A Argentina se tornou uma dor de cabeça na negociação da declaração final que será assinada pelos chefes de Estado no Rio, na semana que vem. Donald Trump e Javier Milei se cumprimentam durante evento de gala na propriedade do presidente eleito dos EUA, em Mar-a-Lago, na Flórida
Carlos Barria/Reuters
O governo de Javier Milei não só está resistindo a menção no texto final sobre a tributação dos super-ricos, como quer retroagir nos termos usados no texto assinado em outubro, em Washington, pelos ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais.
A taxação dos super-ricos é um dos pontos fundamentais da agenda brasileira, que lidera o encontro no Rio. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já se manifestou a favor da pauta, e o blog revelou nesta semana que o presidente Lula quer avançar no assunto, até como forma de amenizar o impacto do ajuste fiscal. A ideia é fortalecer o discurso de que todos vão ter de colaborar com o ajuste fiscal, inclusive os milionários, por meio de uma tributação maior.
Além da taxação dos super-ricos, a Argentina também está ameaçando barrar manifestações específicas na declaração sobre gênero e, é claro, meio ambiente. Milei é um negacionista climático e retirou a delegação do país da COP29, encontro desta semana para discutir clima no Azerbaijão. Além disso, os argentinos se recusaram a assinar, em outubro, um texto negociado entre ministros sobre igualdade de gênero.
A resistência dos argentinos cresceu nestes últimos dois dias nos encontros que vem sendo tocados pelos negociadores do país. Ocorre também no momento em que Donald Trump venceu a eleição nos Estados Unidos, dando força à agenda extremista de Milei.
Nesta quinta-feira (14), Milei se encontrou com Trump em um jantar de gala organizado em Mar-a-Lago, na Flórida, para comemorar a vitória do republicano. O mandatário argentino foi o primeiro líder estrangeiro a se encontrar com Trump.
De olho na guinada da agenda internacional, Milei demitiu a chanceler Diana Mondino e colocou no lugar Gerardo Werthein, embaixador nos Estados Unidos.
Para a declaração final do G20 sair, a Argentina precisa concordar com os termos – ou se opor ao conteúdo e não assinar.
O texto aprovado em outubro, em Washington, por todos os ministros da Fazenda e presidentes de banco central do G20, mencionava a taxação dos super-ricos.
“Continuaremos a trabalhar juntos em direção a um sistema tributário internacional mais justo, inclusivo, estável e eficiente, adequado ao século XXI, reafirmando nosso compromisso com a transparência tributária e fomentando o diálogo global sobre tributação efetiva, incluindo de indivíduos com patrimônio líquido ultra-alto, entre outras questões”, afirmaram no texto. “Com total respeito à soberania tributária, esperamos discutir áreas potenciais de cooperação para garantir que indivíduos com patrimônio líquido ultra-alto sejam efetivamente tributados.”