g1 fez uma linha do tempo com todos os desdobramentos do duplo homicídio ocorrido em 2022 no Vale do Javari, no estado do Amazonas Protesto após desaparecimento de Bruno e Dom
Reuters/Ueslei Marcelino
Pouco mais de dois anos após os assassinatos do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, a Polícia Federal (PF) encaminhou à Justiça, na última sexta-feira (1º), o documento onde indicia Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como Colômbia, como mandante do duplo homicídio. Além dele, outras oito pessoas foram indiciadas.
Bruno e Dom desapareceram quando faziam uma expedição na Amazônia, na terra indígena do Vale do Javari, localizada no Amazonas. Eles foram vistos pela última vez em 5 de junho, quando passavam em uma embarcação pela comunidade de São Rafael. De lá, seguiriam para o munícipio de Atalaia do Norte.
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Relembre a cronologia do caso
Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips se encontram no dia 1º de junho de 2022, em Atalaia do Norte, perto da fronteira com o Peru, onde são comuns invasões de terras feitas por madeireiros e garimpeiros.
O indigenista chegou ao local algumas semanas antes do encontro com Dom. O objetivo era fazer reuniões em cinco aldeias sobre a proteção dos territórios, enquanto o jornalista pretendia fazer entrevistas com lideranças indígenas e ribeirinhos para um novo livro, chamado “Como Salvar a Amazônia?”.
No dia 5 de junho, com a expedição praticamente concluída, Bruno e Dom começam a subir o Rio Itaquaí, no caminho de volta para Atalaia do Norte.
Os dois fizeram uma parada na comunidade ribeirinha São Rafael, para visitar um líder comunitário conhecido como Churrasco. Bruno já tinha marcado um encontro com ele para falar sobre a vigilância que ribeirinhos e indígenas estavam fazendo na região contra invasores.
Eles chegaram ao local por volta das 6h, mas o líder comunitário não estava. Bruno e Dom conversaram com a esposa dele. Depois, saíram em uma embarcação com destino a Atalaia do Norte— foi a última vez que foram vistos com vida.
Horas mais tarde, os próprios indígenas denunciaram o desaparecimento da dupla à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Naquela tarde, duas equipes da organização fizeram duas expedições de buscas, mas nada foi encontrado.
Buscas por Dom Phillips e Bruno Pereira, na Amazônia, na segunda-feira (13).
REUTERS/Bruno Kelly
Vale do Javari: 2ª maior terra indígena do país tem histórico de assassinato de agente da Funai e é palco de conflitos típicos da Amazônia
No dia 7 de Junho, a força-tarefa retoma as buscas pelos desaparecidos no rio. O então ministro da Justiça, Anderson Torres, usa uma rede social para dizer que a Funai, a Polícia Federal, as Forças Armadas e a Força Nacional estão envolvidas nos esforços.
A Marinha colocou um helicóptero, duas embarcações e uma moto aquática para percorrerem o Vale do Javari. Além disso, o governo do Amazonas enviou policiais e uma equipe de mergulhadores ao local.
Neste mesmo dia, Eliésio Marubo, assessor jurídico da Univaja, diz que autoridades ignoraram informações sobre suspeitos que ameaçaram Bruno Pereira.
Bruno Pereira alertou que recebeu ameaças em abril deste ano, diz MPF
No dia 8 de junho, a polícia prende o primeiro suspeito de envolvimento no desaparecimento de Bruno e Dom. O pescador Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado, teria feito ameaças a indígenas que participavam das buscas. Ele nega as acusações.
Suspeito foi preso por envolvimento no desaparecimento de Dom Philips e Bruno Pereira
Reprodução/TV Globo
Em 9 de junho, vestígios de sangue são encontrados na lancha usada por Amarildo, o suspeito preso. A polícia ainda não sabia se era sangue humano ou não.
Além disso, a TV Globo tem acesso a documentos que mostram que a Funai foi comunicada e autorizou a entrada de Bruno Pereira no Vale do Javari entre os dias 17 e 30 de maio. Ele entrou, sem Dom Phillips, no dia 21. A equipe incluía um representante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e o presidente de uma associação de moradores da região.
Lancha usada passou por perícia da PF
Henrique Filho/ Rede Amazônica
No dia 12 de junho, equipes de buscas encontram um cartão de saúde com nome de Bruno Pereira e outros itens dele e de Dom Phillips. Durante a tarde, os bombeiros disseram ter recuperado uma mochila, um notebook e um par de sandálias na área onde são feitas as buscas pelo jornalista inglês e pelo indigenista no interior do Amazonas.
Segundo a PF, foram encontrados:
um cartão de saúde em nome de Bruno Pereira;
uma calça preta de Bruno;
um chinelo preto de Bruno;
um par de botas de Bruno;
um par de botas de Dom Phillips;
uma mochila de Dom contendo roupas pessoais.
Polícia Federal leva um dos suspeitos para local de buscas por Bruno Pereira e Dom Philips na Amazônia.
REUTERS/Bruno Kelly
Em 14 de junho, o segundo suspeito, Oseney da Costa de Oliveira, de 41 anos, conhecido como “Dos Santos”, é preso temporariamente. Ele é irmão de Amarildo da Costa de Oliveira, que já estava preso no município de Atalaia do Norte.
No dia 15 de junho, a Polícia Federal leva Pelado ao local onde teriam desaparecido Bruno e Dom. A região é a mesma em que objetos da dupla foram localizados dias antes.
Segundo a PF, Amarildo afirmou que Bruno e Dom foram assassinados e apontou a localização dos corpos, que teriam sido esquartejados, queimados e enterrados. Durante escavações, equipes encontraram “remanescentes humanos”, de acordo com Eduardo Alexandre Fontes, chefe da PF no Amazonas. O material recolhido será enviado à perícia para identificação.
Restos mortais foram encontrados no local inficado
Reprodução
No dia 8 de julho, a Polícia Federal prendeu, na quinta-feira (8), o peruano Rubens Villar Coelho, conhecido como Colômbia, suspeito de ser o mandante dos homicídios do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips
Colômbia foi detido em flagrante por uso de documentos falsos ao ser ouvido na delegacia de Tabatinga sobre suposta participação nos homicídios. Ele negou envolvimento com o crime.
Apesar de negar participação nos assassinatos, uma das linhas de investigação da PF é de que Colômbia, que também seria um traficante de drogas, compra pescado ilegal de criminosos da região
PF prende mais um suspeito de envolvimento na morte de Bruno e Dom
Em 22 de julho, O juiz federal Adriano Verli, da Vara Federal Cível e Criminal de Tabatinga (AM), aceitou a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) e tornou réus três homens investigados pelos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips.
Os três foram presos, em decorrência das investigações. O MPF entende que eles devem ser julgados por duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver.
No documento enviado à Justiça, o MPF argumenta que Amarildo e Jefferson confessaram o crime. Diz ainda que a participação de Oseney foi mencionada em depoimentos de testemunhas.
No dia 3 de Março de 2023, a Justiça Federal de Tabatinga, interior do Amazonas, decidiu levar Amarildo da Costa Oliveira e outros dois réus a júri popular pelos assassinatos.
A decisão de levar os réus a júri popular foi assinada pelo Juiz federal Weldeson Pereira, da Comarca de Tabatinga.
“Uma vez tendo respondido ao processo até aqui encarcerados e porque persistem os motivos ensejadores da sua prisão preventiva, não há motivo para colocação dos réus em liberdade. Justamente quando são pronunciados, afigura-se ainda mais necessária a manutenção da custódia cautelar”, destacou o juiz.
Amarildo da Costa de Oliveira, Oseney da Costa de Oliveira e Jefferson da Silva Lima
Rede Amazônica
Em 22 de junho de 2024, a Justiça Federal no Amazonas aceitou uma denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra seis pescadores que usaram um menor de idade para ajudar a ocultar os cadáveres de Bruno Pereira e Dom Phillips
No dia 17 de setembro de 2024, a 4ª Turma do Tribunal Regional Federal julgou os recursos dos réus acusados do assassinato , para tentar evitar o júri popular. Ainda na mesma comarca os réus tentaram a absolvição contra a chamada sentença de pronúncia – quando a Justiça decide que os acusados deverão ser submetidos ao Tribunal do Júri.
Nos recursos, as defesas pedem a absolvição dos réus. Os advogados de Amarildo e Jefferson alegam que eles agiram em legítima defesa. Já Oseney alegou que não participou dos fatos.
No dia 4 de Novembro de 2024, a Polícia Federal indiciou Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como Colômbia, como mandante dos assassinatos do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, ocorridos no Vale do Javari, no Amazonas.
Colômbia está preso desde dezembro daquele ano, seis meses após o início das investigações, e também é investigado por pesca ilegal e tráfico de drogas.
PF indicia ‘Colômbia’ como mandante das mortes de Bruno e Dom