No Parque Estadual do Cunhambebe, a presença das antas é especialmente valiosa, considerando os desafios de fragmentação de habitats e recuperação de áreas degradadas.
Segundo o biólogo, tudo indica que a família de antas do Cunhambebe tenha vindo do Parque Estadual da Serra do Mar, em São Paulo, onde já se tem uma população razoável da espécie. Entretanto, as análises genéticas vão ajudar a concretizar a origem dos animais, guiando futuros esforços de manejo populacional e reforço genético.
Educação ambiental e envolvimento comunitário
O sucesso em longo prazo da conservação das antas depende também do engajamento das comunidades locais e visitantes. No Parque Cunhambebe, a equipe de conservação planeja programas de educação ambiental, palestras, oficinas e materiais educativos que conectem as pessoas à biodiversidade.
“Transformar a anta em um símbolo da biodiversidade e do orgulho local pode fazer com que a comunidade se torne parte ativa na fiscalização e preservação da espécie”, enfatiza Marcelo.
O retorno das antas não é apenas um marco ecológico, mas também uma inspiração para os esforços de conservação na Mata Atlântica.
“A restauração de habitats e o manejo de populações são passos fundamentais para transformar essa espécie em um símbolo de recuperação ambiental no Rio de Janeiro”, finaliza o biólogo.
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