4 de outubro de 2024

Três meses após tragédia ambiental, 95 mil peixes são soltos no Rio Piracicaba

Despejo de poluente matou 235 mil peixes no corpo d’água, a maioria em área de preservação. Após três meses, começam trabalhos de repovoamento de peixes no Rio Piracicaba
A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Meio Ambiente (Simap) de Piracicaba fez a soltura de 95 mil alevinos de pacu-guaçu juvenis no Rio Piracicaba na região de Santa Maria da Serra (SP) nesta sexta-feira (4).
A liberação dos peixes alevinos, recém-saídos dos ovos ocorre em área do condomínio Tamanduá, em Santa Maria da Serra, três meses após o desastre ambiental que atingiu o rio Piracicaba e a região alagada de preservação ambiental do Tanquã.
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Escolha da região
A região de Santa Maria da Serra foi escolhida, segundo as equipes de trabalho, devido a boa qualidade da água atestada no trecho para receber os novos peixes. Em outros pontos do Rio Piracicaba, a condição ainda é de recuperação após despejo irregular que causou a mortandade de toneladas de animais no manancial em julho deste ano.
A soltura é feita em parceira da AES Brasil. De acordo com o a instituição, o local é um dos pontos autorizados pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente para a ação e apresenta boas condições ambientais para a sobrevivência dos alevinos para contribuir com o repovoamento do Piracicaba.
Espécie
O pacu-guaçu é um peixe nativo da bacia do rio Piracicaba e pode chegar a 20 quilos. A espécie, segundo o biólogo Silvio Carlos, é migratória e já esteve entre a lista de peixes ameaçados do extinção na região de Piracicaba.
Incialmente, a previsão era que fossem soltos 65 alevinos, peixes juvenis, mas depois as equipes responsáveis decidiram aumentar o número para 95 mil.
60 mil alevinos serão soltos no Rio Piracicaba
Prefeitura de Piracicaba/CCS
Crime ambiental
A mortandade de toneladas de peixes ocorreu em julho deste ano, após descarte de resíduos da cana-de-açúcar pela Usina São José, de Rio das Pedras, que foi multada pela Cetesb em R$ R$ 18 milhões. -Veja detalhes sobre o ocorrido no final da reportagem.
Com a morte de toneladas de peixes, que ficaram parados nas margens do Piracicaba e nas ilhas de vegetação do Tanquã, a Prefeitura deu início a uma operação emergencial para retirada desses peixes, o que evitou um desastre ainda maior.
A soltura de alevinos tem, ainda, como parceiros o Instituto Beira Rio, SOS Rio Piracicaba, Remo Piracicaba, Escoteiros São Mário, Ascapi (Associação de Canoagem de Piracicaba), Pira no Ploogin, Aperp (Associação dos Pescadores Esportivos do Rio Piracicaba), Na Pegada Ambiental, Cecília Hadadd, Unipira, Ama Nova Piracicaba e Prefeitura de Santa Maria da Serra.
Depois da mortandade: Veja relatos de moradores
No local que serve de lar para mais de 300 espécies de plantas e de 435 espécies de animais, a natureza se impõe e a vegetação se mistura em meio aos rios e lagos em uma paisagem única, formando o “minipantanal paulista”. A Área de Proteção Ambiental (APA) Tanquã-Rio Piracicaba é um santuário da biodiversidade e da conservação de uso sustentável.
A pequena vila que existe no paraíso escondido no interior do estado é lar de 50 pessoas, que tiram seu sustento da pesca ou da produção local no Tanquã. A área é formada na foz do Rio Piracicaba, quando ele chega no Rio Tietê, no início do reservatório formado pela barragem de Barra Bonita.
Em mais uma reportagem especial de comemoração dos 45 anos de EPTV, afiliada da TV Globo, a equipe esteve no minipantanal paulista para conversar com moradores e mostrar como tem sido o processo de recuperação após a maior tragédia ambiental que atingiu a região, em julho, e sobre a ligação dos habitantes da pequena vila com a natureza e a preservação.
Antonio Pires é morador do Tanquã e trabalha com sua produção local de leite
Reprodução/EPTV
Produtor de leite 🐄
O sol acaba de surgir, dando início ao dia. Antonio Pires, o Seu Antonio, também já está de pé, se preparado para começar as tarefas. O produtor local começa a primeira atividade, cuidando dos bezerros e das vacas.
Depois de deixar os filhotes se alimentarem com as mães, é hora de tirar o leite. Mas a produção tem sido fraca, diz o produtor. “Muito pouco. Uns dois litros, acho. O pasto está fraco”, explica.
Importância da notícia no campo
EPTV 45 anos: produtores locais têm o auxilio da previsão do tempo para melhorar o cultivo
A falta de chuvas e a seca tem causado o enfraquecimento da vegetação e do pasto, afetando a alimentação e produção de leite das vacas.
Ele conta ao repórter que, para quem mora no campo, afastado da cidade, assim como ele, é muito importante poder se manter informado por meio da televisão.
Depois de tirar o leite das vacas, o produtor faz uma filtragem do líquido, que será usado para produção de queijo. A próxima tarefa é conferir se as galinhas, que vivem soltas pela propriedade, botaram ovos.
Para finalizar a manhã, é a vez de cuidar dos porcos, que são alimentados com milho. Em meio às tarefas do seu dia, Seu Antonio arruma um tempinho para poder conferir os telejornais da EPTV e se manter informado sobre o que tem ocorrido na região.
Depois de se despedir, o produtor prepara seu cavalo para montaria. É preciso dar continuidade aos trabalhos e a próxima parada é o pasto. Ele segue a cavalgada em meio à paisagem privilegiada do Tanquã para finalizar o dia.
Seu Antonio finaliza a manhã assistindo aos telejornais da EPTV, e depois segue para o cuidado do pasto
Reprodução/EPTV
Ligação com a natureza e preservação 🌱
O pequeno grupo de pessoas que vive no Tanquã leva uma vida diferente da população de centros urbanos. Nilson Abrahão, o “Alemão”, vive há 30 anos na área de proteção e, para ele, é uma oportunidade única.
“É um privilégio, porque a gente é nascido e criado na cidade e, quando a gente veio pra cá conhecer a natureza de perto, é morar no paraíso. Não consigo explicar isso com palavras, é uma emoção tão grande que não tem como explicar”, relata.
A tragédia que atingiu a área do Tanquã em julho afetou fauna e flora e os moradores da região, mas Nilson ressalta a capacidade de resistência do ecossistema.
“A natureza é maravilhosa, ela não deixa nada pra depois. O homem tenta destruir, mas a natureza dá seu jeitinho e se recupera”, finaliza o morador.
APA Tanquã-Rio Piracicaba
Governo do Estado de São Paulo
A vila do Tanquã 🛖
Fundada há cerca de 50 anos, o bairro do Tanquã mantém as raízes familiares e de conexão com a natureza. O pescador Adilson Evangelista, filho do fundador, vive até hoje no local.
Ele conta que seu pai o ensinou muito sobre o lugar, em especial sobre a necessidade de preservar a fauna e a flora. Vendo o desastre pelo qual a área passou, o pescador frisa que a situação tem sido complicada. “Tá muito difícil recuperar. Eu acho que vai uns 10 anos, no mínimo.”
Mas a intervenção do homem não muda a admiração e o amor pelo lugar onde cresceu e hoje cria seus filhos, cercados pela natureza e pelo cenário paradisíaco.
“Me sinto privilegiado de morar em um lugar como esse. Criança você pode criar solta, é uma maravilha. É uma satisfação”, agradece o pescador.
Desastre ambiental em julho
Peixes mortos na APA do Tanquã, em São Pedro
Jefferson Souza/ EPTV
Em julho deste ano, a maior mortandade de peixes já registrada no Rio Piracicaba, que chegou até a Área de Proteção Ambiental (APA) do Tanquã, no interior de São Paulo, matou cerca de 253 mil peixes em um trecho de 70 quilômetros.
O dano ambiental gerou uma multa de R$ 18 milhões à Usina São José, de Rio das Pedras (SP), apontada pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) como a origem da poluição que gerou as mortes dos animais.
O Ministério Público e Polícia Civil também investigam o caso e a empresa diz que não foi comprovada a responsabilidade dela.
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